A VERTICALIZAÇÃO
SERIA O CÁOS NAS CIDADES ?
O juiz federal Ronivon Aragão tem se caracterizado por suas
decisões exemplares e que o credenciam
como um magistrado que não hesita em
buscar o caminho legal para as questões mais complexas. Essa liminar que ele
concedeu limitando em 12 andares o gabarito permitido em Aracaju, está, todavia,
provocando uma ampla controvérsia e fazendo surgir argumentos que, sem duvidas,
devem ser levados em conta, O primeiro deles veio através da afirmação do presidente
do Sindicato da Industria da Construção de Sergipe, Tarcísio Teixeira. Ele alerta para a possibilidade de
um desemprego em massa com a suspensão de projetos e a interrupção de
obras já em andamento.
Nas grandes cidades européias há uma padronização
dos edifícios das áreas centrais que não ultrapassam os 6 andares. Em Paris
essa limitação e a arquitetura dos pequenos prédios, fazem parte do charme
daquela cidade, e ninguém ousaria
demoli-los para, em seu lugar, construir
torres imensas de mais de 40 andares, tão comuns nas cidades americanas.
Quem percorrer a principal avenida de
Paris saindo da Praça da Concórdia, depois,
ladeado pelos prédios de uma mesma altura, todos, em virtude da Lei
Malraux de 1962, sempre com suas fachadas rigorosamente limpas, se for mais
longe, até o final dos Champs Eysées, contornando o Arco do Triunfo e seguindo
pela Avenue de La Grand Armée, logo
terá a sensação de que estaria penetrando em outra cidade em virtude da mudança brusca da paisagem
urbana. Surgem os altos edifícios que
formam o bairro de La Défense. Aquele bairro, juntamente com os 200 metros da
Tour de Montparnasse visível de toda a
cidade, resultaram de um novo olhar
modernizante inspirado pelo arquiteto Le Corbusier. Ha ainda grandes empreendimentos imobiliários,
como o Front de Seine, a Place de
Italie, que acirraram o debate
sobre as transformações na paisagem da cidade. Como tudo em Paris se faz com choque de idéias, cultura, enquanto George
Pompidou dizia que era preciso abandonar
a estética do atraso, e que não existia arquitetura moderna sem as torres,
cresciam as objeções ao modernismo desmedido que desfigurava a cidade. Venceu a idéia de que a verticalização
poderia ser feita sem alterar as principais
características da cidade. Paris tinha um rigoroso plano diretor, o
Schéma Directeur, criado sob o olhar atento de Charles de Gaulle. O Schéma previa, ao lado dos Grands Ensemble ( grandes blocos de
apartamentos ) os Secteurs Sauvegardés,
áreas de preservação.
Não vamos nem de longe nos comparar a Paris, mas Aracaju
poderia ter um Plano Diretor resultante
de um olhar menos particularista sobre a cidade e que compatibilizasse as
edificações com a qualidade de vida. Por termos um documento tão inconsistente
é que surgem ações como aquela movida pela OAB-Se, que resultou na liminar do Juiz Ronivon.
A verticalização em si não
representa um atentado à mobilidade urbana, nem contribui para a
deterioração ambiental. Bastaria que se aplicassem normas , que se fizesse um
zoneamento, determinando onde poderiam ser construídos os grandes edifícios e
onde haveria as limitações.
Algo assim, tão
radicalmente estabelecido, pode realmente confirmar a preocupante projeção de desemprego em massa
desenhada pelo empresário Tarcisio Teixeira.
Os problemas mais urgentes que teremos de resolver para
garantir o crescimento da cidade sem que cheguemos a uma situação de caos
urbano, são: a mobilidade urbana, o
esgotamento sanitário, a ampliação de áreas verdes, a despoluição dos rios que
cortam a cidade, a integração das
diferentes camadas sociais no espaço urbano, evitando-se o surgimento dos guetos
nas periferias, onde se multiplica a
criminalidade.
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