LUIZ FERREIRA E O
CAMINHÃO DO POVO
Luiz Ferreira, um jovem agrônomo baiano de Santo Amaro da
Purificação, terra de Caetano e Betânia, veio para Sergipe começando a vida
profissional. E foi direto para Simão Dias, chefiar o escritório da Ancar-se,
uma entidade financiada com recursos externos e que fazia um exemplar trabalho
de extensão rural. Logo, completamente sergipanizou-se, esquecendo-se até, de
torcer pelo Bahia, e andou a transitar entre o Sergipe, o Itabaiana e o
Confiança. Gostava tanto de futebol que freqüentava o Batistão com dois
radinhos de pilha aos ouvidos, sintonizados em jogos diferentes. Talvez essa
atitude explique a sua permanente movimentação inquieta, agitada, quase
elétrica. Luiz era rápido no falar, no fazer, no querer realizar, e, em
contraste, muito permanente nas amizades que ia construindo. Transferiu –se para Aracaju quando já consolidara a imagem de
profissional competente e dedicadíssimo ao serviço público, ao planejamento das
ações. Aqui, casou-se com a professora Marta Suzana Costa, com ela teve dois
filhos: Luiz Fernando, administrador de empresas ,e Ana Paula, arquiteta, que
lhe deram dois netos: Vitor e Gustavo.
Fez mestrado em Viçosa, Minas Gerais, e pouco depois de
retornar, Augusto Franco o convidou para assumir a Secretaria da Agricultura.
Chegava com a responsabilidade enorme de substituir na Pasta o banqueiro e
pecuarista Murilo Dantas, homem
aureolado de prestigio e de admiração pelas arrojadas iniciativas que como
empresário colocou em prática.
Luiz cercou-se de uma equipe de técnicos, todos eles movidos pela mesma idéia de modernizar a
agricultura sergipana.
Certa vez o Governo Federal , pensou em utilizar a soja que
começava a ser farta, em alimento mais para humanos do que somente para
animais. Foi então, buscar na criatividade de algum Professor Pardal, a idéia
de uma máquina que fabricava, na hora, uma espécie de leite . Era a Vaca
Mecânica, e pensou-se então em colocá-la nas escolas, nos edifícios públicos,
nas instituições de caridade, em restaurantes populares. Começaria, então, uma
campanha para matar a fome do povo com o leite de soja. O regime militar que
chegava ao fim necessitava urgentemente de idéias que o tornassem menos
impopular. Aracaju foi designada para
ser a sede oficial do lançamento em todo o país, da Vaca Mecânica, e a
responsabilidade ficaria com a Secretaria da Agricultura. Até já se começava a
plantar soja em Sergipe . Os irmãos
Hagenbeck, experientes plantadores de cana, começavam a ter sucesso com o novo
cereal que estava na moda.
Chega a Aracaju o presidente Figueiredo, e o governador
Augusto Franco, que a ele devia atenções especiais, como a instalação do
Projeto Potássio, da Nitrofértil, do apoio para a Adutora do São Francisco e
construção de mais de 20 mil casas populares, o cerca de atenções e
deferências. No local onde estava a Vaca de Ferro, o presidente coloca-se à
frente de uma fila dos que iriam experimentar o leite saído daquela coisa
estranha. Figueiredo enche o copo na
torneira aberta pelo Secretário Luiz Ferreira. Leva o leite à boca e em seguida,
fazendo uma careta, cospe para todo lado o líquido esbranquiçado, dizendo: ¨é
essa coisa horrorosa que nos vamos dar
ao povo ?¨
Morreria ali,
fulminada pela espontaneidade do general Figueiredo, a Vaca Mecânica.
Para compensar o fracasso da Vaca de horrorosas tetas, Luiz
Ferreira começou a mexer na cabeça em busca de uma boa idéia. Surgiu então o
Caminhão do Povo. Seriam, como o nome
indica caminhões, repletos, porém, de gêneros alimentícios de primeira
necessidade que seriam ofertados a preços reduzidos nos bairros pobres,
inicialmente de Aracaju. A maior parte desses gêneros era aqui produzida, e
isso começou a gerar uma cadeia virtuosa
de atividades. Ao contrário da Vaca do regime autoritário, que já se desfazia,
o Caminhão do Povo de Augusto Franco alcançou
amplo sucesso . Ajudou a fortalecer a
popularidade do governo do estado, tornando, mais fácil ainda, a vitoria do
situacionismo, que foi ampla até em Aracaju.
Luiz Ferreira morreu semana passada. Foi tudo rapidamente,
como era seu estilo simples e construtivo de vida, simplicidade aliás que era também uma convicção ética. Entrou
pobre no serviço público. Dele saiu da mesma forma , e nunca parou de trabalhar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário