segunda-feira, 3 de novembro de 2014

SÃO PAULO VIROU UM IMPREVIDENTE CEARÁ



No Ceará a vegetação da caatinga chega até a praia. Isso significa dizer que todo o território cearense está incluído no semiárido, ou seja,  no Ceará a seca  abrange o estado todo. Mas o Ceará tem a maior superfície de água armazenada do planeta   e tem também  o Jaguaribe, que é o maior rio seco do mundo mas agora está em parte perenizado com água que sai de um açude. Desde o Império se começou a fazer açudes no Ceará, e a República continuou a fazê-los, A água que abastece Fortaleza, hoje uma grande metrópole vem, em grande parte,  de um desses açudes através de um canal que o  então governador Ciro Gomes construiu em exatos cem dias. Como se vê, no Ceará houve disposição para vencer algo visto como inevitável, a seca, mas que poderia ser amenizada ou enfrentada com pleno sucesso, desde que os braços não ficassem cruzados  diante de um fenômeno recorrente.  Os demais estados nordestinos,  todos incluídos no Polígono das Secas, imitaram em maior ou menor escala o  exemplo cearense. Sergipe  quase não fez açudes,  mas descobriu o óbvio que outros não enxergaram,  a passou a abastecer-se com a água do São Francisco, também,  a utilizá-la para a irrigação, e fez mais: construiu, próxima de Aracaju, em São Cristovão, uma imensa barragem, assim,  por aqui não haverá colapsos no fornecimento da água tal como acontece agora em São Paulo. Ali, o último sistema de abastecimento foi construído há mais de quarenta anos, e nesse espaço de tempo a população da cidade quadriplicou.  E o pior: esqueceram-se de tratar adequadamente dos rios, e deixaram que o Tietê, o Pinheiros, apodrecessem, suas águas ficassem imprestáveis , e agora,  a gigantesca cidade espera ser  salva pelo gongo,  se chegarem as chuvas previstas para este mês.  Atravessando a selva de pedra com água que poderia ser utilizada  estão o Tietê e o Pinheiros, dois rios inservíveis, com  água que nem urubus se arriscam a beber.

 A terra da garoa, não tem mais garoa nenhuma. Sobre uma São Paulo de concreto e asfalto cria-se uma bolha de calor que afasta a umidade e não deixa que se formem as nuvens de chuva. São Paulo deixou que os rios ficassem podres, que as nascentes desaparecessem, que a  mata atlântica fosse dizimada, restando dela os traços irrisórios do que permaneceu a salvo  sobre as grimpas inacessíveis da Serra do Mar. Os lençóis freáticos foram contaminados pelos esgotos,  pelos venenosos despejos industriais , ou dos agrotóxicos utilizados sem controle.

 A imprevidência dos que governaram São Paulo ao longo de tanto tempo se revela agora, desastrosamente, nas torneiras que perderam a utilidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário