A COMISSÃO DA VERDADE
E O FORNO
DA USINA
A Comissão da Verdade ao término dos seus trabalhos faz revelações surpreendentes. Sabe-se, agora,
que presos políticos assassinados nos cubículos da repressão tiveram seus
corpos incinerados nos fornos de uma usina
para que definitivamente sumissem. Outros, lançados nas águas de um rio,
sofreram na barriga um corte profundo, ficando com as vísceras expostas. A
finalidade desse requinte cruel era fazer com que os cadáveres não boiassem,
ficando no fundo até a completa decomposição. Dessa forma muitos presos políticos
continuam desaparecidos, seus restos jamais serão encontrados.
Na simbologia perversa desse corte na barriga deixando
visíveis as vísceras da vitima, é possível que se chegue até as vísceras
nojentas da ditadura, que agora se tornam expostas, verdadeiramente reveladas
para que permaneçam como página de vergonha e nojo na nossa História.
Basta que se tenha conseguido chegar até as entranhas malignas
de um regime que se dizia salvacionista, redentor, regenerador, ético e
moralizante, e escondia as próprias vísceras na farsa trágica que patrocinava,
amparando-se na censura, na perseguição mesquinha, na delação descarada e na
ignomínia da tortura.
Qual o descaminho trágico que leva um regime sustentado em
baionetas a se considerar dono exclusivo
dos destinos de um país, árbitro supremo sobre a liberdade, a vida
e a dignidade das pessoas ?
A resposta a essa
pergunta não será pedagogicamente
elucidativa para tornar-se inteiramente convincente, mas, a constatação óbvia
dos males causados pela supressão da democracia e da liberdade, pode servir,
definitivamente, como anteparo a todas as ações que tenham como objetivo suprimir o diálogo, a
tolerância, o pluralismo, o direito de discordar e de gritar, proclamando o que
se pensa e o que se deseja.
Este, foi o grande serviço que a Comissão da Verdade prestou
à nação brasileira.
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truirão sua glória póstuma. ¨
Infelizmente não houve o ¨muito tempo ¨. O anjinho barroco
alçou vôo. Sua amiga artista, escritora
, também poeta Antonia Amorosa, sentia,
na cerimônia do adeus, que o anjo por ali esvoaçava.
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