A FÁBULA DO MACACO GUIGÓ
E DO PREFEITO SEU ZEQUIÉ
O
macaco Guigó, na linha de
classificação zoológica está entre aqueles bichos que mais se aproximam do homo – sapiens, o bicho homem.
Como se sabe, aqui em Sergipe os guigós
viraram sensação quando foram vistos nas
matas do Junco, em Capela. Para preservar a morada do simpático macaquinho, Genival Nunes, Secretário do Meio Ambiente levou a
Déda a ideia de transformar o Junco numa área de proteção ambiental, com foco
na preservação da vida selvagem. O nosso governador que se foi tão cedo, gostou da sugestão, e
saiu o decreto criando a reserva . O macaquinho capelense agora está tranquilo,
vivendo em paz, sem a ameaça de destruição da sua morada.
Mas, ultimamente, o Guigó perdeu
o sossego. Essas notícias sobre o Projeto Carnalita acabaram por inquietá – lo.
Ele é um macaco, mas nem por isso é alheio à sorte dos seus vizinhos humanos, que,
algumas vezes, até o transformaram em disputada iguaria.
Então, como nas fábulas que vêm desde Esopo, na
Grécia antiga, ( século sexto antes de Cristo ) chegando, no século 17, ao mais
famoso fabulista e contador de estórias para crianças, o francês La Fontaine, o
macaco capelense começou a falar. La
Fontaine celebrizou--se pelas fábulas que escreveu dirigidas ao público infantil, mas ele era
também um exímio narrador de estórias altamente eróticas, pornografia pura.
Aqui, o macaco falante ficará na faixa bem comportada da política, que, todavia,
em alguns episódios, muito se parece com a mais
grosseira das sacanagens.
Tendo adquirido o dom da fala, o
Macaco Guigó pediu uma audiência ao
Prefeito Zequié. Numa folga entre seus negócios
da usina e dos canaviais, seu
Zequié o atendeu na Prefeitura.
Vejamos então o diálogo que
aconteceu entre o símio que vive no
ambiente selvagem e o humano que vive no mundo dos negócios e da política,
sendo tudo, evidentemente, uma fábula:
Macaco Guigó : Senhor prefeito eu agradeço a
deferência de ser assim tão bem recebido por Vossa Excelência. Se não estou
enganado, seria eu o primeiro primata a entrar na Prefeitura da Capela. Há
controvérsias, mas, eu prefiro
alimentar a vaidade de me considerar pioneiro.
Seu Zequié : Macaco, não tenho muito tempo a perder, preciso voltar para os meus canaviais, seja breve.
Macaco Guigó : Senhor prefeito,
com a devida vênia, permita-me fazer-lhe uma observação sobre a sua insistência
em proibir a Vale de explorar a carnalita aqui,
na Capela, onde eu vivo e o senhor também, alegando que a indústria, ficando em Japaratuba, para Capela será um
desastre. Eu cá, como macaco que não entende muito dessas coisas, acho, por uma
questão de bom senso, que a solução não
é proibir, a solução seria negociar, conseguir todas as vantagens possíveis
para Capela. Se o projeto da Vale não for feito
será bem pior. Eu gosto de caminhar, de sair por aí vendo as coisas. O
senhor sabe quantas famílias pobres existem em Capela, quantos jovens estão
precisando de emprego? Sabe quantas casas seriam construídas em
Capela para os milhares de trabalhadores? Quanto dinheiro iria circular em
nosso município, quantas pessoas iriam ter trabalho ?
Prefeito Zequié: Capela não vai perder nada, quem perde é o
governo de Sergipe.
Macaco Guigó: E o governo
perdendo, quem sai ganhando seu Zequié?
Prefeito Zequié: Macaco, eu estou de saco cheio , vá embora daqui, a
carnalita não sai, a carnalita está no nosso chão , é uma riqueza nossa, e
pronto.
Macaco Guigó: É por isso que eu,
um primata como vocês nos chamam, digo que falta bom senso nessa teimosia.
De longe, porque não sou intrometido, e sei bem da minha posição como
macaco, fiquei olhando quarta-feira a
festa da inauguração da cerâmica de Seu Lino. É uma beleza, moderna, não
destrói a floresta para fazer lenha e queimar nos fornos, é tudo elétrico. Como
morador da floresta bato palmas para seu
Lino.
Antes que o senhor me ponha para fora eu lhe
pergunto: O senhor sabe de onde vem todo o barro que a cerâmica de Seu Lino usa
? Eu respondo: Vem, todinho, de Muribeca, aqui junto. O barro
é um mineral. Se o prefeito de Muribeca
seguir o seu exemplo , ele proíbe a
saída do barro , e aí a cerâmica de
Capela vai pro beleleu. O prejuízo não
será só de seu Lino, será de Capela, de Muribeca, de toda a região, de Sergipe.
Fique sabendo, eu vivo aqui em
Capela, e me considero um macaco
capelense e sergipano.
A sorte de Sergipe e dos sergipanos não me é indiferente.
Seu Zequié :
Macaco, deixe de dar opinião, de viver se metendo onde não é chamado, vá
embora.
Macaco Guigó
: Eu vou embora mesmo, desisto. Nunca
imaginei que o diálogo com os humanos fosse tão difícil, tão complicado. E
afinal eu sou um selvagem, não tenho nada que me meter com as coisas de
gente civilizada, de gente que é inteligente. Eu sou apenas um primata.
Desculpe-me, senhor prefeito, perdoe a minha insolência. Se um dia quiser me
dar a honra de uma visita eu estou sempre na Mata do Junco, aquela mesma que
agora nos pertence, e de onde um dia o senhor tirou lenha para queimar no forno
do seu engenho.
Antes de ir-me
embora eu faço uma última pergunta, e nem precisa responder: Prefeito Zequié,
quando a PETROBRAS fura um poço de petróleo em Carmópolis, pede autorização à
prefeita Esmeralda ? Pois é, me disseram que a PETROBRAS tira petróleo e gás de
Carmópolis desde 1963, leva tudo para a Bahia, e só agora apareceu uma refinaria
que vai ficar aqui em Sergipe, em Carmópolis.
Já pensou se os prefeitos de Carmópolis houvessem agido como o senhor
faz agora ?
Se não fosse a exploração do petróleo o que
seria hoje de Carmópolis e de Sergipe, seu Zequié?
Seu
Zequié: Macaco, vá à macaca que lhe
pariu........
Lembram-se
daquele antigo programa da Globo, o
Planeta dos Macacos. Havia um bordão criado por Jô Soares: ¨E o macaco tá
certo.... ¨
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