OS DIABINHOS DA
NATUREZA HUMANA
Não se constrói moralidade
pública de uma hora para outra à custa de uma enxurrada de prisões . Por outro
lado a moralidade jamais se construirá enquanto houver a impunidade. Entre a crença absoluta na eficácia única da
repressão, e a conivente tolerância com o peculato, há que se imaginar a alternativa, talvez utópica, de estruturas
institucionais sólidas, sustentadas por um sentimento coletivo de respeito à
coisa pública. Esse respeito deve existir, por exemplo, tanto em relação aos
cofres antes recheados e hoje esvaziados da PETROBRAS, como, igualmente, a
qualquer bem publico , desde uma simples
carteira da escola estatal que é riscada, depredada, e também evitando-se as
pequenas faltas, as malandragens miúdas do dia a dia, neste país onde o
empresariado que tanto reclama dos políticos nos faz recordistas em sonegação
fiscal. Esse respeito inclui ainda o
servidor público pago pelo povo, que faz
corpo mole e não quer trabalhar, enfim, há uma infinidade de faltas pequeninas, de transgressões aparentemente irrelevantes, que, de tão generalizadas, chegam a formar
uma disseminada cultura de banalização do delito.
Escritores que ficaram
célebres pelo discurso ufanista sobre o Brasil, exaltaram a natureza, as matas,
os rios, o céu de estrelas, a nudez apetitosa das índias, as ancas suntuosas das
efervescentes mulatas, a alegria, a
cordialidade do povo , nenhum deles se aventurou porém, a falar sobre a incorruptibilidade da
gente brasileira. Até porque não seria justo se o fizesse. Não somos mais nem menos corruptos do que os
outros povos, à exceção de uns poucos que figuram no topo do ranking daqueles
que não seriam seduzidos pelas grandes
ou pequenas tentações patrimoniais, como afirmam ser o caso dos finlandeses,
dos suecos, ou dinamarqueses, que, entre
outras virtudes, entram no transporte público e pagam a passagem sem a necessidade do cobrador, usando quase sempre
o cartão pré-pago, Mas não se diz que há uma rigorosa vigilância eletrônica e
pesadíssimas multas aplicadas aos eventuais transgressores. E eles vez por
outra são flagrados.
Enfim, o que precisamos é de
tempo, de tempo para maturar novos hábitos, novas concepções, também a idéia de
civismo, de responsabilidade social, da
Justiça sendo feita sem o acompanhamento pressuroso dos holofotes da fama.
Natureza humana é algo complicado, e nela, tanto em se tratando de suecos como
de brasileiros existe aquela legião de diabinhos tentadores nos insinuando a transgressão, a sedução do proibido, a
vantagem do ilícito.
Não há juiz Sérgio Moro que
possa à custa de penadas exorcisar esses
diabinhos, até porque não ha exorcistas inteiramente imunes ao contágio dos capetas que povoam aquela coisa indevassável e cheia
de surpresas que se chama natureza humana. E os efeitos das suas infindáveis
armações se fazem sentir na vaidade, ou,
no que é ainda pior : aquele sentimento de missão um tanto fanático dos que se
imaginam salvadores da pátria. E a curto prazo.
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