CENAS DA DITADURA PARA QUEM NÃO
A CONHECEU
E A DESEJA DE VOLTA (3)
Era fevereiro, e em fevereiro tem carnaval. Mas naquele , de 1976, para os que logo seriam seqüestrados
e levados a lugar incerto e não sabido, nem haveria frevo, ou marchinhas carnavalescas. Durante
dias e noites os que estavam num quartel
padecendo os horrores da tortura metodicamente aplicada, haveria o inferno dos gritos, imprecações, insultos,
gargalhadas de escárnio em meio a gemidos , no tumulto do desespero e do ódio.
Estavam cumprindo a soturna missão, os comandados do tenente
–coronel Oscar Silva, um personagem que entraria para a crônica dos desatinos
da ditadura em Sergipe deixando a duvida
se tinha um nome ou era apenas um codinome.
Talvez nunca se
saiba, quais os que comandaram e cometeram atos ignominiosos num quartel do qual afastaram-se, dignamente,
o comandante e toda a oficialidade.
Aqueles militares sofreriam depois as conseqüências por não terem permitido
que as fardas se sujassem com o sangue de presos
políticos torturados, porque
suas idéias não eram toleradas pelo regime. Instalou-se em Sergipe, com a Operação Cajueiro,
um ¨carnaval ¨ de bestialidades.
Sete anos antes, em 69,
chegara a Aracaju um norte-americano que
dizia ser agente da CIA. Era Dan
Mitrione. Veio com a atribuição
específica de ensinar à Policia Militar
de Sergipe os métodos ¨modernos ¨ para extrair confissões de presos políticos.
Se foram os policiais bons ou maus alunos do yankee doutorado em ferocidade, não se chegou a saber. A PM sergipana nunca
participou dos atos de repressão política, mas, naquele carnaval de 76 estava
em Sergipe a fina flor da podridão dos porões. Era a ¨tigrada ¨ do general
Fiúza de Castro, comandante da Sexta Região
Militar, especialista em
truculências. Fiuza fazia parte ativa
da rebelião contra a abertura política iniciada pelo presidente Geisel. Ansioso, esperava o instante para a invasão do Palácio
do Planalto, quando seria defenestrado
Geisel, e lá se instalaria o general Sílvio Frota , novo ícone da ¨linha dura ¨ , que, além da idéia de reprimir, nada mais tinha
na cabeça.
A Operação Cajueiro foi
feita para demonstrar que o
governo era omisso ou conivente com a
subversão. No seu livro medíocre, Ideais Traídos, o general
Sílvio Frota afirma exatamente isso. Quando expulsou Frota do Ministério do
Exército, para por ordem nos quartéis, Geisel, que era inteligente, mandou que fosse divulgado o manifesto golpista da linha dura,
que continha uma sucessão absurda de pura sandice.
As ditaduras, sendo resultado da ausência do bom senso, para
que possam sobreviver necessitam por em
prática aquilo que é a sua essência: a insensatez.
Há duvidas sobre o numero exato de presos pela Operação Cajueiro, mas, sabe-se quantos foram torturados. O que sofreu a maior
conseqüência dos tormentos foi o
petroleiro Milton Coelho, hoje cego. Segundo o criterioso historiador Ibarê
Dantas, no livro A Tutela
Militar em
Sergipe, (indispensável
leitura ) foram presos no quartel do 28
ºBC, e não processados: Carlos
Alberto Menezes , Durval Jose de Santana, Elias Oliveira, Gervásio Santos, João Santana Sobrinho, Walter
Santos, e Welington Mangueira.
Processados, foram: Antonio Bitencourt, , Antonio Jose de Gois, , Alscepíades Jose dos Santos, , Carivaldo Lima Santos, , Delmo Naziazeno, agrônomo , Edgar Francisco dos Santos,
, Edson Sales, , Francisco Gomes Filho , Jackson de Sá Figueiredo, João Franciso Ozéa, Jose
Soares dos Santos, Luiz Mário Santos
Silva, Marcélio Bomfim, , Milton Coelho de Carvalho, Pedro Hilário dos Santos, Rosalvo Alexandre, e Virgílio de Oliveira.
Além desses 25 presos, foi intimado a depor no quartel, e
depois processado, o deputado estadual Jackson Barreto. ( continua )
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