sábado, 8 de agosto de 2015

OS IDOS DOS AGOSTOS E ESTE AGOSTO DE AGORA



OS IDOS DOS AGOSTOS E
 ESTE AGOSTO DE AGORA
  Agosto é mês de desgosto. A frase teria origem portuguesa. Mas essa é hipótese improvável. Os desgostos dos agostos  devem ser mesmo  coisa brasileiríssima, resultante  das nossas  imperfeições políticas que geram os terremotos institucionais.
Faz tempo não tínhamos um agosto assim, carregado de tão pesados presságios,  a provocar justificados receios. Mas esse agosto que em todos os sentidos mal começa, compara-se aos mais turbulentos do passado, com uma animadora diferença:  não ouviremos o trovejar dos motores e das lagartas  dos tanques esmagando o asfalto das ruas .
Desde que o presidente Figueiredo saiu pelos fundos do palácio do Planalto, conformado, ou talvez satisfeito com a democracia se completando, mas, negando-se a cumprir o ritual de passagem da faixa a Sarney, de quem sentia asco, a política, exercida na sua plenitude, começou a tornar-se campo atrativo para malandros e arrivistas de toda espécie, e se foi apodrecendo.
E tanto apodreceu que, 30 anos depois, em relação à classe política os brasileiros sentem o mesmo asco que tinha o presidente  saindo e enojado com  o que chegava. Deu-se fim a um ciclo de poder onde, dos quartéis em desordem, saia a  ordens unida  que os brasileiros deviam ouvir em posição de sentido.
Somos, felizmente, um país ainda bafejado pela sorte. A política apodreceu, mas as instituições renovadas, fortalecidas, se mantêm saudáveis, e isso é o resultado de uma evolução que a sociedade civil construiu, junto com parcelas das instituições, entre elas, as forças armadas. Enquanto isso, na área política se  abriam os espaços para desmoralizá-las.
   Exemplos? Uma Câmara presidida por Eduardo Cunha  avacalhando a República.
Um Senador da República e ex- presidente, chamando, em voz baixa, não importa,  de ¨ filho  da puta ¨ o Procurador Geral da República que o denunciou .
Um Zé Dirceu, poderoso ministro, montando com a conivência e participação de um leque de partidos  e empresários a  técnica e a tática para o assalto aos cofres públicos.
O somatório de todas essas anomalias  exdrúxulas  , e mais os clamorosos escorregões da presidente, nos levam a esse agosto repleto de  tensionados pressentimentos.
 24 de agosto de 54,   Getúlio  isolado, traído por elementos da sua confiança, acuado pela violenta campanha que lhe movia o jornalista Carlos Lacerda, estava praticamente deposto pela mazorca dos oficiais da Aeronáutica instalados na ¨República do Galeão ¨.   Matou-se no Palácio do Catete de onde dissera que só sairia morto. O Brasil viveu dias de lágrimas e muita violência nas ruas.
 25 de agosto de 61, Janio Quadros renunciou.  Falhou na tentativa de  criar uma situação de impasse  da qual ele emergiria como ditador.O Brasil quase despencou na desgraça  da guerra civil.

 31 de agosto de 69, o ditador marechal Costa e Silva governando com os poderes absolutos do Ato Institucional nº 5,  sofre uma isquemia cerebral. Os quartéis estão inquietos .  À noite a voz soturna que sempre anunciava  descaminhos do autoritarismo, dá a notícia:  De acordo com o Ato Institucional nº 12 uma Junta Militar governava o país. O triunvirato era formado pelos Ministros Militares. Do ministro chefe da Casa Militar general Jaime Portela o  vice presidente civil, Pedro Aleixo, ouviu:  ¨O senhor pode concordar com a solução e ficar quieto no seu apartamento, ou protestar, e ir para a cadeia ¨.

  Foi o período mais abominável vivido pela República brasileira.
Neste agosto, todavia,  um gesto poderia desfazer a fama negativa do oitavo mês do ano. Só a presidente Dilma poderia fazer esse gesto, que seria a sua voluntária renúncia ao mandato. Ela não sairia desmoralizada por denuncias de corrupção.  Contra ela , no campo ético nada até agora a desabona.  O ato da renuncia seria um gesto de grandeza,  de desprendimento pessoal, e a favor do Brasil. Dilma não soube governar, não tem capacidade política, e não existirá o milagre da iluminação  que   a faça agir como uma Estadista.
A presidente perdeu, por absoluta incompetência, dela e dos seus assessores, ou talvez por não querer ouvi-los, a oportunidade última de erguer-se  do limbo, apresentando a todos os governadores que foram reunidos no Planalto, uma proposta de união nacional, um pacto de governabilidade. Teria de fazer isso com a humildade de reconhecer erros, e também a gravidade da crise. Nada fez, e em seu lugar o vice –presidente Michel Temer falou o que a Nação queria ouvir, e logo começaram a surgir manifestos de adesão à iniciativa de  esvaziamento do explosivo paiol dos  radicalismos que só agravam a crise.
Dilma, num daqueles  pífios e inconsistentes discursos, dessa vez no isolamento de Roraima, onde  finalmente encontrou quem a festejasse, disse e repetiu que agüenta pressões.
O problema é que o Brasil não  agüenta mais Dilma. E   não aguentará ,  também, o longo e turbulento ritual de um impeachment.

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