No Ceará a
vegetação da caatinga chega até a praia. Isso significa dizer que todo o
território cearense está incluído no semiárido, ou seja, no Ceará a seca abrange o estado todo. Mas o Ceará tem a
maior superfície de água armazenada do planeta
e tem também o Jaguaribe, que é o
maior rio seco do mundo mas agora está em parte perenizado com água que sai de
um açude. Desde o Império se começou a fazer açudes no Ceará, e a República
continuou a fazê-los, A água que abastece Fortaleza, hoje uma grande metrópole
vem, em grande parte, de um desses
açudes através de um canal que o então
governador Ciro Gomes construiu em exatos cem dias. Como se vê, no Ceará houve
disposição para vencer algo visto como inevitável, a seca, mas que poderia ser
amenizada ou enfrentada com pleno sucesso, desde que os braços não ficassem
cruzados diante de um fenômeno recorrente. Os demais estados nordestinos, todos incluídos no Polígono das Secas,
imitaram em maior ou menor escala o
exemplo cearense. Sergipe quase
não fez açudes, mas descobriu o óbvio
que outros não enxergaram, a passou a
abastecer-se com a água do São Francisco, também, a utilizá-la para a irrigação, e fez mais:
construiu, próxima de Aracaju, em São Cristovão, uma imensa barragem, assim, por aqui não haverá colapsos no fornecimento
da água tal como acontece agora em São Paulo. Ali, o último sistema de
abastecimento foi construído há mais de quarenta anos, e nesse espaço de tempo
a população da cidade quadriplicou. E o
pior: esqueceram-se de tratar adequadamente dos rios, e deixaram que o Tietê, o
Pinheiros, apodrecessem, suas águas ficassem imprestáveis , e agora, a gigantesca cidade espera ser salva pelo gongo, se chegarem as chuvas previstas para este
mês. Atravessando a selva de pedra com
água que poderia ser utilizada estão o
Tietê e o Pinheiros, dois rios inservíveis, com água que nem urubus se arriscam a beber.
A terra da garoa, não tem mais garoa nenhuma.
Sobre uma São Paulo de concreto e asfalto cria-se uma bolha de calor que afasta
a umidade e não deixa que se formem as nuvens de chuva. São Paulo deixou que os
rios ficassem podres, que as nascentes desaparecessem, que a mata atlântica fosse dizimada, restando dela
os traços irrisórios do que permaneceu a salvo
sobre as grimpas inacessíveis da Serra do Mar. Os lençóis freáticos
foram contaminados pelos esgotos, pelos
venenosos despejos industriais , ou dos agrotóxicos utilizados sem controle.
A imprevidência dos que governaram São Paulo
ao longo de tanto tempo se revela agora, desastrosamente, nas torneiras que
perderam a utilidade.
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