A BLITZKRIEG ALEMÃ E OS 7 a 0
No verão de 1940 a Segunda Guerra Mundial iniciada em
primeiro de setembro de 39, corria morna, apenas com esporádicos combates
navais. Os generais do Estado Maior
francês confiantes na fortaleza da Linha
Maginot sentiam-se seguros de que os alemães parariam, contidos pela formidável linha de
fortificações que se estendiam do sul do país até as florestas que fazem limite
com a Bélgica. Apegados aos velhos manuais utilizados na Primeira Guerra (
1914-1918) os sisudos militares envergando seus lustrosos e engalanados
uniformes, nem davam ouvidos a um
simples coronel de artilharia chamado Charles de Gaulle que clamava pela necessidade
de modernização do imenso exército francês ,que, em parte, ainda se movia sobre
lombos de cavalos. Então, aconteceu
aquilo que o coronel previra: os alemães irromperam em três
frentes, iniciando
a blitzkrieg,
( guerra relâmpago) utilizando tanques,
artilharia mecanizada, carros de
combate, tendo a abrir-lhes caminho os Stukas, aviões de bombardeio em mergulho
que causavam pavor quando lançavam suas bombas precedidas pelo silvar
estridente de sirenes acionadas pelo deslocamento do ar. As poderosas máquinas
de guerra cruzaram a floresta das Ardennes, considerada inexpugnável,atravessaram a
Bélgica, irromperam ao norte pela Normandia, no centro pela Champagne. A
antiquada máquina de guerra francesa
tornou-se impotente. Não conseguiu deter a velocidade de avanço dos
inimigos. Os seus generais incompetentes,
somaram-se à covardia dos políticos , e em julho Hitler assistia o desfilar da
sua Weermacht, passando por baixo do Arco do Triunfo na Paris conquistada.
Completava-se a humilhação da França.
O que aconteceu depois é bem sabido.
A Alemanha perdeu a guerra e foi literalmente arrasada.
Na década dos oitenta quem visitava a Berlim dividida pelo
muro, no lado ocidental ,na área ocupada pelos americanos, poderia assistir todos
os dias um documentário que era exibido no prédio do antigo Bundestag, o parlamento alemão. Era um filme feito pelo exército americano. A época era
setembro de 1945.A guerra acabara em maio. Um avião da força aérea americana.com uma câmera sobrevoava a baixa altitude a Berlim
arrasada. Bombardeada pelo ar durante toda a guerra, devastada nos dias finais
por 14 mil peças da artilharia russa, e os lança foguetes, os ¨´orgãos de Stalin,
da bela e antiga capital germânica não restava um só prédio com telhado. Havia
paredes e escombros, A luminosa avenida Kurffurstedam, desaparecera. No imenso Parque Tiergarten restavam troncos
de árvores mutiladas. Perto, a Catedral
de Berlim tinha uma parte da sua torre destruída, mas estava quase intacta.
Hoje assim continua, como imagem e
lembrança da hecatombe. Depois, o filme
continuava no chão. Começo de outono que tinha rigores de inverno, os berlinenses
com seus capotes maltrapilhos, passavam tijolos de mão em mão desobstruindo as
ruas. Não havia suprimento de água nem de energia , e grupos se reuniam em
torno de fogueiras e cavavam poços. Chegava uma viatura do exército de
ocupação, os berlinenses entravam ordeiramente em filas, sem atropelos, para
conseguirem a ração reduzida, e todos tinham
um aspecto esquálido.
Mantinham-se dignos
diante da adversidade.
Vítimas do ressentimento, arrasados pela crise econômica dos
anos vinte, os alemães saíram de uma carnificina para logo mergulhar em outra,
a maior catástrofe da humanidade.O país, berço de Goethe, Schiller, Kant, Beethoven,
Bach, Einstein, deixou-se levar pela fúria sanguinária de Adolf Hitler, mas,
soube com dignidade e sem esconder a barbárie do nazismo, curar as próprias
feridas, exorcisar o passado, refazer a
pujança econômica, e sobretudo criar um sistema democrático sólido,baseado na
pluralidade, na eliminação de preconceitos, na crença arraigada aos valores da
paz e da justiça. Para um país que saiu do limbo da destruição para tornar-se
uma democracia modelar, e a terceira potencia
econômica do mundo, certamente também com inúmeros problemas ainda
irresolvidos, não deve ter sido tarefa
muito difícil a reestruturação do seu futebol, a formação daquela equipe
modelar que nos aplicou o contundente sete a um, aquela biltzkrieg do futebol
moderno contra o atraso paralisante do nosso. Mas não há motivos para
desesperos, nem maldições ao Brasil e ao povo brasileiro A nossa biltzkrieg foi apenas futebolística, um episódio
recorrente no esporte, embora, convenhamos, de uma forma devastadora.
Precisamos sem duvidas aprender muito com os alemães, com a tenacidade daquele
povo a disciplina da sua sociedade, a compreensão que têm de que os problemas
de um país afetam a toda a sociedade e
não se pode ficar a esperar que o governo venha a resolvê-los sozinho. A
decadência do nosso futebol é resultado da decadência geral dos clubes, da
corrupção imensa que existe entre despreocupados e incompetentes e
saqueadores ¨cartolas ¨.
Por falar nisso, por onde andam João Havelange, Ricardo
Teixeira ?
Mas, apesar das vozes aziagas fizemos a Copa, foi fantástica e o mundo hoje reconhece a
nossa capacidade de organização e tece elogios à hospitalidade fraterna do povo
brasileiro. É preciso que não deixemos nunca de acreditar em nós mesmos. Esse, o primeiro e essencial
passo a ser dado.
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