A PONTE QUE CAIU E O
TROPEL DE 30 CAVALOS
Eram mais de 30 cavalos que passavam em desabalado tropel
pela octogenária ponte da Pedra Branca. E a ponte, como se sabe, caiu.
Uma curiosidade apenas: o que faziam tantos cavalos sobre a
ponte quando se sabe que agora até vaqueiro campeia montado numa moto?
Seria um negociante que levava a sua tropa em busca de
rarefeitos compradores. Mais da metade do rebanho de quadrúpedes afogou-se nas
águas volumosas do salgado Sergipe. Houve bípedes feridos, mas deles, nenhum, felizmente,
morreu. Na queda a estrutura da ponte arrastou a tubulação que conduz a água vinda do São Francisco. A
adutora é resultado da ousadia de
Augusto Franco, que conseguiu a decisiva participação da Petrobrás,
contrariando pareceres presunçosamente técnicos que a consideravam inviável. A
viabilidade plena da obra seria logo demonstrada pela equipe comandada pelo engenheiro – mecânico Daniel
Monteiro, um carioca funcionário da PETROBRAS, que veio morar em Aracaju para
executar a tarefa. Piloto e dono de um invejado Citábria, perfeita máquina de
voar e fazer acrobacias, Daniel deu vida nova ao Aeroclube de Sergipe,
estimulando tantos jovens, que se
tornaram depois pilotos , entre eles, Fábio Moreira, hoje voando linhas internacionais, e Genisson
Silva, este, do alto das suas 30 mil
horas de comando, quase todas sobre as selvas da Amazônia, é o recordista sergipano na soma do tempo de
vôo. O engenheiro Daniel, que no rastro da sua passagem deixou
tantas coisas boas em Sergipe, faleceu há alguns anos no Rio . Algum vereador
aracajuano poderia lembrar-se de dar o seu nome a uma rua da nossa cidade.
Engenheiro competente ele fez dar certo o que diziam que daria errado,
executando a obra que, se Augusto
Franco não insistisse na sua necessidade, a Grande Aracaju não seria o que é
hoje. A
ponte, para os nossos padrões,
estava muito velha, por isso, não teria agüentado o tropel. Na Europa ,
quando os romanos andaram a
alargar seu colossal império, construíram
pontes, hoje milenares, e ainda
firmes. Por elas , através dos séculos, cruzaram
exércitos; nas as suas pedras bateram forte os cascos de milhares de cavalos.
No sábado em que a ponte esfarelou-se, o Secretário da Saúde Zezinho Sobral postou
na Internet a informação sobre a obra
arrojada para a nossa indigência
provinciana. Foi pedida ao
presidente Vargas pelo ¨tenente ¨Augusto
Maynard, posto a governar Sergipe como poderoso Interventor após a revolução de
30. Getúlio, muito amigo do militar revolucionário, veio a Sergipe para inaugurar a obra. Tinha
arcos que a embelezavam, diferenciando-a das pontes comuns, era algo a merecer
admiração. Neste JORNAL DO DIA o primoroso memorialista Raimundo Melo publicou
uma crônica sobre a festa que foi a inauguração da ponte. Outro memorialista, Murilo Mellins, conta que
ele, ainda criança, assistiu à
inauguração. Já o guardador de um
valioso baú de reminiscências, o professor e radialista Vilder Santos
começou a remexer suas preciosidades em
busca de registros, textos sobre a
ponte, fotos da ponte.
Rompida a adutora, veio o colapso no abastecimento de água
que, imaginávamos, nunca sofreríamos, porque temos outros sistemas em operação,
um deles, a portentosa barragem do rio
Pitanga. Talvez problemas de interligação da rede tenham impedido o pleno uso
das águas daquela barragem. Mas a DESO esbanjou competência. Juntando-se com a
engenharia da PETROBRAS os técnicos da empresa de águas concluíram o trecho
provisório da adutora em 5 dias, como havia garantido o presidente da empresa
engenheiro Carlos Melo , quase sufocado pela pressa que exigia o governador
Jackson Barreto. A questão da manutenção
da ponte, que servia apenas
para a passagem da adutora, isso, é outra estória.
Nenhum comentário:
Postar um comentário