A TRADIÇÃO DOS BRAÇOS DADOS
Andar de braços dados já foi
costume corriqueiro, isso há coisa de mais de meio século. Era mais comum entre
políticos. Os braços entrelaçados, principalmente numa caminhada pela rua de
João Pessoa, entre as 4 e as 5 da tarde era assim como se fosse demonstração
explícita de perfeito entrosamento, algo que chefes políticos faziam quando se
espalhavam boatos sobre divergências, e era preciso desfazê-las ostensivamente.
Nada melhor do que o passeio pela principal rua da cidade, onde nasciam e
também se desfaziam todos os boatos, maledicências, e as vezes prenúncios do
que poderia acontecer.
Num cair de tarde, quando o Ponto Chic fervilhava, sorveteria cheia,
calçadas da esquina ocupadas por pequenos grupos, na conversa habitual depois
do expediente nas repartições, nas casas comerciais, passam, de braços dados, o
Secretário da Segurança Heribaldo Vieira( na época diziam que era Secretário da
Insegurança) e o professor Antônio Carlos Vasconcelos, acompanhados pelo empresário e
proprietário da poderosa Rádio Liberdade, Albino Silva . Era a sinalização
evidente de que o grupo de Heribaldo não ficara nada satisfeito com a
exoneração do professor Vasconcelos da
Diretoria Estadual da Educação.
Vasconcelos,
um advogado culto, professor de línguas e portador de um espírito
indomável de liberdade que manifestava a toda hora em críticas sempre bem
humoradas, estivera dois dias antes participando de uma reunião muito formal,
onde compareceram, entre outros, os respeitados educadores dos
colégios, Salvador, Jackson Figueiredo,
Menino Jesus. Tratava-se da criação em Sergipe dos Escoteiros. Em dado momento,
cansado de ouvir um chatíssimo senhor que explicava como seria a vida dos escoteiros, as incursões pelos campos, as
noites passadas nas barraquinhas,
Vasconcelos disparou: ¨E esses meninos dormindo apertados nessas
barraquinhas não vai terminar em
viadagem ?
A reunião terminou ali, com
senhoras ruborizadas e homens de cenhos
carregados. No dia seguinte, um indignado governador Leandro Maciel, dava a canetada em Vasconcelos.
Em outro episódio, quando um
boato sobre a falência do Banco Dantas Freire, provocava uma corrida
de saques , o governador Leandro Maciel foi daquela vez o protagonista do
passeio de braços dados pela rua João
Pessoa. Saiu a pé do Palácio braços
dados com o banqueiro Murilo Dantas , andou pela João Pessoa até a esquina de São
Cristovão, retornou ao banco já acompanhado por um grupo de amigos, quase todos
pecuaristas e comerciantes, abastados,
como se dizia na época, entraram no Dantas Freire e fizeram depósitos. No outro
dia, quando o banco abriu,. a corrida dos saques já tomara sentido inverso.
O prefeito de Aracaju João Alves resolveu reeditar o antigo costume. Saindo com o governador Jackson Barreto a
percorrer a Orla da Atalaia, atrelou ao dele o seu braço e assim caminharam.
As interpretações ficam a cargo
de cada um.
Nenhum comentário:
Postar um comentário