OS DOIS GUERRILHEIROS
E O
PAÍS POR ELES
DERROTADO
Em um tempo bastante cinzento da nossa História dois jovens deixaram os campi das
universidades onde estudavam. Meteram
numa empreitada na qual, corajosamente, arriscaram suas vidas. Certamente, eram
idealistas, inconformados com a falta de
liberdade e os caminhos ditados por um
regime autoritário, onde o povo deveria
ser, apenas, um espectador conformado e obediente.
Um daqueles jovens
tornou-se perseguido no dia seguinte após a marcha dos tanques pelas ruas.
Chamava-se Zé Dirceu , era presidente da UNE, a combativa União Nacional dos
Estudantes. Preso, torturado, foi solto em troca da vida de um embaixador
seqüestrado por guerrilheiros urbanos. Vagou por alguns países, chegou a Cuba,
recebeu treinamento militar. Voltou
clandestino ao Brasil para incorporar-se à luta armada. Preferiu disfarçar-se,
mudou de nome e de face, viveu por muito
tempo no interior de São Paulo à custa de uma companheira que era pequena
empresária e à qual nunca revelou a verdadeira identidade, só o fazendo após a
anistia.
A outra pessoa dessa estória era uma menina de classe média. Jogou-se
na clandestinidade. Tornou-se a escrituraria e tesoureira de
uma organização da luta armada, uma ¨aparatchick¨, como no jargão soviético eram chamados os
integrantes do baixo escalão da
engrenagem burocrática. Nega que tenha pegado em armas, coisa que não
lhe desmereceria a biografia, caso não houvesse se tornado Presidente da República, e, com isso, comandante em chefe das forças armadas, o que,
no mínimo, geraria constrangimentos.
Dilma Roussef, era a jovem. Ela
padeceu muito mais do que o outro jovem, Zé Dirceu. Foi pendurada nos ¨paus- de- arara ¨ de um regime que, além
de ilegítimo, tornou-se putrefato ,
porque admitiu a tortura como instrumento de ação do poder sustentado pelas
baionetas.
Passando dos cárceres ao poder, Zé Dirceu e Dilma se encontrariam num momento em que um, despudorado, tivera
revelada apenas a ponta do seu iceberg
de lambanças com o dinheiro público. Dilma sucedia a Zé Dirceu na chefia da
Casa Civil da Presidência da República, com a missão de corrigir erros e evitar
os desatinos.
Não fez nem uma coisa
nem outra, mas não se tornou despudorada como o seu antecessor, que permaneceu
comandando o mega-assalto aos cofres públicos.
Zé Dirceu está outra vez na cadeia, onde, segundo tudo faz
crer, deverá permanecer por um longo tempo.
Dilma, bamboleia na
cadeira mais alta da República, e nesse vai e vem de quem perdeu o centro de gravidade
e não mais se equilibra, vai causando os sacolejos que já puseram abaixo todo aquele edifício de
estabilidade econômico –financeira, que se imaginara, um dia, fosse firme para suportar os trancos e barrancos
vindos do exterior.
Para que isso acontecesse, a Zé Dirceu não faltou despudor, e
a Dilma sobrou incompetência.
Nos dois, que moralmente se diferenciam, há, todavia, a semelhança que surge da
inconsistência daquelas idéias extraídas do precário catecismo que parte da esquerda brasileira ainda segue, por teimosia, ou simplória visão da
conjuntura global.
Para Zé Dirceu, encher
os próprios bolsos fazia parte de um projeto de poder, garantia da permanência no trono da República,
onde era preciso continuar a bem sucedida experiência de permitir que o
miserável comesse, e o pobre andasse de avião.
Para Dilma, o Poder seria o instante de por em prática a
enganosa idéia de que se pode fazer uma nova economia debaixo da desconfiança do mercado, e
que é possível mexer nos dogmas do sistema capitalista numa suposta e precária
aliança com o capital.
Tudo porém deu
errado. E assim, os dois guerrilheiros, desarmados, conseguiram
derrotar um país.
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