DECLARAÇÃO DE VOTO
O voto é a arma dos cidadãos,
costuma-se tão recorrentemente repetir.
Seria mesmo ? O voto anda tão
aviltado, transformando-se numa
mercadoria que é posta à disposição de quem tiver recursos para adquiri-la.
Mas é preciso acreditar ainda na
capacidade que tem a democracia de depurar-se através do continuado exercício
do voto.
Tenho setenta e três anos,
estou, portanto, dispensado da ¨obrigação cívica¨ de votar.
Mas irei hoje digitar meus votos. No dia
em que me sentisse desobrigado de participar estaria renunciando ao privilégio
de viver.
Vou vestir uma camisa vermelha e
sob o sol do sertão que esbraseia e tonifica caminhar até uma sala da Escola
Municipal Augusto Franco no povoado
Curituba, em Canindé do São Francisco, onde repetirei o mesmo gesto que ali
faço há mais de vinte anos. O vermelho, cor da camisa, não significará nenhuma
adesão a partido, apenas, uma espécie de evocação aos tempos da juventude,
quando as bandeiras rubras dos sentimentos revolucionários me fizeram descrer
do voto e acreditar na possibilidade única da mudança social alcançada pela
multiplicação de Sierras Maestras por onde estivesse a opressão e a injustiça.
Hoje, a camisa vermelha é, tão somente, uma alegoria ao tempo que passou, deixando vestígios dos
ideais da juventude, destituídos agora, completamente, da insanidade de imaginar que a violência
poderia partejar o novo e realizar o sonho da purificação social.
É possível até continuar sonhando,
desde que tenhamos a tranqüila
convicção de que o caminho da busca daquilo que imaginamos deverá ser palmilhado
por sucessivas e sucessivas gerações, tendo como meta a utopia, sabendo, todavia, que ela é irrealizável, sem que, por isso, percamos o animo e a vontade de
tentar construí-la. Para um quase longevo,
como é o meu caso, não há porque
desacreditar na democracia, apesar do aviltamento do voto, da multiplicação dos
picaretas e assaltantes que se disfarçam
como políticos.
Já votei à luz de velas porque
haviam cortado a energia para que não se espichasse pela noite a dentro uma indesejada votação, e havia ainda
uma fila enorme de eleitores a esperar. Fiscal de partido, dormi estirado no chão, atravessado na porta
de uma sala onde estavam as urnas que seriam apuradas no dia seguinte. Era a
vigilante prevenção contra a fraude,
numa comarca onde o Juiz se declarava acintosamente partidário. Durante
a apuração presenciei uma acirrada discussão entre dois políticos, um dos quais
mataria o outro no dia seguinte e fugiria amparado pela polícia.
Sem dúvidas evoluímos, as
instituições se fortaleceram ,a Justiça Eleitoral funciona, as urnas se
tornaram eletrônicas, digitais, e a tecnolgia afasta a possibilidade de fraudes, embora o
poder econômico permaneça soberanamente intocado.
Nesse espaço de tempo que vai da urna e das atas de
votação violadas e fraudadas até a identificação biométrica do eleitor, o Brasil
tornou-se um país violento, e as elites
ainda mais corruptas; mas, em
compensação, as cadeias já são habitadas também pelos ricos e poderosos.
Entre tiroteios infindáveis nas
favelas, vândalos que incendeiam ônibus, nos livramos do estigma da fome.
Aquela desgraça social que sempre foi escondida , começou a desaparecer, e o Brasil, segundo informa a ONU, saiu do mapa mundial da fome. Foram mais de
quinze milhões de brasileiros que passaram a ter direito a um prato de comida.
Essa façanha brasileira é resultado do voto
livre, as mazelas que ainda nos atormentam poderão diminuir, e até desaparecer,
se insistirmos em continuar votando com liberdade e
consciência.
Meu voto hoje , é a escolha óbvia
feita entre um candidato que se construiu e se fez líder, e um outro pré-
fabricado e manipulado para desempenhar o papel de governante subalterno ao
irmão que o conduz, esse voto, é mais do
que uma simples opção, porque significa, também, um protesto contra a
devastação da ética que assola Sergipe.
Meu voto hoje é o resultado de
uma atitude consciente, e também de um enorme sentimento
de medo. Medo de ver Sergipe dar
meia volta no tempo e retornar ao passado de mandonismo , da cidadania sufocada, do povo riscado das decisões, da arrogância
se sobrepondo à sensatez.
Quando o irmão de um conivente candidato ao governo vai a uma rede de
emissoras que lhe pertence para ofender
difamar e agredir pessoas em linguagem desabrida e chula, sem poupar nem mesmo
uma mulher, mãe, que recentemente tornou-se viúva, e filhas que ainda choram a
morte de um pai, surge, em corpo inteiro, a ameaçadora e tenebrosa imagem da
canalhice que poderá tomar conta de Sergipe.
Quando a ambição desmedida se torna parceira do desatino o perigo nos ronda.
O voto que darei a Jackson Barreto, alem da reação indignada a um grupamento
político sem raízes populares, ou identificação com os movimentos sociais,
destituído minimamente de valores éticos, é também, e sobretudo, o resultado da confiança em um
político com uma biografia que o distingue dos omissos e dos carreiristas,
porque se construiu nas lutas populares, e se engrandeceu na adversidade de
tempos tormentosos.
Jackson fez o transito da
oposição sempre barulhenta e cáustica para as responsabilidades que surgem com
o peso dos desafios de governar ,e
saiu-se exitosamente. Domou os ímpetos, temperou o discurso, e revelou-se o administrador competente, dominado
pela benfazeja ânsia de transformar o exercício do poder numa oportunidade
para por em prática as idéias de justiça social das
quais nunca se afastou.
As circunstancias complexas em
que assumiu como vice do governador
Marcelo Déda enfermo, e depois tornando-se governador efetivo, revelaram um
Jackson Barreto maduro, reflexivo, entusiasmadamente dedicado
às suas tarefas, querendo fazer
sempre mais com recursos invariavelmente escassos, e Sergipe andou para a frente.
Com Jackson permanecendo no governo haverá a certeza de que Sergipe não
retrocederá no tempo nem se transformará numa mesa farta para o banquete de
mafiosos.
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