sábado, 15 de fevereiro de 2014

A FÁBULA DO MACACO GUIGÓ E DO PREFEITO SEU ZEQUIÉ



A FÁBULA DO MACACO GUIGÓ
E DO PREFEITO SEU ZEQUIÉ
O  macaco Guigó,  na linha de classificação zoológica está entre aqueles bichos que mais se aproximam do  homo – sapiens, o bicho homem.
 Como se sabe, aqui em Sergipe os guigós viraram sensação quando  foram vistos nas matas do Junco, em Capela. Para preservar a morada do  simpático macaquinho, Genival  Nunes, Secretário do Meio Ambiente levou a Déda a ideia de transformar o Junco numa área de proteção ambiental, com foco na preservação da vida selvagem. O nosso  governador  que se foi tão cedo, gostou da sugestão, e saiu o decreto criando a reserva . O macaquinho capelense agora está tranquilo, vivendo em paz, sem a ameaça de destruição da sua morada.
Mas, ultimamente, o Guigó perdeu o sossego. Essas notícias sobre o Projeto Carnalita acabaram por inquietá – lo. Ele é um macaco,  mas nem por isso é  alheio à sorte dos seus vizinhos humanos, que, algumas vezes, até o transformaram em disputada iguaria.
Então, como nas fábulas          que vêm desde Esopo,       na Grécia antiga, ( século sexto antes de Cristo ) chegando, no século 17, ao mais famoso fabulista e contador de estórias para crianças, o francês La Fontaine,   o macaco  capelense começou a falar. La Fontaine celebrizou--se pelas fábulas que escreveu  dirigidas ao público infantil, mas ele era também um exímio narrador de estórias altamente eróticas, pornografia pura. Aqui, o macaco falante ficará na faixa bem comportada da política, que, todavia, em alguns episódios, muito se parece com  a mais  grosseira das sacanagens.
Tendo adquirido o dom da fala, o Macaco Guigó  pediu uma audiência ao Prefeito Zequié. Numa folga entre seus negócios  da usina e dos canaviais, seu  Zequié o atendeu na Prefeitura.
Vejamos então o diálogo que aconteceu entre o símio  que vive no ambiente selvagem e o humano que vive no mundo dos negócios e da política, sendo tudo, evidentemente, uma fábula:
 Macaco Guigó : Senhor prefeito eu agradeço a deferência de ser assim tão bem recebido por Vossa Excelência. Se não estou enganado, seria eu o primeiro primata a entrar na Prefeitura da Capela. Há controvérsias,   mas, eu prefiro alimentar a vaidade de me considerar pioneiro.
Seu Zequié : Macaco,  não tenho muito tempo a perder, preciso  voltar para os meus canaviais, seja breve.
Macaco Guigó : Senhor prefeito, com a devida vênia, permita-me fazer-lhe uma observação sobre a sua insistência em  proibir a  Vale de explorar a carnalita  aqui,   na Capela, onde eu vivo e o senhor também, alegando que a indústria,   ficando em Japaratuba, para Capela será um desastre. Eu cá, como macaco que não entende muito dessas coisas, acho, por uma questão de bom senso, que  a solução não é proibir, a solução seria negociar, conseguir todas as vantagens possíveis para Capela. Se o projeto da Vale não for feito  será bem pior. Eu gosto de caminhar, de sair por aí vendo as coisas. O senhor sabe quantas famílias pobres existem em Capela, quantos jovens estão precisando de  emprego?  Sabe quantas casas seriam construídas em Capela para os milhares de trabalhadores? Quanto dinheiro iria circular em nosso município,   quantas pessoas iriam ter trabalho ?
Prefeito Zequié:  Capela não vai perder nada, quem perde é o governo de Sergipe.
Macaco Guigó: E o governo perdendo, quem sai ganhando seu Zequié?
Prefeito  Zequié: Macaco, eu  estou de saco cheio , vá embora daqui, a carnalita não sai, a carnalita está no nosso chão , é uma riqueza nossa, e pronto.
Macaco Guigó: É por isso que eu, um primata como vocês nos chamam, digo que falta bom senso nessa  teimosia.   De longe, porque não sou intrometido, e sei bem da minha posição como macaco, fiquei olhando quarta-feira a  festa da inauguração da cerâmica de Seu Lino. É uma beleza, moderna, não destrói a floresta para fazer lenha e queimar nos fornos, é tudo elétrico. Como morador da  floresta bato palmas para seu Lino.
 Antes que o senhor me ponha para fora eu lhe pergunto: O senhor sabe de onde vem todo o barro que a cerâmica de Seu Lino usa ? Eu respondo: Vem, todinho, de Muribeca, aqui junto.   O barro é um mineral.  Se o prefeito de Muribeca seguir o  seu exemplo , ele proíbe a saída do barro ,  e aí a cerâmica de Capela  vai pro beleleu. O prejuízo não será só de seu Lino, será de Capela, de Muribeca, de toda a região, de Sergipe.  Fique sabendo, eu vivo aqui em Capela,  e me considero um macaco capelense e sergipano.
A sorte de Sergipe  e dos sergipanos não me é indiferente.
Seu Zequié : Macaco, deixe de dar opinião, de viver se metendo onde não é chamado, vá embora.
Macaco Guigó :  Eu vou embora mesmo, desisto. Nunca imaginei que o diálogo com os humanos fosse tão difícil, tão complicado. E afinal  eu sou um selvagem, não  tenho nada que me meter com as coisas de gente civilizada, de gente que é inteligente. Eu sou apenas um primata. Desculpe-me, senhor prefeito, perdoe a minha insolência. Se um dia quiser me dar a honra de uma visita eu estou sempre na Mata do Junco, aquela mesma que agora nos pertence, e de onde um dia o senhor tirou lenha para queimar no forno do seu engenho.
Antes de ir-me embora eu faço uma última pergunta, e nem precisa responder: Prefeito Zequié, quando a PETROBRAS fura um poço de petróleo em Carmópolis, pede autorização à prefeita Esmeralda ? Pois é, me disseram que a PETROBRAS tira petróleo e gás de Carmópolis desde 1963, leva tudo para a Bahia, e só agora apareceu uma refinaria que vai ficar aqui em Sergipe, em Carmópolis.  Já pensou se os prefeitos de Carmópolis houvessem agido como o senhor faz agora ?
 Se não fosse a exploração do petróleo o que seria hoje de Carmópolis e de Sergipe, seu Zequié?
Seu Zequié:  Macaco, vá à macaca que lhe pariu........
Lembram-se daquele antigo programa da  Globo, o Planeta dos Macacos. Havia um bordão criado por Jô Soares: ¨E o macaco tá certo.... ¨

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