QUEM SEMEIA VENTOS
COLHE TEMPESTADES ?
ONG significa: Organização Não Governamental. Mas,
não existe nada tão encrustada aos governos do que a grande maioria dessas
entidades que se espalharam epidemicamente por todo o país, desde quando se
descobriu que é muito fácil posar de bom moço e virar mecenas com o dinheiro
público. Sem desmerecer das funções desempenhadas pelo chamado Terceiro Setor,
aquelas entidades privadas que suprem as atividades ou preenchem o vácuo
deixado pelos governos, torna-se cada vez mais ostensivo o desvirtuamento das
finalidades específicas das ONGs, e a transformação de muitas delas em poluídos
canais de desvio dos recursos públicos. Se dependesse das boas intenções todos
estaríamos a usufruir dos benefícios gerados pelas entidades de direito
privado, criadas, todas, pelos que se dispõem a dar, sempre magnanimamente, uma
parcela de colaboração com vistas ao bem comum. Todavia, não há Pai Nosso, por
mais salmodiadame nte repetido, que nos livre inteiramente das tentações
criadas pela facilidade em manipular recursos que não nos pertencem. As ONGs,
hoje, fazem exatamente isso: Mexem com cifras enormes de dinheiro saído dos
cofres públicos. No caminho que leva ao objetivo final, que é a aplicação em
projetos sociais, científicos, ambientais, culturais, o reluzir bem próximo do
chamado vil metal, tanto atrai e tanto seduz, que o público pode acabar se
transformando em privado. E lá se vão as mais puras e belas intenções. Dai, a
necessidade de
existir um eficaz acompanhamento de todo o trajeto
percorrido pelos dinheiros que saem do governo, fazem escala nas ONGs, antes
de, teoricamente, irem parar na sociedade, seu destino final. Quando o volume
de recursos salta à vista, de tão portentosos, e os benefícios não se fazem
evidentes, então, surge a suspeita em relação à eficácia social dessas
organizações ditas não governamentais, e é preciso, em relação a muitas delas,
fazer-se uma avaliação criteriosa sobre o binômio custo- beneficio, porque o
real desperdiçado, ou desviado, sai do sempre extorquido bolso do contribuinte.
Agora, descobre-se através de ações simultâneas
deflagradas pelo Ministério Público e pelo Tribunal de Contas, que uma ONG, top
de linha do charme badalativo, e da eloquência descritiva dos beneméritos
propósitos, a SEMEAR, foi o terreno fértil que atraiu, apenas em dois anos, a
exuberante semeadura de 40 milhões de reais, saídos dos cofres públicos. A
SEMEAR, é sigla no mínimo audaciosa de uma ONG que se propõe a fazer ¨estudos
múltiplos ¨ e, mais especificamente, a tratar de ecologia e arte. A SEMEAR
planta, pinta e borda, talvez costure, e vai além: Faz também consultoria, seja
em educação, saúde, e avança, semeando sempre pelos diversificados terrenos do
conhecimento, e das atividades humanas. Vai da
prosa e da poesia às matemáticas, à botânica e geologia. Se um dia aquele
modesto e primitivo aeróstato ladeado por índios emplumados, o nosso sergipano
brasão, der lugar a um aerodinâmico foguete simbolizando nossas pretensões
espaciais, algum artista da SEMEAR poderá ter oferecido oportuna consultoria
para a elaboração da sofisticada e certamente dispendiosa infomarca.
A entidade sem dúvidas é ágil. Como se diz no
popular: Está em todas.
Depois de tanto haver semeado, o que no mínimo se
espera é que a SEMEAR exiba os resultados de uma portentosa safra de benefícios
sociais.
Isso, pelo menos, é o que exigem agora o Ministério
Público e o Tribunal de Contas de Sergipe.
O Procurador Geral Orlando Rochadel encaminhou,
para análise do Tribunal de Contas, o inquérito aberto pela Promotora de
Justiça Ana Paula Machado. Responsável pelo acompanhamento do Terceiro Setor, a
Promotora exige da SEMEAR que obedeça às regras básicas de um comportamento
transparente. Já o Tribunal de Contas, após relatório apresentado pelo
conselheiro Ulices Andrade, por determinação do presidente, conselheiro Carlos
Alberto Sobral, vai aprofundar a análise nas contas que deverão, segundo o
procurador João Augusto Bandeira, incluir minuciosas informações sobre os frutos
sociais obtidos a partir da semeadura de milhões de reais nos projetos tocados
pela entidade que, sozinha, recebeu mais recursos do que todas as ONGs
existentes em Sergipe.
A SEMEAR, que tem no seu quadro de fundadores e
dirigentes nomes de projeção e respeitabilidade, certamente irá demonstrar que
não semeou ventos correndo o risco de colher tempestades.
Nenhum comentário:
Postar um comentário