O
CASO CARNALITA E O ECTOPLASMA
DO SENADOR ARGEMIRO FIGUEIREDO
Sergipe
ainda não conseguiu vencer o ranço saudosista dos tempos do carro de
boi. A nostalgia do passado que está impregnada em diversos setores da
sociedade, se manifesta com mais visibilidade, e também perversos efeitos, na
nossa classe política. Diz o desembargador aposentado Pascoal D´Avila Nabuco
que, na sua grande maioria, os políticos sergipanos dão-se por satisfeitos quando
conseguem verbas para fazer praças, reformar escolas e calçar ruas. Essa
resistência conservadora, no pior sentido do termo, pois não se trata de
preservar valores, tradições, mas, apenas e tão somente eternizar privilégios,
vem desafiando o tempo e atravessando governos.
A partir da redemocratização com o fim do Estado Novo, há uma visível contradição entre ações
modernizadoras dos governadores e as resistências, não raro localizadas nas suas
bases políticas. O conflito se resolve
na medida em que são feitas as amplas concessões para que surjam espaços possíveis
para medidas progressistas, ainda que tímidas. Quando as tentativas de romper a
barreira do atraso se tornam mais consistentes, com maior potencial de mudança,
ai, as resistências se transformam até em sabotagem aos interesses do próprio
estado, e a vítima maior é invariavelmente o povo.
O economista Dilson Barreto em
primoroso livro, conta com detalhes que
mais valorizam a sofrida novela ( porque foi ele um importante protagonista do
enredo) a batalha pelo desenvolvimento de Sergipe do qual o CONDESE, onde
estava uma elite de pensadores, tornou-se um dos principais instrumentos. Há
outros importantes trabalhos relatando a mesma luta, escritos por economistas e
militantes políticos, e aqui destacamos os livros dos professores Paulo Barbosa de Araújo e Nilton Pedro.
Sergipe tem uma vigorosa história
de resistência ao atraso, apesar dos pesares, razoavelmente bem sucedida.
Houve, em 1961, a solerte
tentativa de sufocar a SUDENE, através de um senador paraibano Argemiro de
Figueiredo, porta – voz dos latifúndios dos ¨coroneis ¨ onde, nos currais, se misturavam bois e
eleitores, e tudo era a mesma coisa.
A SUDENE
planejava um novo nordeste, livre do latifúndio improdutivo, um nordeste
que aposentasse de vez a economia do carro de boi. Celso Furtado idealizou uma inteligente
política de incentivos que tornou
possível a industrialização .
Mas como ? Mexer na secular estrutura rural, dar
dignidade ao trabalhador, gerar empregos com carteira assinada, acabar a
prepotência dos ¨¨ coronéis,¨ dos senhores de engenho , libertar o povo da
submissão e da degradação da miséria?
Isso era comunismo, coisa dos
agentes vermelhos a soldo do ouro de Moscou.
A sociedade sergipana mobilizou-se em defesa
da SUDENE, houve uma rara e expressiva
unanimidade na classe política. Naquele
tempo, apesar dos radicalismos que separavam udenistas e pessedistas, havia um compromisso maior com o interesse
público.
Uma delegação de Sergipe formada
por estudantes, políticos, sindicalistas
e empresários, estava presente no enorme
comício que se realizou no Recife, na Pracinha do Diário. Saíram todos da Prefeitura, na rua da Aurora,
cruzaram o Capeberibe pela ponte Duarte
Coelho, atravessaram a Avenida Guararapes, acompanhando o prefeito Miguel Arrais.
Subiram ao palanque onde estava o
governador Cid Sampaio cunhado e
adversário de Arrais. Pouco depois, sem que se
soubesse porquê, a cavalaria da policia investia contra o povo. Arrais teve um entrevero público com Cid, que
pedia desculpas pelo incidente. Depois
daquele comício onde em nome dos sergipanos falou o comunista Agonalto Pacheco,
a reforçada unidade do nordeste pôs fim
à investida contra a SUDENE, e também sepultou, como político, o senador
Argemiro Figueiredo, sempre lembrado anos a fio quando se pretendia identificar
um¨ inimigo do povo.¨
Hoje ninguém ousa assumir uma posição clara contra o progresso, a
modernização, a geração de empregos, a conscientização do eleitor, mas, nesse
infeliz episódio da sabotagem a um projeto que custará 4 bilhões de reais, vai
gerar 14 mil empregos e alavancar fortemente a economia sergipana, o ectoplasma do senador Argemiro parece que
anda a materializar-se no comportamento de alguns políticos, que, da
mesma forma como fizeram para retardar o PROIVESTE, agora descobrem,
inventam pretextos, para atrapalhar ou impedir a
implantação do Projeto Carnalita .
Acreditam, pessoas possuidoras de mediunidade, cientistas que
estudam os fenômenos
metapsiquicos, que os fluidos imateriais, ou seja, o ectoplasma, operado por espíritos, circula
entre corpos daqueles que tenham maiores afinidades, comportamento parecido, ideias aproximadas,
ou, até exerçam atividades similares.
Agora, Argemiro, ainda que invisível,
estaria a realizar o desejo de voltar a circular pelo Senado da
República, embutido em alguém que seria uma espécie de alma gêmea.
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