A VALQUIRIA E O CHAPEU DE COURO
O nome da operação policial foi sugestivo:
Valquiria. Não se sabe se alguém na polícia sergipana
teria escolhido a denominação inspirado na cultura popular germânica. Se isso aconteceu,
os agentes que fizeram a bem sucedida
investida contra a criminalidade em Itabaiana, poderiam
ter chegado triunfalmente ao
som vigoroso, quase marcial, da
introdução de As Valquirias, ópera do
compositor Richard Wagner.
Acostumados certamente ao forró e
ao axé, os bandidos que foram presos ou mortos, teriam ficado mais assustados
ainda com aquela música estranha, que para eles
seria como se fosse o fundo musical a anunciar a chegada da própria
morte.
Teatralizações
à parte, o Secretário João Eloy, o
coronel Iunes, devem estar muito satisfeitos com a ofensiva policial que
eliminou um covil ousado da criminalidade montado em Itabaiana, com ramificações em Aracaju e Ribeirópolis e ainda em Garanhuns e
São Paulo, onde as policias agiram em sintonia com a sergipana.
A
dimensão do esquema criminoso não foi surpresa para o comando da operação que
já tinha informações seguras sobre o tamanho dos tentáculos do polvo, mas, o
reaparecimento nas manchetes policiais de Maurício Novaes Guedes, o Chapéu de
Couro, foi uma inesperada novidade para aqueles que já o imaginavam morto, e tanto conheceram suas ¨façanhas ¨ desde os anos sessenta até
os oitenta.
Chapéu de
Couro é o tipo exato do pistoleiro
nordestino. Homem rude, egresso do meio da vaqueirama acostumada às lidas brutas, trocou o gibão e a espora pela pistola e o
punhal . Mauricio
Guedes revelava uma outra característica que o fazia conviver com
intimidade nas casas grandes das fazendas: sempre foi educado, de fino trato e
gentil no convívio com os patrões. A
coragem juntou com a inteligência
esperta para sobreviver, montando uma rede de interesses e conivências onde,
não raro, entravam políticos poderosos.
Nunca se
soube porém que Maurício Guedes se envolvesse com tráfico de drogas e assaltos.
Seu negócio era o jogo do bicho o gado ,
e, eventualmente, a utilização da pistola, pratica da qual já se teria
aposentado, após um longo período na cadeia, e o peso dos anos que foi
sentindo.
Maurício
Guedes, o Chapéu de Couro, apareceu na cena sergipana alavancado por um outro
Chapéu de Couro, um paraibano que já era
famoso no nordeste como exímio matador. Quando em 1967 foi assassinado
em Itabaiana o chefe político Manoel Teles, o secretário de segurança do governador Lourival
Baptista, Joalbo Barbosa, que era coronel do exército, começou a prender meio
mundo, começando por Francisco Teles de Mendonça, Chico de Miguel, que em
Itabaiana era o sucessor político de Euclides
Paes Mendonça, deputado federal, adversário de Manoel Teles, que foi
trucidado pela polícia juntamente com o seu filho, deputado estadual, quase um
adolescente, Antônio Mendonça. Ninguém esperava que depois da morte de Euclides
que aconteceu em 1963, seu inimigo Manoel Teles conseguisse sobreviver por
muito tempo.
Lourival que não estava gostando
nada daquela onda de prisões que o
coronel Joalbo efetuava, com a colaboração dos serviços de inteligência do
exército, e desconfiava até que a ¨inteligencia ¨ não fosse tanta, havendo mais
um bate- cabeça do que uma estratégia, estava no Recife, participando de uma reunião mensal da
SUDENE, sentado ao lado do amigo
governador da Paraíba, João Agripino,
e dele ouviu a revelação: ¨Lourival mande a sua polícia suspender o que
está fazendo, quem matou o deputado foi um pistoleiro aqui da Paraiba, Chapéu
de Couro. Eu queria lhe fazer uma surpresa, mandei prendê-lo em Cajazeiras,
mas ele fugiu . Vai ser difícil encontrá-lo,
há muito chefe político pronto para o acoitar em fazendas espalhadas por todo o nordeste.¨
Começou então a caça ao Chapéu de
Couro paraibano. Nesse tempo também entrava em cartaz o Chapéu de Couro sergipano, por muito tempo
confundido com o da Paraiba.
Resta saber qual dos dois era mais ¨eficiente ¨.
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