DE JANIO QUADROS
A DILMA ROUSSEF
Janio Quadros chegou ao poder prometendo varrer a corrupção.
Seu grotesco símbolo era a vassoura. Na época, um bom chargista, para ridicularizá-lo, o teria desenhado como
uma bruxa sobre o seu aparato voador.
Sete meses depois de empossado, o seu
repetido jargão moralista já havia
cansado os brasileiros e seus jocosos decretos proibindo brigas de galo e
misses desfilando de maiô, o fizeram objeto de gozação, Atritou-se com o
Congresso, entrou na linha de tiro do demolidor Carlos Lacerda e, sempre de porre, imaginou tornar-se ditador, fechando o Congresso para
governar sozinho. Mandou um lacônico bilhete ao presidente do Senado, Auro de Moura Andrade: ¨Nesta data e por este
instrumento renuncio ao mandato de Presidente da República para o qual fui
eleito em três de outubro de 1960 ¨. Imaginava em delírios etílicos, que o povo
sairia às ruas, os militares se poriam de joelhos diante dele, e o Senado
ficaria impedido de declarar vaga a Presidência.
O senador Auro de Moura Andrade abreviou a cena. Leu o breve
documento e acrescentou: ¨ Sendo a renuncia um ato de vontade pessoal, declaro
vaga a Presidência da República ¨
Instalou-se a crise, quase uma guerra civil. A Junta Militar
formada pelo marechal Dennys, o
almirante Hadmacker e o brigadeiro
Melo, quis impedir a posse do
vice-presidente João Goulart.
Venceu a legalidade, mas as seqüelas das divisões militares permaneceram. Goulart, por sua inabilidade política uniu os
quartéis contra ele, e atiçou as elites brasileiras , com a bandeira do
anti-comunismo que a Igreja abençoava e a imprensa agitava.
Há renúncias que podem
ser interpretadas como fuga covarde, ou ato de puro egocentrismo. E há as
renuncias resultantes do desprendimento, da coragem,
do esquecimento do Eu diante do interesse
coletivo.
Charles de Gaulle, após superar os turbulentos e transformadores
episódios de maio de 68, entendeu que a sua presença no governo da França seria um fator de desagregação, renunciou, e foi escrever suas memórias na tranqüilidade
bucólica de Colombey les Deux
Eglises.
Dilma deveria fazer
agora, sóbria, e com responsabilidade, o
que Janio fez bêbado e irresponsavelmente.
A presidente não consegue governar, o Congresso desgoverna. Dilma não tem
habilidade política, nem mesmo chega a ser uma gerente eficaz. Criou uma carga de aversão entre os que deveriam ser aliados,
sua rejeição cresce de forma impressionante, a economia estagnou . Há uma coisa chamada Mercado, que
não é mera ficção. O mercado existe, é
forte, impõe regras, bem ou mal o Mercado comanda, não adianta desafiá-lo, o
regime é capitalista. E o Mercado não acredita, não confia em Dilma. Os investidores
se retraem, tudo está paralisado . A escalada do dólar junto com a
possibilidade de rebaixamento do grau de investimento, agravarão o desemprego. Por mais que se
esforce, a presidente não conseguirá superar a crise, Ela é o nome da crise.
Não há outra saída.
Felizmente evoluímos, não há riscos de interrupção do processo
democrático. Afora alguns tresloucados que falam em intervenção militar, ou a ambição de Aécio que
quer aspirar os frangalhos da República, acabou, no Brasil, o tempo em que crise
política se resolvia batendo às portas
dos quartéis.
Dilma, saindo por vontade própria, tudo se fará em absoluta calma institucional.
No dia seguinte, até como efeito psicológico, o clima de frustração,
desesperança e desastre começará a ser
aliviado.
Saia Dilma, faça isso pensando mais no Brasil, e menos na companheirada que, enfim, pensou e conseguiu melhorar as
condições de vida do povo brasileiro, mas, com a volúpia do próprio bolso, armou a resistência da direita
conservadora para desmoralizar um projeto de Brasil mais justo, pecando , todavia, por ser incompleto, enquanto
a companheirada e associados, não
tiveram a sabedoria de admitir que roubo,
até entre as elites, deve obedecer
a ¨ limites éticos ¨.
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