ARACAJU, O NORDESTE ONDE
A
ÁGUA ESTÁ GARANTIDA
Não há uma só capital nordestina
onde não estejam ocorrendo problemas no abastecimento de água. A seca, que já
atravessa 4 anos, reduziu os mananciais, e algumas cidades estão submetidas a rigoroso racionamento. O problema não é só
nordestino, alcança também o sudeste rico, e São Paulo, maior cidade do país,
corre risco de enfrentar pesado racionamento caso não venham as chuvas
cada vez mais improváveis agora, quando o verão, tempo em que por lá chove, já se foi, e estamos num imperceptível outono.
Quase em desespero o governador paulista
Geraldo Alckmin vai a presidente Dilma para solicitar a liberação do uso das
águas do rio Paraíba do Sul . Quer levá-las ao sistema Cantareira, um dos que
abastecem a Grande São Paulo. O Paraíba
do Sul é rio federal, porque atravessa
mais de um estado, e aí surgem complicações, pois o governo do Rio entende que se mais água for captada a montante, a cidade do
Rio de Janeiro terá o fornecimento de água afetado. Há interpretações divergentes e o abacaxi vai
cair na mesa da presidente Dilma , que tratará de descascá-lo da melhor forma
possível. Mesmo com a autorização , as
águas do Paraíba somente chegarão aos reservatórios da Cantareira dentro de no
mínimo 8 meses, tempo necessário para a
execução das obras de emergência, que
abrangerão a construção de túneis e canais. Sabendo-se como entre nós essa
coisa de obras costuma desafiar o tempo,
fica-se a imaginar quando haverá mesmo
água suficiente nas torneiras paulistas, se
houver um acordo entre os governos dos dois estados , improvável em ano de eleição. O caso paulista
que abrange a capital , e também cidades do interior é emblemático, revela a ausência de planejamento, de ações
que deveriam ter sido oportunamente adotadas enquanto a população crescia, as cidades aumentavam , e
a demanda por água não parava de pressionar a oferta disponível. Quando o clima
mostrou-se tão extremamente adverso, o sistema ineficaz
logo entrou em colapso. Em Guarulhos o racionamento chega aos 80%.
No final da dos anos 20, quando os brasileiros arranhavam
o litoral e o interior era um deserto, o presidente Washington Luiz disse a
frase que ficou célebre porque na época guardava alguma lógica:
¨Governar é abrir estradas¨. Washington Luiz quase não abriu estradas, nem
terminou o mandato, deposto pela revolução de 1930.
Diante de tantos problemas
acumulados que hoje enfrentamos, transporte coletivo desastroso, saúde e
educação capengando, água que falta, telefone que não funciona, e por aí vai,
alguém poderia lembrar de uma outra frase bem oportuna: ¨Governar é preparar o
futuro ¨.
Quem pensa com visão de futuro
age de forma previdente, e assim evita
que os problemas se acumulem. Foi exatamente o que fez o governador Augusto
Franco, quando conseguiu junto com a Petrobrás trazer água do São Francisco
para Aracaju através de uma adutora com 100 quilômetros de extensão. Lourival Baptista no final dos anos 60 foi pioneiro ao construir, contrariando a opinião
da SUDENE, a primeira adutora do São Francisco para municípios próximos ao
rio. As ações somadas de todos os outros
governadores permitiram que Sergipe tivesse hoje a melhor rede de abastecimento
de água do nordeste, aproveitando adequadamente a vantagem de ter mais de 200 quilômetros do São Francisco a lhe
servir de divisa com Alagoas, que está longe de fazer o que aqui fizemos. Se Aracaju houvesse ficado a depender somente
do sistema Poxim, teria se tornado uma cidade inviável. O sistema Poxim foi aproveitado até a sua
capacidade máxima, com a construção por Déda e Jackson da imensa barragem em São
Cristovão, já pronta para entrar em funcionamento. Ao longo de três governos, de João Alves, Albano e Déda, a adutora do São
Francisco foi duplicada. Assim, bem diferente do que acontece em outras
capitais, Aracaju tem o crescimento
populacional garantido pela segurança no fornecimento de água, e,
justamente atraídas por essa vantagem locacional que outras cidades
começam a não poder mais ofertar, indústrias chegam a Aracaju , a Socorro, e a
tantas outras cidades sergipanas, sem o temor de que as torneiras sequem.
Mas, em cidades do alto sertão onde também chegaram
adutoras, como é o caso de Poço Redondo
e Canindé há uma crise parcial no
abastecimento que a DESO não tem
conseguido resolver, e pior do que isso, até hoje não explicou porque não
resolve, enquanto milhares de pessoas morando em casas onde há tanto tempo
as torneiras nem pingam, estão a dever contas acumuladas da água que não chega.
O problema é que, na DESO, a excessiva burocratização criou uma estrutura
administrativa que tem a agilidade de um paquiderme usando muletas. E por mais competentes que
sejam os seus gestores, torna-se complicado movimentar uma máquina que virou
carroça.
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