sábado, 8 de março de 2014

DUAS CRIANÇAS DE RUA



 DUAS CRIANÇAS DE RUA
Quinta- feira, dia 6,duas crianças dormiam pesadamente  sobre a calçada, quase  atravessadas na porta da entrada principal da agencia do Banese na Atalaia.  Amanheceram ali, e continuavam dormindo quando já passava das 10 da manhã. Aparentavam ter uns 12 anos . Os clientes do banco entravam e saiam, quase passando por cima deles,mas a gerente, Edileide Cruz, já telefonara para o Conselho da Infância e Adolescência.   Na tentativa de providenciar amparo aos meninos se juntaram alguns órgãos do governo e da prefeitura. Passava de uma hora da tarde quando as crianças acordaram,e logo sumiram.
Uma pessoa que viu de perto a desgraça daqueles meninos, resolveu procurá-los à noite.  Por volta das 20 horas,os encontrou sentados na calçada em frente da farmácia São Francisco, bem próxima  à agencia do Banese na Avenida Rotary. Conversando ficou sabendo que eles eram meio irmãos, estavam  há mais de um mês  na rua porque haviam fugido da casa onde moravam, no bairro Eduardo Gomes . Disseram que eram vítimas da violência do padrasto e  pai do irmão, que igualmente apanhava muito. Garantiram que não usavam drogas.  Pareciam falar a verdade,e então, a pessoa comprou para eles alguns chocolates, deu-lhes 20 reais e prometeu que no dia seguinte iria tentar   interna-los em alguma instituição. Eles disseram que concordariam,desde que não fossem para uma casa onde já haviam estado e lá apanhavam dos internos maiores.
Na manhã de sexta-feira, a pessoa voltou a encontrar os meninos, mas então, eles,formando uma quadrilha de  quatro menores  tentavam assaltar um homem em andrajos que caminhava sem rumo pela rua,  certamente  viciado em crack. Intercedeu para livrar o mendigo, os dois meninos que dormiam na calçada do Banese fugiram,  e um que ficou, era  mais velho,e disse que todos eles haviam vindo de Alagoas.  Foram chegando outras pessoas e logo sesoube que os dois também eram assaltantes. Pouco depois, os quatro sobre a carroceria de uma camionete da policia eram levados a uma delegacia de menores.
O episódio chega a ser corriqueiro  diante da banalidade em que se transformou uma tragédia social que é aceita como se fizesse parte do nosso cotidiano,  por culpa que não é somente dos governos, mas,   sobretudo nossa,  de toda a sociedade. Menor abandonado naescola do crime das ruas deixou de ser motivo de indignação. E é preciso que nos indignemos com a passividade comodista  que nos torna  lenientes  diante  de uma inaceitável ignominia. As pessoas secomovem com um cão abandonado,  e passam indiferentes por uma criança  dormindo entorpecida numa calçada.
Há um imobilismo que atravessa diversos setores excessivamente burocratizados, que se apegam a rotinas e procedimento sineficientes, que criaram os guetos do terno preto e da gravata ou da bolsa vuiton e do sapato scarpin, e nunca aprenderam a pisar na lama fedida da realidade das periferias.
Como retirar as crianças das ruas?
Antes da resposta é preciso sair em busca de ações positivas pelo mundo afora, até mesmo no Paraguai, que nos acostumamos a tanto desmerecer. Aqui mesmo, em Aracaju,já tivemos experiências bem sucedidas.  A mais recente, quando o hoje desembargador Ricardo Múcio era Juiz da Infância e Adolescência. Havia ações visíveis, eo  próprio Juiz aboletava-se  numa Kombi desconfortável e saia pela noite a dentro catando menores abandonados nas ruas .  Tambémagia, paralelamente, na inspeção constante ao trabalho  dos centros de acolhimento.  Havia resultados concretos traduzidos na redução do numero de crianças perambulando pela cidade. Mas hoje, cabe a pergunta: O que fazem mesmo esses burocratizados conselhos da Infância e da Adolescência ? E o que foi feito dos Juizados de Menores ?

Nenhum comentário:

Postar um comentário