sábado, 13 de fevereiro de 2016

O PAÍS ONDE PARTIDOS VIRARAM MERCADORIAS



O PAÍS ONDE PARTIDOS
 VIRARAM MERCADORIAS
Que país é esse onde partidos políticos se  tornaram objeto de compra e venda? Onde já se viu algo  que deveria ser respeitável, exemplar, transformar-se em mercadoria aviltada lançada em leilão para quem por ela pagar mais ? O país onde tudo isso acontece é o Brasil e os trastes colocados à venda são os partidos políticos, dezenas deles, resultantes dessa safra espúria e vergonhosa que o  Supremo Tribunal Federal reconheceu como  acessórios indispensáveis numa democracia  representativa. Seriam, os partidos, aqueles amplos espaços  de participação reservados a todos os que defendem idéias, princípios, sistemas, projetos, para, neles, terem  voz e vez no cenário político.
A teoria é excelente a prática  desastrosa.
Se alguém tiver a disposição ou a pachorra para gastar tempo lendo os programas partidários, logo chegará à desoladora conclusão de que quase todos são  como se fossem cópias  à Xerox um dos outros.  Iguais   em quase tudo. Defendem com vigor a democracia,  exaltam a liberdade, a soberania popular, querem uma sociedade justa, o pleno emprego, almejam a felicidade geral, preconizam, solenemente, o respeito absoluto à coisa pública.
E várias vezes ao ano lá estão os donos dos partidos,  os filiados que conquistaram mandatos, aparecendo nas televisões falando nas emissoras de rádio exaltando as virtudes de cada sigla. Geralmente não defendem idéias, até porque delas são órfãos, mas, são sempre loquazes, bem maquiados, repetindo o mesmíssimo discurso, tão vazio quanto enfadonho e inútil.  No país dos  trinta e tantos partidos, cada um deles é disputado  a golpes de reais, ou dólares. Os nanicos, como são chamados aqueles invariavelmente criados por picaretas (evidentemente com virtuosas exceções ) para com eles fazerem negócios, servem para formar as coligações, para garantir espaço no rádio e televisão. E alguns  dispõem de um nutrido fundo partidário, de onde sempre sobram trocados para os bolsos dos seus  ¨ líderes  ¨.
Quando o Congresso Nacional (num daqueles momentos raros em que o interesse público se sobrepôs às miudezas da nossa política chinfrim) resolveu criar a cláusula de barreira para impedir a invasão, logo, correram céleres ao STF alegando que a democracia fora ferida, e o STF, célere, o que é incomum,  encontrou a brecha para a alegação de que, além da democracia, feriram também a Constituição. E ai tome partido a ser criado, tome espaço no rádio e televisão ocupado por espertos malandros que fazem da política um negócio rendoso. 
Sem dizer assim tão incisivamente como podem e devem dizer jornalistas, o  moderado e experiente senador Antonio Carlos Valadares fez, ao reiniciarem-se os trabalhos legislativos, um consistente e oportuno pronunciamento sobre a questão da multiplicidade de partidos. O discurso abordou a necessidade urgente da reforma política  a ser debatida e encaminhada através do seu canal próprio, que é o Congresso Nacional, que não deve ausentar-se de temas que são da sua exclusiva competência. O Poder Judiciário tem  , -observou o senador Valadares-  se ocupado de questões que deveriam ter sido tempestivamente analisadas pelo Congresso . Mas  em vez de um embate entre poderes o que se deve agora fazer é revitalizar a ação congressual,  paralelamente ao diálogo com o Judiciário.  Para o senador Valadares não se fará reforma política enquanto a democracia não se fortalecer através de partidos que expressem  , de fato, as tendências da sociedade. A  multiplicação de legendas só contribuiu para o enfraquecimento geral dos partidos , o descrédito e a banalização da atividade política.
Para que se tenha uma idéia de como  são nefastas e atentatórias à dignidade da política essas siglas que surgem, numerosas como o parir de coelhas, basta lembrar que o homem de negócios Edivan Amorim gabava-se de ter sob seu absoluto controle um suntuoso leque de onze partidos que a ele prestavam reverencia e  submissão.

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