terça-feira, 2 de julho de 2013

DO BAILE DE TAMANCOS DE¨SEU ¨ MACEDO AO ¨ TRABALHISMO ¨ DE EDIVAN AMORIM



DO BAILE DE TAMANCOS DE¨SEU ¨ MACEDO
AO ¨ TRABALHISMO   ¨ DE EDIVAN AMORIM

Francisco de Araujo Macedo,foi  um líder  que destoava do figurino  adotado pela elite política sergipana.  Oriundode uma família de proprietários rurais, ¨Seu ¨  Macedo, na transição da ditadura de Vargas  para a democracia, em 1945, filiou-se ao Partido Trabalhista Brasileiro, o PTB.  Intuitivo,percebeu que o  principal legado político dos 15 anos de Vargas era a organização do proletariado urbano, agora protegido por uma legislação social que, pela primeira vez na grande fazenda que ainda era o Brasil, criou direitos para o trabalhador. Macedo deu força ao PTB iniciando uma ativa mobilização em torno dos núcleos fabris de Sergipe, Aracaju, Estancia, a sua terra,  Neópolis, São Cristóvão e  Maruim. Nessas cidades estavam localizadas as fábricas de tecido, quase únicos componentes do incipiente parque industrial sergipano .  O grosso do operariadode Sergipe era representado pelos trabalhadores das  tecelagens. Com o retorno via voto popular de Getúlio ao poder em 1951 , Macedo, já deputado federal, passou a controlar em Sergipe todos os Institutos de previdência,  naquele tempo  numerosos. É bom que se diga,nunca os utilizou para auferir vantagens patrimoniais. Macedoe o seu PTB eram a terceira força política do estado , e isso foi  o resultado de uma trajetória de lutas ao lado dos interesses dos trabalhadores.   ¨Seu¨ Macedo gostava de fazer frequentes comícios, fosse ou não período eleitoral.   A reunião com o povoera uma espécie de bate-papo e prestação de contas,ensaiando uma prática de democracia direta.
  Na avenida em frente à Ponte do Imperador nunca havia menos de 2 mil pessoas, quase todas calçando tamancos, uma sola de madeira presa aos pés por tiras de couro preto. A oratória fluente einflamada  encantava a plateia e gerava sempre fatos pitorescos a enriquecer  o nosso folclore político.
Certa vez, candidato ao governo do estado, e, precavidamente,também a deputado federal,  (naquele tempo isso era possível )  Macedo  prometeu:  ¨Se fosse eleito subiria as escadas do Olímpio Campos  acompanhado pelos trabalhadores,e faria um ¨baile de tamancos ¨ no palácio.   O baile nunca se realizaria, mas, a simples enunciação de tão insólita promessa,  deixava evidente o antagonismo entre o líder trabalhista  e o ranço  das práticas políticas sergipanas,  que incluíam, na sua agenda barroca , a suntuosidade de um baile de gala como ponto alto das solenidades do dia da posse de governadores, e até dos interventores, saídos dos tenentes revolucionários que pegaram em armas com o intuito de  retirar de cena os políticos ¨carcomidos ¨da Velha República que acabou em 1930.  A troca das sedas e dos tropicais ingleses que vestiam damas e cavalheiros pelos tamancos do proletariado, seria, na visão do trabalhista Macedo, a primeira evidencia de que o povo de tamancos estava entrando como protagonista no cenário político sergipano.
O mundo gira, o PTB de Getúlio, Jango, Francisco  Macedo, foi extinto pela ditadura, ( 1964-1985 ) ressuscitou com a redemocratização, e em Sergipe, faz 2 anos,   foi parar nas mãos do empresário-político Edivan Amorim, que o juntou ao leque de 11 partidos   que comandava, e   deu um especial tratamento à  nova joia da sua coroa, tanto assim, que se tornou ele mesmo o presidente do  partido conquistado. Tinha razão para a euforia. Juntos, todos os outros partidos do arsenal político-eleitoral privado,teriam apenas  a metade do tempo  no rádio e TV a que tem direito  o PTB sozinho.  Como se vê,a perda do PTB foi um golpe inesperado,  e  mais um revés na trajetória  surpreendente de êxitos  do itabaianense   determinado a se tornar dono, ou quase isso,  dos destinos de Sergipe e dos sergipanos.
O deputado federal Almeida Lima queres surge das cinzas depois da tentativa frustrada de tornar-se  outra vez Prefeito de Aracaju,  é agora o novo dirigente petebista em Sergipe. Ele tem uma história política que confere mais autenticidade ao PTB sergipano. Para o desfechoque lhe foi favorável, houve, ao que se sabe, a ajuda decisiva  do primo Jackson Barreto, com quem teve fortes atritos políticos mas,  ensaiou uma reaproximação que agora parece consolidada.
  As palavras trabalhador, trabalhista, direitos sociais, devem soar muito mal aos ouvidos de Edivan.    Trata-se de uma questão de biografia.  Ele, como é sabido, e como demonstram dezenas ou centenas de processos na Justiça do Trabalho ,  não tem  com os seus trabalhadores a convivência  que se esperaria de um ¨trabalhista ¨.  Nunca chegou, porém,  a sofrer na pele ¨ os rigores da lei ¨ .  Suas empresas  sumiram,  foram vítimas de pontuais  descuidos que puseram a perder toda a documentação fiscal,  ou,  passaram por uma providencial  metamorfose.
Apesar da perda, Edivan,   aos microfones das suas emissoras  demonstra total tranquilidade. Segundo ele, foi-se um partido, virão mais 2 ou 3,  somando-se ao seu patrimônio político pessoal,  de10 variadas siglas. Tudo assim, muito simples, como se fazem compras em balcões de mercearias.
Enquanto isso, o povo nas ruas pede, entre tantas outras coisas, que os partidos políticos sejam de fato representativos  dos anseios da sociedade brasileira.

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