OS IDOS DOS AGOSTOS E
ESTE AGOSTO DE AGORA
Agosto é mês de
desgosto. A frase teria origem portuguesa. Mas essa é hipótese improvável. Os
desgostos dos agostos devem ser
mesmo coisa brasileiríssima,
resultante das nossas imperfeições políticas que geram os terremotos
institucionais.
Faz tempo não tínhamos um agosto assim, carregado de tão
pesados presságios, a provocar
justificados receios. Mas esse agosto que em todos os sentidos mal começa,
compara-se aos mais turbulentos do passado, com uma animadora diferença: não ouviremos o trovejar dos motores e das
lagartas dos tanques esmagando o asfalto
das ruas .
Desde que o presidente Figueiredo saiu pelos fundos do
palácio do Planalto, conformado, ou talvez satisfeito com a democracia se
completando, mas, negando-se a cumprir o ritual de passagem da faixa a Sarney,
de quem sentia asco, a política, exercida na sua plenitude, começou a tornar-se
campo atrativo para malandros e arrivistas de toda espécie, e se foi
apodrecendo.
E tanto apodreceu que, 30 anos depois, em relação à classe
política os brasileiros sentem o mesmo asco que tinha o presidente saindo e enojado com o que chegava. Deu-se fim a um ciclo de poder
onde, dos quartéis em desordem, saia a
ordens unida que os brasileiros
deviam ouvir em posição de sentido.
Somos, felizmente, um país ainda bafejado pela sorte. A
política apodreceu, mas as instituições renovadas, fortalecidas, se mantêm
saudáveis, e isso é o resultado de uma evolução que a sociedade civil construiu,
junto com parcelas das instituições, entre elas, as forças armadas. Enquanto isso,
na área política se abriam os espaços
para desmoralizá-las.
Exemplos?
Uma Câmara presidida por Eduardo Cunha avacalhando a República.
Um Senador da República e ex- presidente, chamando, em voz
baixa, não importa, de ¨ filho da puta ¨ o Procurador Geral da República que
o denunciou .
Um Zé Dirceu, poderoso ministro, montando com a conivência e
participação de um leque de partidos e
empresários a técnica e a tática para o
assalto aos cofres públicos.
O somatório de todas essas anomalias exdrúxulas , e mais os clamorosos escorregões da
presidente, nos levam a esse agosto repleto de
tensionados pressentimentos.
24 de agosto de
54, Getúlio isolado, traído por elementos da sua
confiança, acuado pela violenta campanha que lhe movia o jornalista Carlos
Lacerda, estava praticamente deposto pela mazorca dos oficiais da Aeronáutica
instalados na ¨República do Galeão ¨. Matou-se
no Palácio do Catete de onde dissera que só sairia morto. O Brasil viveu dias
de lágrimas e muita violência nas ruas.
25 de agosto de 61,
Janio Quadros renunciou. Falhou na
tentativa de criar uma situação de
impasse da qual ele emergiria como ditador.O
Brasil quase despencou na desgraça da
guerra civil.
31 de agosto de 69, o ditador marechal Costa e Silva governando com os poderes absolutos do Ato Institucional nº 5, sofre uma isquemia cerebral. Os quartéis estão inquietos . À noite a voz soturna que sempre anunciava descaminhos do autoritarismo, dá a notícia: De acordo com o Ato Institucional nº 12 uma Junta Militar governava o país. O triunvirato era formado pelos Ministros Militares. Do ministro chefe da Casa Militar general Jaime Portela o vice presidente civil, Pedro Aleixo, ouviu: ¨O senhor pode concordar com a solução e ficar quieto no seu apartamento, ou protestar, e ir para a cadeia ¨.
Foi o período mais
abominável vivido pela República brasileira.
Neste agosto, todavia,
um gesto poderia desfazer a fama negativa do oitavo mês do ano. Só a
presidente Dilma poderia fazer esse gesto, que seria a sua voluntária renúncia
ao mandato. Ela não sairia desmoralizada por denuncias de corrupção. Contra ela , no campo ético nada até agora a
desabona. O ato da renuncia seria um
gesto de grandeza, de desprendimento
pessoal, e a favor do Brasil. Dilma não soube governar, não tem capacidade
política, e não existirá o milagre da iluminação que a
faça agir como uma Estadista.
A presidente perdeu, por absoluta incompetência, dela e dos
seus assessores, ou talvez por não querer ouvi-los, a oportunidade última de
erguer-se do limbo, apresentando a todos
os governadores que foram reunidos no Planalto, uma proposta de união nacional,
um pacto de governabilidade. Teria de fazer isso com a humildade de reconhecer
erros, e também a gravidade da crise. Nada fez, e em seu lugar o vice
–presidente Michel Temer falou o que a Nação queria ouvir, e logo começaram a
surgir manifestos de adesão à iniciativa de
esvaziamento do explosivo paiol dos
radicalismos que só agravam a crise.
Dilma, num daqueles pífios e inconsistentes discursos, dessa vez
no isolamento de Roraima, onde
finalmente encontrou quem a festejasse, disse e repetiu que agüenta
pressões.
O problema é que o Brasil não
agüenta mais Dilma. E não
aguentará , também, o longo e turbulento
ritual de um impeachment.
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