DO BAILE DE TAMANCOS DE¨SEU ¨
MACEDO
AO ¨ TRABALHISMO ¨
DE EDIVAN AMORIM
Francisco de Araujo
Macedo,foi um líder que destoava do figurino adotado pela
elite política sergipana. Oriundode uma família de proprietários rurais,
¨Seu ¨ Macedo, na transição da ditadura de Vargas para a
democracia, em 1945, filiou-se ao Partido Trabalhista Brasileiro, o PTB.
Intuitivo,percebeu que o principal legado político dos 15 anos de Vargas
era a organização do proletariado urbano, agora protegido por uma legislação
social que, pela primeira vez na grande fazenda que ainda era o Brasil, criou
direitos para o trabalhador. Macedo deu força ao PTB iniciando uma ativa
mobilização em torno dos núcleos fabris de Sergipe, Aracaju, Estancia, a sua
terra, Neópolis, São Cristóvão e Maruim. Nessas cidades estavam
localizadas as fábricas de tecido, quase únicos componentes do incipiente
parque industrial sergipano . O grosso do operariadode Sergipe era
representado pelos trabalhadores das tecelagens. Com o retorno via voto
popular de Getúlio ao poder em 1951 , Macedo, já deputado federal, passou a
controlar em Sergipe todos os Institutos de previdência, naquele tempo
numerosos. É bom que se diga,nunca os utilizou para auferir vantagens
patrimoniais. Macedoe o seu PTB eram a terceira força política do estado , e
isso foi o resultado de uma trajetória de lutas ao lado dos interesses
dos trabalhadores. ¨Seu¨ Macedo gostava de fazer frequentes
comícios, fosse ou não período eleitoral. A reunião com o povoera
uma espécie de bate-papo e prestação de contas,ensaiando uma prática de
democracia direta.
Na avenida em frente à
Ponte do Imperador nunca havia menos de 2 mil pessoas, quase todas calçando
tamancos, uma sola de madeira presa aos pés por tiras de couro preto. A
oratória fluente einflamada encantava a plateia e gerava sempre fatos
pitorescos a enriquecer o nosso folclore político.
Certa vez, candidato ao
governo do estado, e, precavidamente,também a deputado federal, (naquele
tempo isso era possível ) Macedo prometeu: ¨Se fosse eleito
subiria as escadas do Olímpio Campos acompanhado pelos trabalhadores,e
faria um ¨baile de tamancos ¨ no palácio. O baile nunca se
realizaria, mas, a simples enunciação de tão insólita promessa, deixava
evidente o antagonismo entre o líder trabalhista e o ranço das
práticas políticas sergipanas, que incluíam, na sua agenda barroca , a
suntuosidade de um baile de gala como ponto alto das solenidades do dia da
posse de governadores, e até dos interventores, saídos dos tenentes
revolucionários que pegaram em armas com o intuito de retirar de cena os
políticos ¨carcomidos ¨da Velha República que acabou em 1930. A troca das
sedas e dos tropicais ingleses que vestiam damas e cavalheiros pelos tamancos
do proletariado, seria, na visão do trabalhista Macedo, a primeira evidencia de
que o povo de tamancos estava entrando como protagonista no cenário político
sergipano.
O mundo gira, o PTB de
Getúlio, Jango, Francisco Macedo, foi extinto pela ditadura, ( 1964-1985
) ressuscitou com a redemocratização, e em Sergipe, faz 2 anos, foi
parar nas mãos do empresário-político Edivan Amorim, que o juntou ao leque de
11 partidos que comandava, e deu um especial tratamento
à nova joia da sua coroa, tanto assim, que se tornou ele mesmo o
presidente do partido conquistado. Tinha razão para a euforia. Juntos,
todos os outros partidos do arsenal político-eleitoral privado,teriam apenas
a metade do tempo no rádio e TV a que tem direito o PTB
sozinho. Como se vê,a perda do PTB foi um golpe inesperado, e
mais um revés na trajetória surpreendente de êxitos do
itabaianense determinado a se tornar dono, ou quase isso, dos
destinos de Sergipe e dos sergipanos.
O deputado federal Almeida
Lima queres surge das cinzas depois da tentativa frustrada de tornar-se
outra vez Prefeito de Aracaju, é agora o novo dirigente petebista em
Sergipe. Ele tem uma história política que confere mais autenticidade ao PTB
sergipano. Para o desfechoque lhe foi favorável, houve, ao que se sabe, a ajuda
decisiva do primo Jackson Barreto, com quem teve fortes atritos políticos
mas, ensaiou uma reaproximação que agora parece consolidada.
As palavras
trabalhador, trabalhista, direitos sociais, devem soar muito mal aos ouvidos de
Edivan. Trata-se de uma questão de biografia. Ele, como
é sabido, e como demonstram dezenas ou centenas de processos na Justiça do
Trabalho , não tem com os seus trabalhadores a convivência
que se esperaria de um ¨trabalhista ¨. Nunca chegou, porém, a
sofrer na pele ¨ os rigores da lei ¨ . Suas empresas sumiram,
foram vítimas de pontuais descuidos que puseram a perder toda a
documentação fiscal, ou, passaram por uma providencial
metamorfose.
Apesar da perda, Edivan,
aos microfones das suas emissoras demonstra total
tranquilidade. Segundo ele, foi-se um partido, virão mais 2 ou 3,
somando-se ao seu patrimônio político pessoal, de10 variadas siglas. Tudo
assim, muito simples, como se fazem compras em balcões de mercearias.
Enquanto isso, o povo nas ruas
pede, entre tantas outras coisas, que os partidos políticos sejam de fato
representativos dos anseios da sociedade brasileira.
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