sábado, 20 de fevereiro de 2016

OS DIABINHOS DA NATUREZA HUMANA



OS DIABINHOS   DA
NATUREZA HUMANA
Não se constrói moralidade pública de uma hora para outra à custa de uma enxurrada de prisões . Por outro lado a moralidade jamais se construirá enquanto houver a impunidade.  Entre a crença absoluta na eficácia única da repressão, e a conivente tolerância com o peculato, há que se imaginar  a alternativa, talvez utópica, de estruturas institucionais sólidas, sustentadas por um sentimento coletivo de respeito à coisa pública. Esse respeito deve existir, por exemplo, tanto em relação aos cofres antes recheados e hoje esvaziados da PETROBRAS, como, igualmente, a qualquer bem publico , desde  uma simples carteira da escola estatal que é riscada, depredada, e também evitando-se as pequenas faltas, as malandragens miúdas do dia a dia, neste país onde o empresariado que tanto reclama dos políticos nos faz recordistas em sonegação fiscal.  Esse respeito inclui ainda o servidor público  pago pelo povo, que faz corpo mole e não quer trabalhar, enfim, há uma infinidade de faltas pequeninas,  de transgressões aparentemente irrelevantes,  que, de tão generalizadas, chegam a formar uma  disseminada cultura  de banalização do delito.
Escritores que ficaram célebres pelo discurso ufanista sobre o Brasil, exaltaram a natureza, as matas, os rios, o céu de estrelas,  a nudez  apetitosa das índias, as ancas suntuosas das efervescentes mulatas,  a alegria, a cordialidade do povo , nenhum deles se aventurou  porém, a falar sobre a incorruptibilidade da gente brasileira. Até porque não seria justo se o fizesse.  Não somos mais nem menos corruptos do que os outros povos, à exceção de uns poucos que figuram no topo do ranking daqueles que não  seriam seduzidos pelas grandes ou pequenas tentações patrimoniais, como afirmam ser o caso dos finlandeses, dos suecos, ou dinamarqueses, que,  entre outras virtudes, entram no transporte público e pagam a passagem sem  a necessidade do cobrador, usando quase sempre o cartão pré-pago, Mas não se diz que há uma rigorosa vigilância eletrônica e pesadíssimas multas aplicadas aos eventuais transgressores. E eles vez por outra são flagrados.
Enfim, o que precisamos é de tempo, de tempo para maturar novos hábitos, novas concepções, também a idéia de civismo, de responsabilidade social,  da Justiça sendo feita sem o acompanhamento pressuroso dos holofotes da fama.
 Natureza humana é algo complicado,  e nela, tanto em se tratando de suecos como de brasileiros existe aquela legião de diabinhos tentadores  nos insinuando  a transgressão, a sedução do proibido, a vantagem do ilícito.
Não há juiz Sérgio Moro que possa  à custa de penadas exorcisar esses diabinhos, até porque não ha exorcistas inteiramente imunes   ao contágio dos capetas  que povoam aquela coisa indevassável e cheia de surpresas que se chama natureza humana. E os efeitos das suas infindáveis armações  se fazem sentir na vaidade, ou, no que é ainda pior : aquele sentimento de missão um tanto fanático dos que se imaginam salvadores   da pátria. E a curto   prazo.

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