quinta-feira, 8 de maio de 2014

AQUELE BRASIL DE DARCI RIBEIRO E A BANANA DE DANIEL ALVES



AQUELE BRASIL DE DARCI RIBEIRO
E A BANANA DE DANIEL ALVES
Quem, nesses dias de tantas e tão surpreendentes turbulências , sentir-se desesperançado ou decepcionado com o Brasil e os brasileiros, e quiser buscar algum alento para sustentar esperanças e convicções corroídas pelo impacto continuado de tantas noticias decepcionantes, poderá encontrar um refrigério lendo O Povo Brasileiro. É o último livro escrito por Darci Ribeiro, otimista em relação ao Brasil, mesmo quando estava no exílio e assistia, constrangido, a dilapidação pelo regime autoritário do patrimônio de tolerância e de criatividade social que historicamente forjou uma nação singular, um cadinho de bem sucedidas experiências de mestiçagem racial que nos fez um país único diante do mundo. Darci levou 30 anos escrevendo o livro, isso, enquanto tratava de criar a Universidade de Brasília, de tocar suas pesquisas antropológicas, e também fazia política, e politica nova, transformadora, como Chefe da Casa Civil no Governo João Goulart, vice-governador, no criativo governo de Brizola no Rio de Janeiro. Senador da República, Darci continuou sonhando, combatendo, propondo soluções, descobrindo caminhos, fazendo, realizando. Darci Ribeiro talvez tenha sido o nosso intelectual mais completo, por ter sabido, primorosamente, transformar conhecimento em realizações materiais que melhoraram o Brasil, e fez da politica um instrumento eficiente para essas realizações
O Povo Brasileiro, livro tão pensado, tão cuidadosamente elaborado, foi concluído às pressas por Darci, que sentia perdida a sua batalha contra o câncer e fugiu do hospital para refugiar-se numa praia onde concluiu a grande obra. Darci morreu acreditando e proclamando sua crença no Brasil. Não houve decepção, não houve nada que o fizesse descrer da potencialidade do nosso povo para criar a fantástica civilização dos trópicos. O milagre da unidade territorial, quando tudo conspirava contra ela, desde a geografia ao confronto com espanhóis, holandeses, franceses, a ambição de todos os grandes impérios da época, esse milagre, é obra de um povo que Darci põe em relevo, e no qual enxerga capacidade para tocar tantas outras empreitadas futuras. Darci ia morrendo e acreditando na vida que sentia renovada ao contemplar, da sua praia, o alvorecer dos dias, assim, concluiu O Povo Brasileiro, somatório de pesquisas, análise social, alinhamento de novas ideias, legado de convicção e esperança. É obra essencial para quem não quer ceder à tentação de menosprezar o Brasil, a nossa história, a qualidade da nossa gente.
Então quando o cinza da decepção vai toldando todas as nossas imagens, eis que surge o Daniel Alves comendo a banana jogada contra ele por um racista. Para quem nutre esse tipo de sentimento que nega a própria condição humana, não há adjetivo suficientemente forte para lhe acrescentar ao nome. Melhor do que a palavra é a atitude que o desmoraliza. Daniel Alves, com um gesto devorou o racismo, desmoralizou o agressor, calou os que o ofendiam, despertou a atenção do mundo, provocou reações indignadas, certamente envergonhou tantos que estariam prontos a jogar mais bananas.
Darci Ribeiro tinha mesmo forte razões para acreditar na eficácia do jeitinho brasileiro , aquela forma peculiar, exclusivamente nossa de fazer as coisas darem certo, até mesmo da forma mais improvável e surpreendente.

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