terça-feira, 18 de junho de 2013

E TANTO DIZEM QUE O MUNDO É PEQUENO



 E TANTO DIZEM QUE O MUNDO É PEQUENO

Ivan Valença, jornalista que ainda não é o decano,  mas disso se aproxima, foi, em 1969, o primeiro jornalista sergipano a  fazer turismo na Europa. Ganhava pouco na Gazeta, como pouco ainda ganham hoje todos os jornalistas desta província,  era também  servidor público federal,  de instituto que remunerava sofrivelmente, mas, entrou na trilha dos suplementos comemorativos de alguma coisa, que fora aberta por Nazário Pimentel  logo quando aqui chegou em 1966.  Nazário acabou as agruras financeiras dele próprio e do jornal Diário de Aracaju, dos Diários Associados, quando resolveu fazer um Suplemento comemorativo do terceiro aniversário da  ¨Gloriosa Revolução de 31 de Março ¨.   Com uma apresentação, quase uma ordem, do Comandante do 28  Batalhão de Caçadores, não havia empresário  ou prefeito que não se dispusesse a pagar , todos, aliás, insistiam em  comprar páginas inteiras. A coisa cresceu tanto que um jornalista, demitido   pela truculência da ¨Revolução brasileira que livrava o Brasil dos maus brasileiros ¨  sobrevivendo no Diário de Aracaju,  viu chegar a sua oportunidade, e escreveu  dia e noite, afanosamente, centenas de mensagens laudatórias ao golpe, assim, finalmente, ganhando dinheiro à custa da  ¨Gloriosa ¨.   O Suplemento da Gazeta, bolado por Ivan,  foi comemorativo da descoberta do petróleo  no mar em Sergipe, a primeira no Brasil. Com a comissão  maior, de 30 % , combinada com o dono  do jornal, o jornalista Orlando Dantas,  Ivan fez o seu tour europeu   com certa folga. Viajar ao exterior naquela época não era  fácil. Contavam-se aos dedos
 até entre os mais endinheirados, aqueles que já haviam viajado a Europa. Quando  os turistas eram intelectuais, passavam meses fazendo palestras sobre a viagem, ou escreviam livros.
No mesmo período em que Ivan viajou a Europa,  para lá também foi um outro sergipano, o recém diplomado professor,  Vilder Santos.  Ele também acabara de ser aprovado no vestibular da Faculdade de Direito e o seu pai, o mecânico gráfico, professor da escola Técnica,  e  eficiente vereador de Aracaju, Milton Santos, resolveu, com certo sacrifício, presentear o filho estudioso com uma excursão à Europa . Com Vilder,   viajou,  o  funcionário da Energipe,  Ubaldo Torres. Em Frankfurt, Alemanha, o ônibus da operadora levou todo o grupo a fazer compras numa feira de produtos eletrônicos.  Vilder, Ubaldo, e mais um paulista e um gaúcho que estavam com eles ,  resolveram demorar mais um pouco,  e dispensaram o ônibus, que levou o resto do grupo  ao hotel .   Quando  quiseram voltar,   descobriram que nenhum deles tinha o endereço, e nem sequer sabiam o nome do hotel onde estavam hospedados.   Marinheiros de primeira viagem, estavam bem perto de entrar em  pânico,  quando Vilder avistou em frente um hotel, e sugeriu que para lá se dirigissem,  tentando pedir ajuda.  Ubaldo conseguia se expressar com muita dificuldade em inglês,  e foi tentando narrar a desdita em que estavam, a uma gentil recepcionista. Ela então perguntou se algum dos desavisados e imprevidentes turistas, poderia lembrar-se de  um  detalhe do hotel onde estavam, ou da rua. Foi então que Vilder disse que na frente do hotel havia um grande mapa da Europa. Logo, a recepcionista identificou o local, comunicou-se com o hotel e passou o endereço aos que já se imaginavam perdidos no meio do mundo.  Ao saíram, todos sorridentes, Vilder avista, bem próximo, sentado num sofá da recepção, ninguém mais ninguém menos do  que o seu amigo Ivan Valença. Em Aracaju, tão pequena, não se viam há mais de dois anos.

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