sábado, 12 de julho de 2014

A BLITZKRIEG ALEMÃ E OS 7 a 0

A BLITZKRIEG ALEMÃ E OS 7 a 0
No verão de 1940 a Segunda Guerra Mundial iniciada em primeiro de setembro de 39, corria morna, apenas com esporádicos combates navais.  Os generais do Estado Maior francês confiantes na fortaleza da Linha  Maginot sentiam-se seguros de que os alemães parariam,  contidos pela formidável linha de fortificações que se estendiam do sul do país até as florestas que fazem limite com a Bélgica. Apegados aos velhos manuais utilizados na Primeira Guerra ( 1914-1918) os sisudos militares envergando seus lustrosos e engalanados uniformes, nem  davam ouvidos a um simples coronel de artilharia chamado Charles de Gaulle que clamava pela necessidade de modernização do imenso exército francês ,que, em parte, ainda se movia sobre lombos de cavalos.  Então, aconteceu aquilo que o coronel previra: os alemães irromperam  em três   frentes,   iniciando   a    blitzkrieg,       ( guerra relâmpago) utilizando tanques, artilharia mecanizada,   carros de combate, tendo a abrir-lhes caminho os Stukas, aviões de bombardeio em mergulho que causavam pavor quando lançavam suas bombas precedidas pelo silvar estridente de sirenes acionadas pelo deslocamento do ar. As poderosas máquinas de guerra cruzaram a floresta das Ardennes,  considerada inexpugnável,atravessaram a Bélgica, irromperam ao norte pela Normandia, no centro pela Champagne. A antiquada máquina de guerra francesa  tornou-se impotente. Não conseguiu deter a velocidade de avanço dos inimigos.  Os seus generais incompetentes, somaram-se à covardia dos políticos , e em julho Hitler assistia o desfilar da sua Weermacht, passando por baixo do Arco do Triunfo na Paris conquistada. Completava-se a humilhação da França.
O que    aconteceu depois é bem sabido.
A Alemanha perdeu a guerra e foi literalmente arrasada.
Na década dos oitenta quem visitava a Berlim dividida pelo muro, no lado ocidental ,na área ocupada pelos americanos, poderia assistir todos os dias um documentário que era exibido no prédio do antigo  Bundestag, o parlamento alemão. Era um filme  feito pelo exército americano. A época era setembro de 1945.A guerra acabara em maio. Um avião  da força aérea americana.com uma câmera    sobrevoava a baixa altitude a Berlim arrasada. Bombardeada pelo ar durante toda a guerra, devastada nos dias finais por 14 mil peças da artilharia russa, e os lança foguetes, os ¨´orgãos de Stalin, da bela e antiga capital germânica não restava um só prédio com telhado. Havia paredes e escombros, A luminosa avenida Kurffurstedam, desaparecera.   No imenso Parque Tiergarten restavam troncos de árvores  mutiladas. Perto, a Catedral de Berlim tinha uma parte da sua torre destruída, mas estava quase intacta. Hoje assim continua,  como imagem e lembrança da hecatombe.  Depois, o filme continuava no chão. Começo de outono que tinha rigores de inverno, os berlinenses com seus capotes maltrapilhos, passavam tijolos de mão em mão desobstruindo as ruas. Não havia suprimento de água nem de energia , e grupos se reuniam em torno de fogueiras e cavavam poços. Chegava uma viatura do exército de ocupação, os berlinenses entravam ordeiramente em filas, sem atropelos, para conseguirem a ração reduzida, e todos  tinham um aspecto esquálido.
 Mantinham-se dignos diante da adversidade.
Vítimas do ressentimento, arrasados pela crise econômica dos anos vinte, os alemães saíram de uma carnificina para logo mergulhar em outra, a maior catástrofe da humanidade.O país,  berço de Goethe, Schiller, Kant, Beethoven, Bach, Einstein, deixou-se levar pela fúria sanguinária de Adolf Hitler, mas, soube com dignidade e sem esconder a barbárie do nazismo, curar as próprias feridas, exorcisar  o passado, refazer a pujança econômica, e sobretudo criar um sistema democrático sólido,baseado na pluralidade, na eliminação de preconceitos, na crença arraigada aos valores da paz e da justiça. Para um país que saiu do limbo da destruição para tornar-se uma democracia modelar,  e a terceira potencia econômica do mundo, certamente também com inúmeros problemas ainda irresolvidos,  não deve ter sido tarefa muito difícil a reestruturação do seu futebol, a formação daquela equipe modelar que nos aplicou o contundente sete a um, aquela biltzkrieg do futebol moderno contra o atraso paralisante do nosso. Mas não há motivos para desesperos, nem maldições ao Brasil e ao povo brasileiro A nossa biltzkrieg  foi apenas futebolística, um episódio recorrente no esporte, embora, convenhamos, de uma forma devastadora. Precisamos sem duvidas aprender muito com os alemães, com a tenacidade daquele povo a disciplina da sua sociedade, a compreensão que têm de que os problemas de um país  afetam a toda a sociedade e não se pode ficar a esperar que o governo venha a resolvê-los sozinho. A decadência do nosso futebol é resultado da decadência geral dos clubes, da corrupção imensa que existe entre despreocupados e incompetentes e saqueadores  ¨cartolas ¨.
Por falar nisso, por onde andam João Havelange, Ricardo Teixeira ?

Mas, apesar das vozes aziagas fizemos a Copa,  foi fantástica e o mundo hoje reconhece a nossa capacidade de organização e tece elogios à hospitalidade fraterna do povo brasileiro. É preciso que não deixemos nunca de acreditar em  nós mesmos. Esse, o primeiro e essencial passo a ser dado.

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