DUAS CRIANÇAS DE RUA
Quinta- feira, dia 6,duas crianças
dormiam pesadamente sobre a calçada,
quase atravessadas na porta da entrada
principal da agencia do Banese na Atalaia.
Amanheceram ali, e continuavam dormindo quando já passava das 10 da manhã.
Aparentavam ter uns 12 anos . Os clientes do banco entravam e saiam, quase
passando por cima deles,mas a gerente, Edileide Cruz, já telefonara para o
Conselho da Infância e Adolescência. Na
tentativa de providenciar amparo aos meninos se juntaram alguns órgãos do
governo e da prefeitura. Passava de uma hora da tarde quando as crianças
acordaram,e logo sumiram.
Uma pessoa que viu de perto a
desgraça daqueles meninos, resolveu procurá-los à noite. Por volta das 20 horas,os encontrou sentados
na calçada em frente da farmácia São Francisco, bem próxima à agencia do Banese na Avenida Rotary.
Conversando ficou sabendo que eles eram meio irmãos, estavam há mais de um mês na rua porque haviam fugido da casa onde
moravam, no bairro Eduardo Gomes . Disseram que eram vítimas da violência do
padrasto e pai do irmão, que igualmente
apanhava muito. Garantiram que não usavam drogas. Pareciam falar a verdade,e então, a pessoa comprou
para eles alguns chocolates, deu-lhes 20 reais e prometeu que no dia seguinte
iria tentar interna-los em alguma
instituição. Eles disseram que concordariam,desde que não fossem para uma casa
onde já haviam estado e lá apanhavam dos internos maiores.
Na manhã de sexta-feira, a pessoa
voltou a encontrar os meninos, mas então, eles,formando uma quadrilha de quatro menores tentavam assaltar um homem em andrajos que
caminhava sem rumo pela rua, certamente viciado em crack. Intercedeu para livrar o
mendigo, os dois meninos que dormiam na calçada do Banese fugiram, e um que ficou, era mais velho,e disse que todos eles haviam vindo
de Alagoas. Foram chegando outras pessoas
e logo sesoube que os dois também eram assaltantes. Pouco depois, os quatro
sobre a carroceria de uma camionete da policia eram levados a uma delegacia de
menores.
O episódio chega a ser
corriqueiro diante da banalidade em que se transformou uma tragédia social que é
aceita como se fizesse parte do nosso cotidiano, por culpa que não é somente dos governos, mas, sobretudo nossa, de toda a sociedade. Menor abandonado naescola
do crime das ruas deixou de ser motivo de indignação. E é preciso que nos
indignemos com a passividade comodista
que nos torna lenientes diante
de uma inaceitável ignominia. As pessoas secomovem com um cão abandonado,
e passam indiferentes por uma criança dormindo entorpecida numa calçada.
Há um imobilismo que atravessa
diversos setores excessivamente burocratizados, que se apegam a rotinas e
procedimento sineficientes, que criaram os guetos do terno preto e da gravata ou
da bolsa vuiton e do sapato scarpin, e nunca aprenderam a pisar na lama fedida
da realidade das periferias.
Como retirar as crianças das
ruas?
Antes da resposta é preciso sair
em busca de ações positivas pelo mundo afora, até mesmo no Paraguai, que nos
acostumamos a tanto desmerecer. Aqui mesmo, em Aracaju,já tivemos experiências
bem sucedidas. A mais recente, quando o
hoje desembargador Ricardo Múcio era Juiz da Infância e Adolescência. Havia
ações visíveis, eo próprio Juiz aboletava-se
numa Kombi desconfortável e saia pela
noite a dentro catando menores abandonados nas ruas . Tambémagia, paralelamente, na inspeção
constante ao trabalho dos centros de
acolhimento. Havia resultados concretos
traduzidos na redução do numero de crianças perambulando pela cidade. Mas hoje,
cabe a pergunta: O que fazem mesmo esses burocratizados conselhos da Infância e
da Adolescência ? E o que foi feito dos Juizados de Menores ?
Nenhum comentário:
Postar um comentário