HERMANO PENNA UM
CINEASTA ¨SERGIPANO¨
Quem quiser assistir um bom filme, filme que emociona, na linha do realismo
italiano e francês ao qual um Glauber
deu a forte pincelada telúrica , vá a uma das salas de projeção do Cinemark
no Shopping Jardins onde está sendo exibido, Aos Ventos Que Virão. O tema é
nosso, sergipano, a paisagem também, os ermos, as caatingas, chão pedregoso de Poço Redondo. A gente também
é nossa. Aquele povo que empunha o rifle, o punhal, e também dedilha os terços, que obedece ao
coronel e ao padre, e também ajoelha-se diante de um ¨boi santo ¨, e as vezes se rebela , desobedece ao padre e
até mata o ¨macaco ¨da polícia do coroné. Gente com vocação cangaceira, pronta
para matar e morrer por uma causa boa ou até sem causa nenhuma, e sempre mantem
viva a esperança, assim como quem espera os ventos que virão. Já houve quem
usasse o adjetivo quixotesco para
definir o guerreiro das caatingas. Entre
o cavaleiro da triste figura envolto na
sua armadura que o fim da idade média já pusera em desuso, movido pela obsessão
tresloucada de reviver um tempo onde o sentimento de honra
confundia-se com a própria justiça, e o
jagunço encourado, que lampião simbolizou, há similitudes que até justificariam a adjetivação.
Hermano veio aos sertões
sergipanos encontrar as raízes, as razões, ou os mitos que fariam do cangaceiro
um personagem de Cervantes, todavia vingativo, cruel tantas vezes, talvez pela
ausência de um simplório Sancho Pança
que o chamasse à razão. E tudo se resume naquele sentimento de desespero ou
revolta que a secular iniquidade causa e
alimenta.
O tempo é a década de 50, os anos
dourados da esperança de um Brasil novo que Juscelino Kubitschek semeou,
enfrentando os ódios civis e
fardados, e nos sertões sergipanos essa
esperança era somente uma quimera distante.
Hermano, nascido no Crato, é
assim cearense, mas, construiu sua boa fama de homem de cinema encontrando em
Sergipe os temas para as suas criações. Começou com Sargento Getúlio, depois
Mulheres no Cangaço, e agora Aos Ventos Que Virão. Trinta anos desde o primeiro,
e Hermano sempre transitando entre São Paulo e Sergipe, e os mesmos atores e
atrizes o seguindo, os mesmos amigos ao seu lado , a mesma chama que não se apaga de fazer arte
e dar uma mãozinha para inquietar, beneficamente, o mundo. A arte acomodatícia
não é arte, é engodo, ou propaganda. No cinema de Hermano, Marcelo Déda enxergou mais ou menos o que
imaginava fazer quando tinha uma câmera Super- 8 na mão e muitas ideias
fervilhando na cabeça. mas um dia lhe apareceu à frente um microfone, que, vejam só, lhe foi entregue por Jackson Barreto, numa
manifestação popular, e ele, ainda quase menino, não mais o largou, semeando
ideias, defendendo princípios, vergastando o autoritarismo. A oratória
aposentou a câmera, e se tornou a força que impulsionou o grande político, o
requintado intelectual.
Na noite de estreia Hermano fez
homenagem a Déda, fugaz cineasta
, e o político autor e ator de tantas transformações, desgraçadamente também
fugaz, todavia intenso no que deixou realizado.
Na sala 6 do Cinemark havia muita
gente, a família de Déda, suas filhas ,
seu irmão, o desembargador Cláudio Déda,
presidente do poder Judiciário, sua
irmã, a advogada Maria do Carmo e o esposo, desembargador Edson Ulisses. A
viúva Eliane estava em Brasília e não pode estar presente.
Naquele instante em que se
valorizava culturalmente Sergipe, foram
sentidas algumas ausências, entre elas,
a da Secretária de Estado da Cultura, que não se empenhou na divulgação do
evento, e para o qual sequer mandou um representante.
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