sábado, 15 de fevereiro de 2014

A TRADIÇÃO DOS BRAÇOS DADOS



A TRADIÇÃO DOS BRAÇOS DADOS
Andar de braços dados já foi costume corriqueiro, isso há coisa de mais de meio século. Era mais comum entre políticos. Os braços entrelaçados, principalmente numa caminhada pela rua de João Pessoa, entre as 4 e as 5 da tarde era assim como se fosse demonstração explícita de perfeito entrosamento, algo que chefes políticos faziam quando se espalhavam boatos sobre divergências, e era preciso desfazê-las ostensivamente. Nada melhor do que o passeio pela principal rua da cidade, onde nasciam e também se desfaziam todos os boatos, maledicências, e as vezes prenúncios do que poderia acontecer.
Num cair de tarde, quando  o Ponto Chic fervilhava, sorveteria cheia, calçadas da esquina ocupadas por pequenos grupos, na conversa habitual depois do expediente nas repartições, nas casas comerciais, passam, de braços dados, o Secretário da Segurança Heribaldo Vieira( na época diziam que era Secretário da Insegurança)  e o professor Antônio Carlos  Vasconcelos, acompanhados pelo empresário e proprietário da poderosa Rádio Liberdade, Albino Silva . Era a sinalização evidente de que o grupo de Heribaldo não ficara nada satisfeito com a exoneração  do professor Vasconcelos da Diretoria  Estadual da Educação.
 Vasconcelos,  um advogado culto, professor de línguas e portador de um espírito indomável de liberdade que manifestava a toda hora em críticas sempre bem humoradas, estivera dois dias antes participando de uma reunião muito formal, onde  compareceram,  entre outros, os respeitados educadores dos colégios, Salvador, Jackson  Figueiredo, Menino Jesus. Tratava-se da criação em Sergipe dos Escoteiros. Em dado momento, cansado de ouvir um chatíssimo senhor  que explicava como seria a vida  dos escoteiros, as incursões pelos campos, as noites passadas nas barraquinhas,  Vasconcelos disparou: ¨E esses meninos dormindo apertados nessas barraquinhas não vai terminar em  viadagem ?
A reunião terminou ali, com senhoras  ruborizadas e homens de cenhos carregados.  No dia seguinte,  um  indignado governador Leandro Maciel,  dava a canetada em Vasconcelos.
Em outro episódio, quando um boato  sobre a falência  do Banco Dantas Freire, provocava uma corrida de saques , o governador Leandro Maciel foi daquela vez o protagonista do passeio  de braços dados pela rua João Pessoa. Saiu a pé do Palácio  braços dados com o banqueiro Murilo Dantas ,   andou pela João Pessoa até a esquina de São Cristovão, retornou ao banco já acompanhado por um grupo de amigos, quase todos pecuaristas  e comerciantes, abastados, como se dizia na época, entraram no Dantas Freire e fizeram depósitos. No outro dia, quando o banco abriu,. a corrida dos saques já  tomara sentido inverso.
 O prefeito de Aracaju João Alves  resolveu reeditar o antigo costume.  Saindo com o governador Jackson Barreto a percorrer a Orla da Atalaia, atrelou ao dele o seu braço e assim caminharam.
As interpretações ficam a cargo de cada um.

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