sábado, 23 de janeiro de 2016

A REPÚBLICA E AS MANSÕES DO LAGO



A  REPÚBLICA   E   AS
MANSÕES  DO LAGO
A nossa República nunca foi aquilo que os romanos  desenharam ,  sem todavia transformar  em projeto efetivo. A ¨res – pública ¨ ( coisa pública )  na Roma dos senadores, era uma espécie de Petrobrás socializada, entre eles mesmos. A república brasileira tem sido uma contrafação do ideal republicano, e aqui  , o seu nome quase nunca é pronunciado, ou escrito. Os franceses referem-se orgulhosamente à República, talvez por terem sido pioneiros na aplicação prática do pretendido significado do termo,  com a convicção adquirida, entre outras coisas, pelo sangrento enfrentamento à coalizão dos monarcas europeus, todos sentindo-se ultrajados e ameaçados, ao rolarem no cadafalso as cabeças dos  primos  Luiz XVI,   e Maria Antonieta, casados por considerações políticas para unir  Bourbons e Habsburgos,    as duas grandes Casas reais da Europa.    O sangue azul fora lambido pelos cachorros nas areias encharcadas da Place de La Revolution . Enfrentar a ira dos tronos ultrajados  custou  aos franceses muito sangue.

Aqui, a República foi um incidente resultante de coincidências pontuais. O marechal Deodoro, primeiro presidente, era monarquista, e os que o fizeram montar o cavalo baio para ir  proclamar o novo regime, apenas uns poucos, num país imenso,  onde 80 % de analfabetos não tinham a mais vaga idéia do que viria a ser uma República. Assim, o nome deixou de ser valorizado, exatamente porque, não houve nunca, entre elite e povo, a compreensão perfeita do seu virtuoso significado. A elite instalou-se na República, e dela foi fazendo um negócio privado. De  tempos em tempos uma consciência republicana surgiu , mas foi fenômeno passageiro, reação fugaz, logo subjugada.
Há quem imagine  que ações assim como a Lava a Jato  casarão o país com o sentimento republicano, mas isso é um tremendo equívoco, porque esse sentimento nunca existiu. E para formá-lo é preciso tempo, educação, cultura, e muitos bons exemplos.  Distantes do sentimento republicano não estão somente os que  ocupam a República. Distantes,  também, os que  cotidianamente  estão a negar a moralidade que eles pregam,  mas, desde que seja para os outros.   Tanto no assalto à Petrobras, como nas pequenas transgressões  ou espertezas que incorporamos ao dia a dia, o mesmo sentimento de desrespeito à coisa publica igualmente  acontece.
A ostentação de alguns que fazem do poder um instrumento de satisfação à própria vaidade, é outro mal que afronta tudo aquilo que se imagina como virtudes republicanas.
Agora,  anuncia-se que o Governo Federal vai levar à leilão as mansões do lago e outras mansões em Brasília, utilizadas com toda a desvergonha que caracteriza a maior parte dos donos do poder, ¨ donos ¨, de acordo com a caracterização deles feita por Raimundo Faoro, no livro que é um retrato deprimente dos vícios que atravessaram o Império e se acomodaram, impunemente, na desvirtuada República.
Que o republicano leilão aconteça.

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