A HISTORIA QUE LOURIVAL
GUARDOU E ATÉ ESQUECEU
Lourival Baptista foi um
político extremamente loquaz. Tinha prazer imenso em conversar, sabia
prender a atenção dos interlocutores narrando episódios sempre pitorescos da vida pública, dos quais ele fora
participante, mas, apesar do gosto pela
palavra, sabia como ninguém manter-se
calado e introspectivo nos momentos em que falar poderia ser desnecessário ou
inconveniente. Tinha também a rara qualidade de guardar segredos. Recebeu, no
tumultuado episódio da sucessão do general-presidente Castelo Branco, a incumbência
de ir a Paris convencer o amigo Bilac
Pinto, então embaixador na França, a tornar-se candidato civil à presidência,
uma ilusão de Castelo num processo que
já lhe fugira das mãos, e era decidido nos quarteis.
Ninguém soube da viagem a não ser 3 meses depois quando
o general Costa e Silva já estava escolhido, e com raiva de Lourival.
Baptista era muito amigo de Lourival Fontes,
sergipano que foi poderosíssimo durante
a ditadura do Estado Novo, depois , Chefe da Casa Civil no governo
constitucional de Getúlio, (1952-1954) e foi também senador por Sergipe. Já
perto da morte, Fontes entregou a
Lourival uma grande caixa de papelão lacrada, disse-lhe que ali estavam
importantes documentos da República, pediu-lhe que os guardasse, para abri-los
somente quando transcorridos 50 anos. Baptista guardou zelosamente a caixa de
segredos de Estado, nunca revelou a
posse a ninguém. Passaram os 5O anos, Lourival, doente, talvez se tenha esquecido da
preciosidade que lhe fora confiada. Depois da sua morte, seus filhos,
procurando organizar a enorme papelada, encontraram a caixa e tiveram a
surpresa, manuseando mais de 700 bilhetes trocados entre o presidente Getulio
Vargas e o seu Chefe da Casa Civil . O
médico Francisco Baptista, filho mais
velho de Lourival, levou os documentos à neta de Getulio, a pesquisadora Celina Vargas do Amaral
Peixoto. Os bilhetes foram por ela considerados documentos extremamente
valiosos. Classificados, contextualizados, agora devem se publicados em livro. A iniciativa
será do Conselheiro Carlos Pinna, presidente do Tribunal de Contas, que, com a
edição, quer também abrir as comemorações pelo centenário de Lourival Baptista,
no próximo ano, patrocinadas pelo Tribunal de Contas, criado por ele quando governador. Carlos Pinna, enxergando o
valor histórico dos documentos, foi expor o projeto ao governador Jackson
Barreto. Jackson imediatamente apoiou a iniciativa, e garantiu a participação
do estado. O professor Jorge Carvalho, presidente da SEGRASE e da editora do
Diário Oficial, teve uma primeira
reunião com Carlos Pinna para tratar do
assunto. No final deste mês ou começo de maio , Celina, a neta de Getulio, virá a
Aracaju, e com os filhos de
Lourival farão a entrega dos documentos ao governador Jackson Barreto e ao
Conselheiro Carlos Pinna.
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