A FOICE O MARTELO E A CRUZ
Talvez a tragédia de 64 tenha
sido mesmo uma desgraça histórica da qual não poderíamos ter escapado.
Desde os anos 40 até o começo dos
60, formou-se no Brasil uma direita cuja característica maior era a ojeriza a tudo
o que significasse mudança. A Igreja
excomungava os divorcistas, os empresários não se conformavam com a legislação
social e o salário mínimo, os latifundiários enxergavam-se como senhores
feudais não conformados ainda com o fim da escravatura. Em tudo via-se o dedo solerte da infiltração comunista. E
quem falasse em algo parecido com
justiça social era logo visto como
agente de Moscou.
Do outro lado, a esquerda,
fortemente influenciada pelo marxismo,
acreditava-se com o privilégio de possuir a correta visão da evolução histórica,
que marchava inexoravelmente para a superação do capitalismo e o triunfo do
socialismo e seu estágio mais avançado que seria o comunismo. Chegou-se a
idolatrar Stalin o ¨Guia genial dos povos ¨. Depois, descobriu-se
que Stalin e Hitler tinham a mesma feição totalitária. A desestalinização fez surgir uma esquerda que
rejeitava a tese da ditadura do proletariado ou a classificação das religiões
como o ópio do povo, e começaram a surgir os
companheiros de viagem, que seriam
principalmente os católicos com tendências reformistas. Mas era uma
aliança frágil, porque de lado a lado sobravam discrepâncias e escasseavam identidades.
O debate ideológico tornava-se
cada vez mais intenso, acirrado, e a
radicalização chegou ao desaguadouro
inevitável da ruptura das
instituições.
Por aquele tempo, em Sergipe, um
jovem padre era visto nas ruas pedalando
uma bicicleta, ia para a igreja, a faculdade, era um dínamo de criatividade,
trabalho e amplitude cultural. Ele resolveu formar um grupo de jovens,
universitários, religiosos todos, movidos
por um sentimento que lhes inspirava o Cristo quando disse em tempos de ¨Olho
por olho dente por dente ¨ a frase que atravessou milênios: ¨Amai ao próximo
como a ti mesmo¨. Assim, todos
acreditavam que era possível mudar o mundo sem o estampido dos fuzis, muito mais pelo exemplo, o diálogo, no caso
deles também pela evangelização.
Surgia a Juventude Universitária Católica, a JUC.
A generosa idéia socialista, que
deve ser inseparável do conceito amplo de liberdade, não foi sepultada
com o desmoronar do Muro de Berlim. Até porque socialismo não constrói
muros para dividir pessoas. A idéia persiste na tentativa de criar um mundo que
não este, auto-destruidor. Os que
fizeram a JUC, distantes das radicalizações, uma espécie de contraponto à
insensatez da trilha rumo à violência,
todos eles, contribuíram para uma sociedade mais fraterna, menos injusta. Sobre
a trajetória da JUC em Sergipe, sobre a obra do seu idealizador, o Padre Luciano, juntaram-se jucistas, Carmen Machado Costa, Clara Leite de
Rezende, Geraldo de Oliveira, Jose Alexandre
Felizola Diniz, Jose Carlos de Oliveira, Salvador de Oliveira Ávila e Welington Santana. Juntaram-se , e fizeram uma história
bonita, exemplar, que intitularam: Memórias de uma Fraternidade Cristã – A JUC
e o Padre Luciano Duarte, livro que a Editora de Sergipe acaba de publicar e
foi lançado no último dia 7. Livro que nos próximos domingos iremos comentar.
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