terça-feira, 18 de junho de 2013

QUEM FAZ A CABEÇA DO BRASILEIRO OU A LIBERDADE DE INFORMAÇÃO



QUEM FAZ A CABEÇA DO BRASILEIRO
OU A LIBERDADE DE INFORMAÇÃO

Fazer a cabeça é algo sutil. Para a juventude que se apega a  um ¨baseado ¨ são os eflúvios esfumaçantes da canabis – sativa que dão, para eles, uma sensação   de tranquilidade que libera a imaginação, coisa que, para os não iniciados nada mais é do que um entorpecimento, uma lassidão preguiçosa, abobalhada. Mas, ¨ fazer a cabeça¨,    no sentido de manipular as mentes  da forma que se deseja, isto é, inocular nas pessoas ideologias, induzi-las  a agir  como se fossem autómatos manobráveis, e levá-las a  adotar hábitos, comportamentos e atitudes,  ou seja,  promover a lavagem cerebral, é algo que começa com sutilezas e se transforma em dominação.
 Gutenberg, no século XV, inventou a primitiva máquina de imprimir e tornou possível disseminar a informação, o conhecimento.   Multiplicaram-se os jornais, os folhetos, embora fossem poucos os que sabiam ler, e logo fazer jornal virou atividade econômica, empresarial. Entravam em cena os barões da grande imprensa.   Antes da Revolução francesa,  em Paris, principalmente, circulavam centenas de publicações, clandestinas,  desafiadoras, todas, algumas delas satirizando a corte, os nobres, os clérigos poderosíssimos,  ousando até    desnudar o relacionamento entre Maria Antonieta e o elegante e sedutor oficial sueco que circulava com desenvoltura pelas  alcovas reais. 
No amanhecer trágico do século XX o mundo entrou na devastadora primeira grande guerra  (1914-1918). Antes, os grandes jornais  envenenaram as mentes e  forjaram a necessidade imperiosa de uma guerra pela civilização, cada lado exaltando a sua, e induzindo os jovens à loucura do  heroísmo de ser  bucha de canhão, para que se realizassem as  ambições imperialistas, aumentassem os lucros dos banqueiros e dos fabricantes de armas.  A agiotagem e a indústria bélica  encheram os bolsos dos donos dos jornais para que eles fomentassem a histeria guerreira.
Há que se ter, como é óbvio, muito cuidado com  as ¨sutilezas ¨ da informação,  invariavelmente manipulada ao sabor dos interesses dos donos das  redes de TV, de rádio,  das grandes revistas e jornais. Como emblemático exemplo, nunca é demais relembrar a invenção, pela rede Globo, da candidatura à presidência da república do até então quase desconhecido  Fernando Collor de Melo.
 Pairam graves  suspeitas  de natureza ética sobre uma boa parte dos grandes grupos de comunicação existentes no país. A influente revista Veja, da Editora Abril, seria um  tentáculo do imenso polvo das máfias italianas.
Em Sergipe,  o empresário Edivan Amorim, não desconhecendo a importância político-eleitoral da comunicação, dedicou-se, ele próprio, ou  rodeado de  prepostos, a formar uma cadeia de emissoras de rádio que hoje se estende de Aracaju para mais de dez municípios, e cobre todo o estado.  O objetivo de Edivan  não é oculto, nem sequer disfarçado: trata-se de um projeto de conquista do poder, cuja meta mais próxima é eleger governador, o irmão, o   senador Eduardo Amorim.
Televisões, emissoras de rádio, como se sabe, são concessões. O poder público é o concedente, e o concessionário obriga-se, ou melhor,  é regido por uma legislação nunca obedecida, que  estabelece determinados princípios,  visando equalizar a concorrência, fazer dos veículos instrumentos a serviço do bem público, da cultura, da educação. Qual o veículo que cumpre essas normas existentes, mas relegadas ao desprezo?
Semana passada foi assassinado  em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, o empresário Jose Roberto Ornelas. Tinha 45 anos, era filho de um homem muito rico que resolveu instalar um jornal, o Hora- H. Folha sensacionalista, sempre inundada de sangue,  é o jornal mais vendido em toda a populosa baixada fluminense. O  morto era o diretor do jornal. A morte do ¨jornalista ¨ não gerou a suspeita de que se tratava de mais um atentado  contra a liberdade de informação, essa tão ingênua suposição de
     que    a grande mídia  tem  algum compromisso com o livre transito das ideias, com o pluralismo,   a liberdade de expressão. Na verdade,  para as grandes empresas de comunicação o principal  objetivo é  ganhar dinheiro.  Em última análise, são casas de negócio, bem disfarçadas com a maquiagem  da defesa da liberdade, da democracia ,  do interesse público. O discurso é meritório,  a prática  é perversa.
Não estamos aqui,  insinuando qualquer forma de censura, muito menos, o controle estatal da mídia, bem longe disso até, nem mesmo , simpatizando com  o que faz a presidente argentina Cristina  Kirchener,  quando busca  desmontar o poderio monopolista do grupo Clarin, que se expandiu à sombra da mais cruel das ditaduras latino-americanas.  Não há outra forma a não ser conviver com essa mídia, o essencial, é que exista, em relação a ela, a sensata precaução da dúvida, melhor ainda, da  descrença.
Mas, voltando ao empresário,  ou ¨jornalista ¨assassinado.
Jose Roberto Ornelas  respondia a diversos processos penais, já se hospedara por algum tempo numa Penitenciária, e, entre outras coisas, era acusado, e em alguns casos condenado, por extorsão, assassinato e formação de quadrilha. Era também ex-deputado.
As ¨ideias ¨ de Jose Roberto Ornelas eram levadas todos os dias a mais de trezentos mil leitores do  jornal que ele dirigia, o Hora-H. Para   ser um formador de opinião, do bandoleiro Jose Roberto, não se poderia sequer exigir que apresentasse, antes, uma folha corrida da polícia.

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