sábado, 11 de abril de 2015

A PROFESSORA NEUZICE

A PROFESSORA NEUZICE  

A professora Neuzice  ensinou  numa época em que eram precárias as escolas, as estradas, e ainda mais os salários.     Insistia em ter participação política e correr  risco por ser oposição ao governo. Sofreu o calvário de ser transferida para pontos remotos.  Era mulher de seu Etelvino, cidadão simples, rigorosamente apegado a valores de família e honestidade pessoal. O casal veio de Santa Rosa de Lima, e ele instalou em Aracaju um pequeno negócio, a bodega, como se chamavam  na época as mini- mercearias. Acompanhar a mulher professora  transferida para a distante e paupérrima Santa Luzia do Itanhy,  era  sacrifício impossível, e seu Etelvino ficou a cuidar do negócio e dos filhos, que  eram muitos, e  o ajudavam.  Jugurta,   dizia que seria bacharel em Direito, depois, Juiz ou Promotor. Outro, mais inquieto, falava que   queria ser advogado, mas, seu assunto predileto era a  política. E havia ainda os primos.  Vinham estudar   na capital e se acomodavam na casa acolhedora  dos tios. Dividiam  espaços restritos, mas o cuscuz era farto. Dona Neuzice voltou, meses depois, por interferência do desembargador Carlos Sobral, que estranhou a ausência dela na casa da rua de Estância, e soube do castigo político. A professora Neuzice,  perto dos  filhos, continuou ensinando na escola, e disciplinando e orientando a todos em casa. O menino que gostava de política, carteiro do DCT,  pregou sobre a farda um broche com a espada do general Lott  e foi entregar cartas no sítio do  ex-governador Leandro Maciel. Alguém na casa não gostou, advertiu que aquilo parecia um desafio ao líder da UDN, eleitor de Jânio.   O carteiro ouviu,    lustrando orgulhoso, com a ponta da camisa, o luzidio símbolo do seu candidato a presidente na eleição de 1960. Era Jackson,  um dos 8 filhos da professora Neuzice e do seu Etelvino. Hoje governador de Sergipe, o menino que tanto gostava de política, nessa  sexta- feira, dia 10, foi levar flores ao tumulo da mãe ,  inspiradora e inseparável saudade,  era o seu centenário, e inaugurar obras  em Santa Rosa de Lima. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário