O
PAÍS ONDE PARTIDOS
VIRARAM MERCADORIAS
Que
país é esse onde partidos políticos se
tornaram objeto de compra e venda? Onde já se viu algo que deveria ser respeitável, exemplar,
transformar-se em mercadoria aviltada lançada em leilão para quem por ela pagar
mais ? O país onde tudo isso acontece é o Brasil e os trastes colocados à venda
são os partidos políticos, dezenas deles, resultantes dessa safra espúria e
vergonhosa que o Supremo Tribunal
Federal reconheceu como acessórios
indispensáveis numa democracia representativa. Seriam, os partidos, aqueles
amplos espaços de participação
reservados a todos os que defendem idéias, princípios, sistemas, projetos,
para, neles, terem voz e vez no cenário
político.
A
teoria é excelente a prática desastrosa.
Se
alguém tiver a disposição ou a pachorra para gastar tempo lendo os programas
partidários, logo chegará à desoladora conclusão de que quase todos são como se fossem cópias à Xerox um dos outros. Iguais em quase tudo. Defendem com vigor a
democracia, exaltam a liberdade, a
soberania popular, querem uma sociedade justa, o pleno emprego, almejam a
felicidade geral, preconizam, solenemente, o respeito absoluto à coisa pública.
E
várias vezes ao ano lá estão os donos dos partidos, os filiados que conquistaram mandatos,
aparecendo nas televisões falando nas emissoras de rádio exaltando as virtudes
de cada sigla. Geralmente não defendem idéias, até porque delas são órfãos, mas,
são sempre loquazes, bem maquiados, repetindo o mesmíssimo discurso, tão vazio
quanto enfadonho e inútil. No país
dos trinta e tantos partidos, cada um
deles é disputado a golpes de reais, ou
dólares. Os nanicos, como são chamados aqueles invariavelmente criados por
picaretas (evidentemente com virtuosas exceções ) para com eles fazerem negócios,
servem para formar as coligações, para garantir espaço no rádio e televisão. E
alguns dispõem de um nutrido fundo
partidário, de onde sempre sobram trocados para os bolsos dos seus ¨ líderes
¨.
Quando
o Congresso Nacional (num daqueles momentos raros em que o interesse público se
sobrepôs às miudezas da nossa política chinfrim) resolveu criar a cláusula de
barreira para impedir a invasão, logo, correram céleres ao STF alegando que a
democracia fora ferida, e o STF, célere, o que é incomum, encontrou a brecha para a alegação de que,
além da democracia, feriram também a Constituição. E ai tome partido a ser criado,
tome espaço no rádio e televisão ocupado por espertos malandros que fazem da
política um negócio rendoso.
Sem
dizer assim tão incisivamente como podem e devem dizer jornalistas, o moderado e experiente senador Antonio Carlos
Valadares fez, ao reiniciarem-se os trabalhos legislativos, um consistente e
oportuno pronunciamento sobre a questão da multiplicidade de partidos. O discurso
abordou a necessidade urgente da reforma política a ser debatida e encaminhada através do seu
canal próprio, que é o Congresso Nacional, que não deve ausentar-se de temas
que são da sua exclusiva competência. O Poder Judiciário tem , -observou o senador Valadares- se ocupado de questões que deveriam ter sido
tempestivamente analisadas pelo Congresso . Mas em vez de um embate entre poderes o que se
deve agora fazer é revitalizar a ação congressual, paralelamente ao diálogo com o
Judiciário. Para o senador Valadares não
se fará reforma política enquanto a democracia não se fortalecer através de
partidos que expressem , de fato, as
tendências da sociedade. A multiplicação
de legendas só contribuiu para o enfraquecimento geral dos partidos , o descrédito
e a banalização da atividade política.
Para
que se tenha uma idéia de como são
nefastas e atentatórias à dignidade da política essas siglas que surgem,
numerosas como o parir de coelhas, basta lembrar que o homem de negócios Edivan
Amorim gabava-se de ter sob seu absoluto controle um suntuoso leque de onze
partidos que a ele prestavam reverencia e submissão.
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