sábado, 7 de março de 2015

DO INFERNO DE DANTE AO ¨ INFERNO ¨ DE JORGE

DO INFERNO DE DANTE
AO ¨ INFERNO ¨ DE  JORGE
Jorge Carvalho do Nascimento é  militante por uma causa que consiste, basicamente, em construir com arte e ciência a eficácia plena daquele processo de transmissão do saber que, comumente,  se chama educação. Para tornar mais produtiva a sua militância,  foi doutorar-se nos grandes templos do conhecimento alemães, exatamente para se assenhorear das artes e ciências necessárias ao aperfeiçoamento e modernização  do processo educativo público.
Há algum tempo Jorge constatou que arte e ciência não seriam os instrumentos únicos  de que precisaria na sua incansável militância. Foi, por isso, que se animou muito  quando,  convidado pelo governador Jackson Barreto para ocupar a Pasta da Educação  dele ouviu as orientações muito precisas  e pertinentes,  para que, como técnico, conseguisse afastar da rede pública de ensino aquelas influencias político-partidárias,   a maléfica ¨pedagogia ¨ do atraso  que se instala nas escolas quando o interesse pelo voto se sobrepõe ao da eficiência.
Assim, além da arte e da ciência para conduzir a educação pública  se faz indispensável uma dose imensa de vontade política e de coragem para colocá-la em prática.
Sentindo, talvez, que seria preciso realçar a necessidade e a urgência dessa vontade e dessa coragem, é que Jorge fez, ao recepcionar um auxiliar que chegava, o professor Manoel Messias Alves de Almeida a saudação dantesca : ¨ Bem vindo ao  Inferno ¨, e acrescentou, certamente para desenhar o desafio martirizante     que terá de ser enfrentado: ¨A nossa educação está um caos ¨
Dante Alighieri um dos  apressadores  do Renascimento, quando escreveu  A Divina Comédia,  roteiro imaginativo entre o céu o purgatório e o inferno, colocou, na porta de acesso ao reino de Lucífer  a aterradora advertência: ¨Per me si va ni la cittá dolente, per me si va ne l’itterno dolore, per me si va  tra la perduta gente. Lasciate ogni speranza   voi  ch’intrate¨.
A frase  em tradução livre assim ficará :     ¨Por  aqui se entra na cidade do sofrimento, por aqui se vai até a dor eterna, por aqui se chega aonde estão os desgraçados.  Percam todas as esperanças vocês que   entram¨.
Jorge é um intelectual no mais amplo sentido do termo, ou seja,   está permanentemente lidando com o pensar e o fazer, daí,  a expressão forte que usou exatamente para  dar ênfase retórica ao tamanho do desafio agora diante do governo e da sociedade. Não  teve, por conseguinte, qualquer intento de desfazer o que  já se fez no passado e no presente, até porque, reconhece os esforços, o trabalho ingente, os desafios enfrentados  por ex-secretários, como o professor Jose Lima, e o hoje vice - governador Belivaldo Chagas, e, com maior abrangência,  por quase todos os outros desafiados pela mesma conjuntura,  que, de tão renitente, foi do passado,   e é do presente, mas, é preciso evitar-se que venha  a ser, também, do futuro. Exatamente por isso o professor Jorge Carvalho situou historicamente o problema que hoje se agudiza .   Citou na mesma ocasião em que se referiu ao caos e ao inferno,  trechos do livro A Educação em Sergipe   escrito há mais de 50 anos pelo professor Nunes Mendonça,  onde ele descreve o panorama caótico da educação em nosso estado.
O  ¨dantesco ¨ no discurso de Jorge, se resumiria assim,   à caracterização forte de uma circunstancia que , para os nela envolvidos, teria tormentos assemelhados aos infernais suplícios. O “inferno” a que se referiu, não tem os tons sombrios  e inapeláveis daquela advertência sobre o abandono de todas as esperanças.
Para o ïnferno ¨ que Jorge metaforizou existem, sim,  medidas que podem ser aplicadas a fim de que  os tormentos se amenizem. E existem, sobretudo, justificadas esperanças. Há vontade política, coragem para exercê-la, e também a compreensão clara das instituições e da sociedade a respeito da urgência de um projeto modernizante para a nossa rede pública  de educação.  Jorge resumiu o que vem a ser esse projeto em sintética frase : ¨Rede de Compartilhamento ¨. O que vem  a ser isto? A resposta  parecerá simples. Trata-se de mobilizar governo, instituições, sociedade, sobretudo docentes, discentes, e as famílias desses últimos, para que se faça, da escola,   espaço de participação, de convivência e de presença da comunidade. Não há como separar governo e professores dessa visão de escola.

 É indispensável compartilhar responsabilidades para vencer as resistências passadistas que emperram e desqualificam a educação.

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