DO INFERNO DE DANTE
AO ¨ INFERNO ¨ DE
JORGE
Jorge Carvalho do Nascimento é militante por uma causa que consiste,
basicamente, em construir com arte e ciência a eficácia plena daquele processo
de transmissão do saber que, comumente, se chama educação. Para tornar mais produtiva
a sua militância, foi doutorar-se nos
grandes templos do conhecimento alemães, exatamente para se assenhorear das
artes e ciências necessárias ao aperfeiçoamento e modernização do processo educativo público.
Há algum tempo Jorge constatou que arte e ciência não seriam
os instrumentos únicos de que precisaria
na sua incansável militância. Foi, por isso, que se animou muito quando, convidado pelo governador Jackson Barreto para
ocupar a Pasta da Educação dele ouviu as
orientações muito precisas e pertinentes,
para que, como técnico, conseguisse
afastar da rede pública de ensino aquelas influencias político-partidárias, a
maléfica ¨pedagogia ¨ do atraso que se
instala nas escolas quando o interesse pelo voto se sobrepõe ao da eficiência.
Assim, além da arte e da ciência para conduzir a educação
pública se faz indispensável uma dose
imensa de vontade política e de coragem para colocá-la em prática.
Sentindo, talvez, que seria preciso realçar a necessidade e a
urgência dessa vontade e dessa coragem, é que Jorge fez, ao recepcionar um
auxiliar que chegava, o professor Manoel Messias Alves de Almeida a saudação
dantesca : ¨ Bem vindo ao Inferno ¨, e acrescentou,
certamente para desenhar o desafio martirizante
que terá de ser enfrentado: ¨A nossa educação
está um caos ¨
Dante Alighieri um dos
apressadores do Renascimento,
quando escreveu A Divina Comédia, roteiro imaginativo entre o céu o purgatório e
o inferno, colocou, na porta de acesso ao reino de Lucífer a aterradora advertência: ¨Per me si va ni la
cittá dolente, per me si va ne l’itterno dolore, per me si va tra la perduta gente. Lasciate ogni speranza voi
ch’intrate¨.
A frase em tradução
livre assim ficará : ¨Por aqui se entra na cidade do sofrimento, por
aqui se vai até a dor eterna, por aqui se chega aonde estão os
desgraçados. Percam todas as esperanças
vocês que entram¨.
Jorge é um intelectual no mais amplo sentido do termo, ou
seja, está permanentemente lidando com o pensar e o
fazer, daí, a expressão forte que usou
exatamente para dar ênfase retórica ao
tamanho do desafio agora diante do governo e da sociedade. Não teve, por conseguinte, qualquer intento de
desfazer o que já se fez no passado e no
presente, até porque, reconhece os esforços, o trabalho ingente, os desafios
enfrentados por ex-secretários, como o
professor Jose Lima, e o hoje vice - governador Belivaldo Chagas, e, com maior
abrangência, por quase todos os outros desafiados
pela mesma conjuntura, que, de tão
renitente, foi do passado, e é do presente, mas, é preciso evitar-se que
venha a ser, também, do futuro.
Exatamente por isso o professor Jorge Carvalho situou historicamente o problema
que hoje se agudiza . Citou na mesma
ocasião em que se referiu ao caos e ao inferno, trechos do livro A Educação em Sergipe escrito há mais de 50 anos pelo professor
Nunes Mendonça, onde ele descreve o
panorama caótico da educação em nosso estado.
O ¨dantesco ¨ no
discurso de Jorge, se resumiria assim, à caracterização forte de uma circunstancia
que , para os nela envolvidos, teria tormentos assemelhados aos infernais
suplícios. O “inferno” a que se referiu, não tem os tons sombrios e inapeláveis daquela advertência sobre o
abandono de todas as esperanças.
Para o ïnferno ¨ que Jorge metaforizou existem, sim, medidas que podem ser aplicadas a fim de que os tormentos se amenizem. E existem, sobretudo,
justificadas esperanças. Há vontade política, coragem para exercê-la, e também
a compreensão clara das instituições e da sociedade a respeito da urgência de
um projeto modernizante para a nossa rede pública de educação.
Jorge resumiu o que vem a ser esse projeto em sintética frase : ¨Rede de
Compartilhamento ¨. O que vem a ser isto?
A resposta parecerá simples. Trata-se de
mobilizar governo, instituições, sociedade, sobretudo docentes, discentes, e as
famílias desses últimos, para que se faça, da escola, espaço
de participação, de convivência e de presença da comunidade. Não há como
separar governo e professores dessa visão de escola.
É indispensável compartilhar
responsabilidades para vencer as resistências passadistas que emperram e
desqualificam a educação.
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