OU A LIBERDADE DE INFORMAÇÃO
Fazer a cabeça é algo sutil. Para a juventude que se apega a um ¨baseado ¨ são os eflúvios esfumaçantes da
canabis – sativa que dão, para eles, uma sensação de tranquilidade que libera a imaginação,
coisa que, para os não iniciados nada mais é do que um entorpecimento, uma
lassidão preguiçosa, abobalhada. Mas, ¨ fazer a cabeça¨, no sentido de manipular as mentes da forma que se deseja, isto é, inocular nas
pessoas ideologias, induzi-las a
agir como se fossem autómatos
manobráveis, e levá-las a adotar
hábitos, comportamentos e atitudes, ou
seja, promover a lavagem cerebral, é
algo que começa com sutilezas e se transforma em dominação.
Gutenberg, no século XV,
inventou a primitiva máquina de imprimir e tornou possível disseminar a
informação, o conhecimento. Multiplicaram-se os jornais, os folhetos,
embora fossem poucos os que sabiam ler, e logo fazer jornal virou atividade
econômica, empresarial. Entravam em cena os barões da grande imprensa. Antes da Revolução francesa, em Paris, principalmente, circulavam centenas
de publicações, clandestinas,
desafiadoras, todas, algumas delas satirizando a corte, os nobres, os
clérigos poderosíssimos, ousando
até desnudar o relacionamento entre Maria
Antonieta e o elegante e sedutor oficial sueco que circulava com desenvoltura
pelas alcovas reais.
No amanhecer trágico do século XX o mundo entrou na
devastadora primeira grande guerra (1914-1918).
Antes, os grandes jornais envenenaram as
mentes e forjaram a necessidade
imperiosa de uma guerra pela civilização, cada lado exaltando a sua, e induzindo
os jovens à loucura do heroísmo de ser bucha de canhão, para que se realizassem
as ambições imperialistas, aumentassem
os lucros dos banqueiros e dos fabricantes de armas. A agiotagem e a indústria bélica encheram os bolsos dos donos dos jornais para
que eles fomentassem a histeria guerreira.
Há que se ter, como é óbvio, muito cuidado com as ¨sutilezas ¨ da informação, invariavelmente manipulada ao sabor dos interesses
dos donos das redes de TV, de
rádio, das grandes revistas e jornais.
Como emblemático exemplo, nunca é demais relembrar a invenção, pela rede Globo,
da candidatura à presidência da república do até então quase desconhecido Fernando Collor de Melo.
Pairam graves suspeitas de natureza ética sobre uma boa parte dos
grandes grupos de comunicação existentes no país. A influente revista Veja, da
Editora Abril, seria um tentáculo do
imenso polvo das máfias italianas.
Em Sergipe, o
empresário Edivan Amorim, não desconhecendo a importância político-eleitoral da
comunicação, dedicou-se, ele próprio, ou
rodeado de prepostos, a formar
uma cadeia de emissoras de rádio que hoje se estende de Aracaju para mais de
dez municípios, e cobre todo o estado. O
objetivo de Edivan não é oculto, nem
sequer disfarçado: trata-se de um projeto de conquista do poder, cuja meta mais
próxima é eleger governador, o irmão, o senador Eduardo Amorim.
Televisões, emissoras de rádio, como se sabe, são concessões.
O poder público é o concedente, e o concessionário obriga-se, ou melhor, é regido por uma legislação nunca obedecida,
que estabelece determinados princípios, visando equalizar a concorrência, fazer dos veículos
instrumentos a serviço do bem público, da cultura, da educação. Qual o veículo
que cumpre essas normas existentes, mas relegadas ao desprezo?
Semana passada foi assassinado em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, o empresário
Jose Roberto Ornelas. Tinha 45 anos, era filho de um homem muito rico que
resolveu instalar um jornal, o Hora- H. Folha sensacionalista, sempre inundada
de sangue, é o jornal mais vendido em toda
a populosa baixada fluminense. O morto
era o diretor do jornal. A morte do ¨jornalista ¨ não gerou a suspeita de que
se tratava de mais um atentado contra a
liberdade de informação, essa tão ingênua suposição de
que a grande mídia tem algum compromisso com o livre transito das
ideias, com o pluralismo, a liberdade
de expressão. Na verdade, para as
grandes empresas de comunicação o principal
objetivo é ganhar dinheiro. Em última análise, são casas de negócio, bem
disfarçadas com a maquiagem da defesa da
liberdade, da democracia , do interesse
público. O discurso é meritório, a
prática é perversa.
Não estamos aqui, insinuando qualquer forma de censura, muito
menos, o controle estatal da mídia, bem longe disso até, nem mesmo ,
simpatizando com o que faz a presidente
argentina Cristina Kirchener, quando busca
desmontar o poderio monopolista do grupo Clarin, que se expandiu à
sombra da mais cruel das ditaduras latino-americanas. Não há outra forma a não ser conviver com essa
mídia, o essencial, é que exista, em relação a ela, a sensata precaução da dúvida,
melhor ainda, da descrença.
Mas, voltando ao empresário, ou ¨jornalista ¨assassinado.
Jose Roberto Ornelas respondia a diversos processos penais, já se
hospedara por algum tempo numa Penitenciária, e, entre outras coisas, era
acusado, e em alguns casos condenado, por extorsão, assassinato e formação de
quadrilha. Era também ex-deputado.
As ¨ideias ¨ de Jose Roberto Ornelas eram levadas todos os
dias a mais de trezentos mil leitores do
jornal que ele dirigia, o Hora-H. Para
ser um formador de opinião, do bandoleiro Jose Roberto, não se poderia
sequer exigir que apresentasse, antes, uma folha corrida da polícia.
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