segunda-feira, 26 de agosto de 2013

A VALQUIRIA E O CHAPEU DE COURO



  A VALQUIRIA E O CHAPEU DE COURO
 O nome da operação policial foi sugestivo: Valquiria.   Não se sabe se alguém na polícia sergipana teria escolhido a denominação inspirado na cultura popular germânica. Se isso aconteceu, os agentes que  fizeram a bem sucedida investida contra a criminalidade em Itabaiana,  poderiam  ter  chegado triunfalmente ao som  vigoroso, quase marcial, da introdução de As Valquirias, ópera  do compositor Richard Wagner.   Acostumados  certamente ao forró e ao axé, os bandidos que foram presos ou mortos, teriam ficado mais assustados ainda com aquela música estranha, que para eles  seria como se fosse o fundo musical a anunciar a chegada da própria morte.
Teatralizações à parte, o Secretário João Eloy,  o coronel Iunes,  devem estar muito  satisfeitos com a ofensiva policial que eliminou um covil ousado da criminalidade montado em Itabaiana,  com ramificações em  Aracaju e Ribeirópolis e ainda em Garanhuns e  São Paulo, onde as policias  agiram em sintonia com a sergipana.
A dimensão do esquema criminoso não foi surpresa para o comando da operação que já tinha informações seguras sobre o tamanho dos tentáculos do polvo, mas, o reaparecimento nas manchetes policiais de Maurício Novaes Guedes, o Chapéu de Couro, foi uma inesperada novidade para aqueles que já o imaginavam morto,  e tanto conheceram  suas ¨façanhas ¨ desde os anos sessenta até os oitenta.
Chapéu de Couro é o tipo  exato do pistoleiro nordestino. Homem rude,  egresso do  meio da vaqueirama acostumada às lidas brutas,  trocou o gibão e a espora pela pistola e o punhal   .  Mauricio  Guedes revelava uma outra característica que o fazia conviver com intimidade nas casas grandes das fazendas: sempre foi educado, de fino trato e gentil no convívio com os patrões.  A coragem  juntou com a inteligência esperta para sobreviver, montando uma rede de interesses e conivências onde, não raro, entravam políticos poderosos.
Nunca se soube porém que Maurício Guedes se envolvesse com tráfico de drogas e assaltos. Seu negócio era o jogo do bicho  o gado , e, eventualmente, a utilização da pistola, pratica da qual já se teria aposentado, após um longo período na cadeia, e o peso dos anos que foi sentindo.
Maurício Guedes, o Chapéu de Couro, apareceu na cena sergipana alavancado por um outro Chapéu de Couro, um paraibano que já era  famoso no nordeste como exímio matador. Quando em 1967 foi assassinado em Itabaiana o chefe político Manoel Teles, o  secretário de segurança do governador Lourival Baptista, Joalbo Barbosa, que era coronel do exército, começou a prender meio mundo, começando por Francisco Teles de Mendonça, Chico de Miguel, que em Itabaiana era o sucessor político de Euclides  Paes Mendonça, deputado federal, adversário de Manoel Teles, que foi trucidado pela polícia juntamente com o seu filho, deputado estadual, quase um adolescente, Antônio Mendonça. Ninguém esperava que depois da morte de Euclides que aconteceu em 1963, seu inimigo Manoel Teles conseguisse sobreviver por muito tempo.
Lourival que não estava gostando nada daquela onda de prisões  que o coronel Joalbo efetuava, com a colaboração dos serviços de inteligência do exército, e desconfiava até que a ¨inteligencia ¨ não fosse tanta, havendo mais um bate- cabeça do que uma estratégia, estava no  Recife, participando de uma reunião mensal da SUDENE, sentado ao lado do amigo  governador da Paraíba, João Agripino,  e dele ouviu a revelação: ¨Lourival mande a sua polícia suspender o que está fazendo, quem matou o deputado foi um pistoleiro aqui da Paraiba, Chapéu de Couro.  Eu queria lhe fazer  uma surpresa, mandei prendê-lo em Cajazeiras, mas ele fugiu .  Vai ser difícil encontrá-lo, há muito chefe político pronto para o acoitar  em fazendas espalhadas por todo o nordeste.¨
Começou então a caça ao Chapéu de Couro paraibano.  Nesse tempo  também entrava em cartaz o  Chapéu de Couro sergipano, por muito tempo confundido com o da Paraiba.
Resta saber qual dos dois  era mais ¨eficiente ¨.

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