sábado, 22 de março de 2014

HERMANO PENNA UM CINEASTA ¨SERGIPANO¨



HERMANO PENNA UM
CINEASTA  ¨SERGIPANO¨
 Quem quiser assistir um bom filme,  filme que emociona, na linha do realismo italiano e francês ao qual um Glauber  deu a forte pincelada telúrica , vá a uma das salas de projeção do Cinemark no Shopping Jardins onde está sendo exibido, Aos Ventos Que Virão. O tema é nosso, sergipano, a paisagem também, os ermos, as caatingas,  chão pedregoso de Poço Redondo. A gente também é nossa. Aquele povo que empunha o rifle, o punhal,  e também dedilha os terços, que obedece ao coronel e ao padre, e também ajoelha-se diante de um ¨boi santo ¨,  e as vezes se rebela , desobedece ao padre e até mata o ¨macaco ¨da polícia do coroné. Gente com vocação cangaceira, pronta para matar e morrer por uma causa boa ou até sem causa nenhuma, e sempre mantem viva a esperança, assim como quem espera os ventos que virão. Já houve quem usasse o adjetivo quixotesco para definir o guerreiro das caatingas.  Entre o cavaleiro da triste figura envolto  na sua armadura que o fim da idade média já pusera em desuso, movido pela obsessão tresloucada   de reviver um tempo onde o sentimento de honra confundia-se com a própria justiça,  e o jagunço encourado, que lampião simbolizou, há similitudes que até justificariam  a adjetivação.
Hermano veio aos sertões sergipanos encontrar as raízes, as razões, ou os mitos que fariam do cangaceiro um personagem de Cervantes, todavia vingativo, cruel tantas vezes, talvez pela ausência de um  simplório Sancho Pança que o chamasse à razão. E tudo se resume naquele sentimento de desespero ou revolta  que a secular iniquidade causa e alimenta.
O tempo é a década de 50, os anos dourados da esperança de um Brasil novo que Juscelino Kubitschek semeou, enfrentando  os ódios civis e fardados,  e nos sertões sergipanos essa esperança era somente uma quimera distante.
Hermano, nascido no Crato, é assim cearense, mas, construiu sua boa fama de homem de cinema encontrando em Sergipe os temas para as suas criações. Começou com Sargento Getúlio, depois Mulheres no Cangaço, e agora Aos Ventos Que Virão. Trinta anos desde o primeiro, e Hermano sempre transitando entre São Paulo e Sergipe, e os mesmos atores e atrizes o seguindo, os mesmos amigos ao seu lado  , a mesma chama que não se apaga de fazer arte e dar uma mãozinha para inquietar,  beneficamente, o mundo. A arte acomodatícia não é arte, é engodo, ou propaganda. No cinema de Hermano,  Marcelo Déda enxergou mais ou menos o que imaginava fazer quando tinha uma câmera Super- 8 na mão e muitas ideias fervilhando na cabeça. mas um dia lhe apareceu à frente um microfone,   que, vejam só,  lhe foi entregue por Jackson Barreto, numa manifestação popular, e ele, ainda quase menino, não mais o largou, semeando ideias, defendendo princípios, vergastando o autoritarismo. A oratória aposentou a câmera, e se tornou a força que impulsionou o grande político, o requintado intelectual.
Na noite de estreia  Hermano fez  homenagem a  Déda, fugaz cineasta , e o político autor e ator de tantas transformações, desgraçadamente também fugaz, todavia intenso no que deixou realizado.
Na sala 6 do Cinemark havia muita gente,  a família de Déda, suas filhas , seu irmão, o desembargador  Cláudio Déda, presidente  do poder Judiciário, sua irmã, a advogada Maria do Carmo e o esposo, desembargador Edson Ulisses. A viúva Eliane estava em Brasília e não pode estar presente.
Naquele instante em que se valorizava culturalmente Sergipe,  foram sentidas algumas ausências,  entre elas, a da Secretária de Estado da Cultura, que não se empenhou na divulgação do evento, e para o qual sequer mandou um representante.

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