sábado, 8 de março de 2014

ELIANE DESISTE MAS ROGÉRIO PERDE



ELIANE DESISTE MAS ROGÉRIO PERDE
Pela lógica das coisas,se é que em política prevalecem  coisas que parecem  mais lógicas, Eliane , a viúva de Marcelo Déda, deveria ser a candidata do PT ao Senado, Por dois motivos: Primeiro, seria uma homenagem ao militante sem o qual jamais o PT chegaria ao poder em Sergipe. E o segundo motivo seria a própria Eliane, que,  no momento mais doloroso da sua vida,  demonstrou força, equilíbrio, sensibilidade , e essas características criaram entre os sergipanos um  sentimento de admiração e solidariedade,   fazendo surgir   nos meios políticos  a percepção de que teria sido encontrada a substituta ideal para ocupar o quase impreenchível espaço vazio da ausência de Déda.
Eliane em nenhum momento se lançou candidata. Depois deum tempo juntando sofrimento e reflexão,  ela acenou aos que aventavam a possibilidade,   com a aceitação da candidatura caso o partido a escolhesse.  Agiu ingenuamente, sem atentar para o serpentário que a rodeava.  Tudo parecia tranquilo, mas, surgiu o obstáculo da duvida sobre a filiação. Eliane apressou-se a explicar. Afirmou publicamente que era filiada ao PT, queem Brasília,onde residia antes,   fizera a filiação, precisando o local e a data em que acontecera. Seria o bastante. Duvidar da palavra de uma cidadã conceituada é, no mínimo, umadeselegância, duvidar da palavra da viúva de um amigo, companheiro de partido,  é mais do que deselegância.  É ofensa. Ainda piorfoi dar-se um prazo exíguo e rigoroso para que a afirmação fossecomprovada.
 Um ato grosseiro, que algumas pessoas chegaram a definir como ¨um chute no caixão¨.  Elianefoi tratada por uma ala  do  partido que   Déda fez crescer e chegar ao Poder,como se fosse uma falsária mentirosa,  e até deram-lhe
um  humilhante ,  e em face das circunstancias,  cruel  ultimato, para que comprovasse a filiação. A deputada Ana Lúcia ex-secretária de Déda, disse, repetidas vezes, que haviafraude. Faltou tudo aos que assim agiram. Faltou-lhes,primeiro, o cavalheirismo, faltou-lhes  também educação, civilidade, moderação,  companheirismo,  reverencia ao companheiro morto.  No episódio, faltou tudo. Sobraramegoísmo, ambição, arrogância, truculência, desconsideração,    desrespeito;enquanto  evidenciaram-se, também, os piores defeitos que flagelam um ser humano, tais como o  sorriso que disfarça a animosidade;
o ódio  ou a inveja recalcados, que são a  forma mais rasteira da covardia e falsidade, quando se manifestam solertes,  depois que o objeto as vezes até inconsciente da animosidade  jaz inerte no túmulo.  Há um proverbio do fundo da Idade Média que era o dístico de muitos cavaleiros reverentesao sentimento de honra:¨ Os dignos enfrentam adversários de pé, os traiçoeiros pisoteiam cadáveres¨.   Eliane, dignamente,recusou  submeter-se aos termos inamistosos do ultimato.   Viria, como veio, a demonstração pela direção brasiliense do PT de que ela era efetivamente uma militanteinscrita , por conseguinte, plenamente capacitada a pleitear a candidatura. Mas ninguém veio a público para pedir desculpas à viúva de Déda.
Por mais que o deputado federal Rogériopresidente estadual do PT, insista em dizer que o  partido está unido, que não há rachas, a fala mais recente de Eliane  não deixa dúvidas sobre  a existência de feridas que não serão facilmente cicatrizadas. A atitude de Rogério e da deputada Ana Lúcia, doisex - Secretários de  Déda, tanto na Prefeitura   como no Governo ,  repercutiu muito mal  na opinião pública, e a interpretação que é feita por grande parte dos sergipanos, poderá até ser injusta, mas,   tanto Rogério como Ana , terão de demonstrar que não colocaram as  ambições  além do respeito que deveriam ter à memoria do ilustre morto. Isso vale ainda mais para Rogério, cuja carreira política foiviabilizada pelo prestígio que lhe deu  Déda.  Rogériodesafiou Déda, seu benfeitor, na disputa pelo comando do partido, quando ele já estava no leito de morte. Rogério comemorou a vitória sobre um quase cadáver, e o cadáver,ele  agora pisoteia.  É assimque interpreta esses episódios, a grande maioria das pessoas que  se apega a valores felizmente ainda não desaparecidos, que passam pela lealdade, a gratidão, a solidariedade humana,  o devido respeito à amizade e ao companheirismo. Tudo oque se choque contra  essa visão ética  da convivência e da própria vida, acaba por identificar  com o ferrete que  é a marca da desonra,àqueles que resvalam no erro de cometer gestos assim tão abominados.
 A desistência de Eliane não terá sido o sinal de um caminho florido para que Rogérioalimente a ambição de tornar-se candidato a Senador.  Ele sentirá dificuldades imensas para unir o partido, para ter a certeza de que todos os petistas nele irão votar. Terá ainda dificuldade maior para convencer a opinião publica sergipana de queagiu com lealdade em relação a  Déda, que o respeitou no leito  de morte e o reverencia no túmulo, como seria dever de um amigo, companheiro, e pessoa em quem Déda sempre depositou uma quase irrestrita confiança, tanto assim, que sacrificou-se ao defendê-lo, e o manteve prestigiado Secretário da Saúde, quando, contra Rogério, crescia  o descontentamento e a revolta de mais de  80% dos seus colegas da classe médica. A rejeição imensa que sobre ele pesa o transformaagora em aliado incômodo.
 Não será tarefa fácil corrigir erros ereconstruir uma imagem, e nesses obstáculos agora intransponíveis vai encalhando a candidatura majoritária do PT.  Nesse caso,até para não perder tempo  ficando refém de um problema insolúvel, o PMDB sergipano,  partido que liderará a disputa com  Jackson candidato ao governo,  mantendo-se leal  ao projeto de reeleição da presidente Dilma ,  poderia, pragmaticamente,a essa altura dos acontecimentos, chegar rapidamente  a uma fórmula política que seria quase certeza de vitória: Jackson governador, Mendonça  Prado Vice, Belivaldo Chagas Senador, tendo Eliane no palanque , e  de onde Rogério e todo o seu grupo não iriam sair. Ou seja, o PT,pela força das circunstancias,  finalmenteficaria unido,  e seu grupo dirigente  teria somente de lamentar o fato de não ter sabido manter, por açodamento e excesso de ambições mal controladas,  pelo menos,  uma parte do espaço político que  Déda construiu para o partido.

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