UM PÉ DE MACONHA NO JARDIM (4)
Combater vício através da repressão, mandando para as
penitenciárias viciados, é uma estupidez inominável, todavia usual, presente e
homenageada como forma correta de cumprir a lei. No caso específico da maconha,
isso se transforma num
diversionismo hipócrita. A maconha
disseminou-se, faz parte dos hábitos de tanta gente decente, cumpridora
das leis, gente pacífica, que tem de recorrer a traficantes para obter uma droga que não é nem mais nem menos
prejudicial do que o tabaco, que, até bem pouco tempo, era exibido em propagandas na televisão, como
se fosse uma forma atraente de conquistar sucesso. Coisa que continua sendo legal e perfeitamente
tolerada em relação às bebidas alcoólicas, responsáveis, em grande parte, pelos
acidentes nas ruas e estradas .
Há uns trinta anos o
senador Lourival Baptista, cujo centenário se comemora no próximo mês, começou
uma campanha contra o fumo. Chegou a ser até ridicularizado, afirmou-se que ele
não tinha o que fazer, e, por isso, se preocupava em combater o cigarro.
Naquele tempo mais de 30 % dos brasileiros
fumavam . Hoje, são a metade.
Lourival conseguiu aprovar leis tornando obrigatórias as apavorantes advertências impressas nas carteiras de cigarro, a proibição do fumo
em locais públicos, a proibição total da
propaganda, mais impostos, para encarecer o produto, paralelamente com
campanhas
de esclarecimento sobre os malefícios de aspirar fumaça
que é tóxica, como deve ser também a da
maconha. Tudo isso foi feito, e sem que se colocasse polícia para destruir
plantações de tabaco, nem para andar atrás de fumante. O uso do cigarro deixou
de ser coisa charmosa, e o consumo despencou. Fumar tornou-se hábito socialmente desprezível, e o fumante,
um individuo quase segregado.
Tudo se conseguiu naturalmente, através de uma estratégia
inteligente, e ações continuadas.
Ao contrário do que sucedeu com o cigarro, derrotado pelo
convencimento, a repressão contra as outras drogas, como maconha, cocaína e o
infernal crack, só tem apresentado resultados negativos, camuflados pelas
noticias sobre apreensão de grandes quantidades de droga, que não representam
sequer 5 % do total jogado no mercado.
A droga, como se constata facilmente, há muito tempo deixou
de ser problema de polícia, ou melhor,
derrotou fragorosamente a polícia, não só a daqui, mas, a de todo o
mundo, a começar pelos Estados Unidos, onde o
tráfico e a repressão quase se igualam em lucros auferidos.
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