A REPÚBLICA E AS
MANSÕES DO LAGO
A nossa República nunca foi aquilo que os romanos desenharam , sem todavia transformar em projeto efetivo. A ¨res – pública ¨ (
coisa pública ) na Roma dos senadores,
era uma espécie de Petrobrás socializada, entre eles mesmos. A república brasileira
tem sido uma contrafação do ideal republicano, e aqui , o seu nome quase nunca é pronunciado, ou
escrito. Os franceses referem-se orgulhosamente à República, talvez por terem
sido pioneiros na aplicação prática do pretendido significado do termo, com a convicção adquirida, entre outras
coisas, pelo sangrento enfrentamento à coalizão dos monarcas europeus, todos
sentindo-se ultrajados e ameaçados, ao rolarem no cadafalso as cabeças dos primos Luiz XVI, e Maria Antonieta, casados por considerações
políticas para unir Bourbons e
Habsburgos, as duas
grandes Casas reais da Europa. O
sangue azul fora lambido pelos cachorros nas areias encharcadas da Place de La
Revolution . Enfrentar a ira dos tronos ultrajados custou aos franceses muito sangue.
Aqui, a República foi um incidente resultante de
coincidências pontuais. O marechal Deodoro, primeiro presidente, era
monarquista, e os que o fizeram montar o cavalo baio para ir proclamar o novo regime, apenas uns poucos,
num país imenso, onde 80 % de
analfabetos não tinham a mais vaga idéia do que viria a ser uma República.
Assim, o nome deixou de ser valorizado, exatamente porque, não houve nunca,
entre elite e povo, a compreensão perfeita do seu virtuoso significado. A elite
instalou-se na República, e dela foi fazendo um negócio privado. De tempos em tempos uma consciência republicana
surgiu , mas foi fenômeno passageiro, reação fugaz, logo subjugada.
Há quem imagine que
ações assim como a Lava a Jato casarão o
país com o sentimento republicano, mas isso é um tremendo equívoco, porque esse
sentimento nunca existiu. E para formá-lo é preciso tempo, educação, cultura, e
muitos bons exemplos. Distantes do sentimento
republicano não estão somente os que
ocupam a República. Distantes, também, os que
cotidianamente estão a negar a
moralidade que eles pregam, mas, desde
que seja para os outros. Tanto no
assalto à Petrobras, como nas pequenas transgressões ou espertezas que incorporamos ao dia a dia, o
mesmo sentimento de desrespeito à coisa publica igualmente acontece.
A ostentação de alguns que fazem do poder um instrumento de
satisfação à própria vaidade, é outro mal que afronta tudo aquilo que se
imagina como virtudes republicanas.
Agora, anuncia-se que
o Governo Federal vai levar à leilão as mansões do lago e outras mansões em
Brasília, utilizadas com toda a desvergonha que caracteriza a maior parte dos
donos do poder, ¨ donos ¨, de acordo com a caracterização deles feita por Raimundo
Faoro, no livro que é um retrato deprimente dos vícios que atravessaram o
Império e se acomodaram, impunemente, na desvirtuada República.
Que o republicano leilão aconteça.
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