quinta-feira, 2 de abril de 2015

CENAS DA DITADURA PARA QUEM NÃO A CONHECEU E A DESEJA DE VOLTA (3)



CENAS DA DITADURA PARA QUEM NÃO
 A  CONHECEU  E A DESEJA DE VOLTA (3)
Era fevereiro, e em fevereiro tem carnaval. Mas naquele ,  de 1976, para os que logo seriam seqüestrados e levados a lugar incerto e não sabido, nem haveria  frevo, ou marchinhas carnavalescas. Durante dias e noites  os que estavam num quartel padecendo os horrores da tortura metodicamente aplicada, haveria o inferno  dos gritos, imprecações, insultos, gargalhadas de escárnio em meio a gemidos ,  no tumulto do desespero e do ódio.
 Estavam cumprindo  a soturna missão, os comandados do tenente –coronel Oscar Silva, um personagem que entraria para a crônica dos desatinos da ditadura em Sergipe deixando  a duvida se  tinha um nome ou era  apenas um codinome.
   Talvez nunca se saiba,  quais  os que comandaram e cometeram  atos ignominiosos  num quartel do qual afastaram-se, dignamente, o  comandante e toda a oficialidade. Aqueles militares sofreriam depois as conseqüências por não terem permitido que  as  fardas se sujassem com o sangue de presos políticos   torturados,  porque  suas  idéias  não eram toleradas pelo regime.  Instalou-se em Sergipe, com a Operação  Cajueiro,  um  ¨carnaval ¨ de  bestialidades.
  Sete anos antes, em 69,  chegara a Aracaju um norte-americano que dizia ser agente da CIA. Era  Dan Mitrione.  Veio com a atribuição específica de ensinar à  Policia Militar de Sergipe os métodos ¨modernos ¨ para extrair confissões de presos políticos. Se foram os policiais bons ou maus alunos do yankee doutorado em ferocidade,  não se chegou a saber. A PM sergipana nunca participou dos atos de repressão política, mas, naquele carnaval de 76 estava em Sergipe a fina flor da podridão dos porões. Era a ¨tigrada ¨ do general Fiúza de Castro, comandante da Sexta Região  Militar,  especialista em truculências.   Fiuza fazia parte ativa da rebelião contra a abertura política iniciada pelo presidente Geisel.  Ansioso,  esperava o instante para a invasão do Palácio do  Planalto, quando seria  defenestrado  Geisel, e lá se instalaria o general Sílvio Frota ,  novo ícone da ¨linha dura ¨ ,  que, além da idéia de reprimir, nada mais tinha na cabeça.
A Operação Cajueiro foi  feita para demonstrar que  o governo  era omisso ou conivente com a subversão.   No seu  livro medíocre, Ideais Traídos, o general Sílvio Frota afirma exatamente isso. Quando expulsou Frota do Ministério do Exército, para por ordem nos quartéis,  Geisel, que era inteligente, mandou que fosse  divulgado o manifesto golpista da linha dura, que continha uma sucessão absurda de pura sandice.
As ditaduras, sendo resultado da ausência do bom senso, para que possam sobreviver necessitam  por em prática aquilo que é a sua essência: a insensatez.
Há duvidas sobre o numero exato de presos  pela Operação Cajueiro, mas, sabe-se  quantos foram torturados. O que sofreu a maior conseqüência dos tormentos  foi o petroleiro Milton Coelho, hoje cego. Segundo o criterioso historiador Ibarê Dantas, no     livro   A Tutela   Militar   em Sergipe,        (indispensável  leitura )    foram     presos no quartel   do 28 ºBC,  e não processados: Carlos Alberto  Menezes ,  Durval Jose de Santana,   Elias Oliveira,   Gervásio Santos,   João Santana Sobrinho,   Walter  Santos,  e Welington Mangueira.
Processados, foram: Antonio Bitencourt, ,  Antonio Jose de Gois, ,  Alscepíades Jose dos Santos,  , Carivaldo Lima Santos, , Delmo Naziazeno,  agrônomo , Edgar Francisco dos Santos, , Edson Sales, , Francisco Gomes Filho ,  Jackson de Sá Figueiredo,  João Franciso Ozéa,   Jose Soares dos Santos,  Luiz Mário Santos Silva,  Marcélio Bomfim,  , Milton Coelho de Carvalho,  Pedro Hilário dos Santos,  Rosalvo Alexandre, e Virgílio de Oliveira.
Além desses 25 presos, foi intimado a depor no quartel, e depois processado, o deputado estadual Jackson Barreto. ( continua )

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