E TANTO DIZEM QUE O
MUNDO É PEQUENO
Ivan Valença, jornalista que ainda não é o decano, mas disso se aproxima, foi, em 1969, o
primeiro jornalista sergipano a fazer turismo
na Europa. Ganhava pouco na Gazeta, como pouco ainda ganham hoje todos os
jornalistas desta província, era
também servidor público federal, de instituto que remunerava sofrivelmente, mas,
entrou na trilha dos suplementos comemorativos de alguma coisa, que fora aberta
por Nazário Pimentel logo quando aqui
chegou em 1966. Nazário acabou as
agruras financeiras dele próprio e do jornal Diário de Aracaju, dos Diários
Associados, quando resolveu fazer um Suplemento comemorativo do terceiro
aniversário da ¨Gloriosa Revolução de 31
de Março ¨. Com uma apresentação, quase
uma ordem, do Comandante do 28 Batalhão
de Caçadores, não havia empresário ou
prefeito que não se dispusesse a pagar , todos, aliás, insistiam em comprar páginas inteiras. A coisa cresceu
tanto que um jornalista, demitido pela truculência da ¨Revolução brasileira que
livrava o Brasil dos maus brasileiros ¨
sobrevivendo no Diário de Aracaju,
viu chegar a sua oportunidade, e escreveu dia e noite, afanosamente, centenas de
mensagens laudatórias ao golpe, assim, finalmente, ganhando dinheiro à custa
da ¨Gloriosa ¨. O Suplemento da Gazeta, bolado por Ivan, foi comemorativo da descoberta do
petróleo no mar em Sergipe, a primeira
no Brasil. Com a comissão maior, de 30 %
, combinada com o dono do jornal, o
jornalista Orlando Dantas, Ivan fez o seu
tour europeu com certa folga. Viajar ao exterior naquela
época não era fácil. Contavam-se aos
dedos
até entre os mais
endinheirados, aqueles que já haviam viajado a Europa. Quando os turistas eram intelectuais, passavam meses
fazendo palestras sobre a viagem, ou escreviam livros.
No mesmo período em que Ivan viajou a Europa, para lá também foi um outro sergipano, o recém
diplomado professor, Vilder Santos. Ele também acabara de ser aprovado no
vestibular da Faculdade de Direito e o seu pai, o mecânico gráfico, professor
da escola Técnica, e eficiente vereador de Aracaju, Milton Santos,
resolveu, com certo sacrifício, presentear o filho estudioso com uma excursão à
Europa . Com Vilder, viajou, o funcionário da Energipe, Ubaldo Torres. Em Frankfurt, Alemanha, o
ônibus da operadora levou todo o grupo a fazer compras numa feira de produtos
eletrônicos. Vilder, Ubaldo, e mais um
paulista e um gaúcho que estavam com eles ,
resolveram demorar mais um pouco,
e dispensaram o ônibus, que levou o resto do grupo ao hotel .
Quando quiseram voltar, descobriram que nenhum deles tinha o
endereço, e nem sequer sabiam o nome do hotel onde estavam hospedados. Marinheiros de primeira viagem, estavam bem
perto de entrar em pânico, quando Vilder avistou em frente um hotel, e
sugeriu que para lá se dirigissem, tentando
pedir ajuda. Ubaldo conseguia se
expressar com muita dificuldade em inglês, e foi tentando narrar a desdita em que estavam,
a uma gentil recepcionista. Ela então perguntou se algum dos desavisados e
imprevidentes turistas, poderia lembrar-se de
um detalhe do hotel onde estavam,
ou da rua. Foi então que Vilder disse que na frente do hotel havia um grande
mapa da Europa. Logo, a recepcionista identificou o local, comunicou-se com o
hotel e passou o endereço aos que já se imaginavam perdidos no meio do
mundo. Ao saíram, todos sorridentes,
Vilder avista, bem próximo, sentado num sofá da recepção, ninguém mais ninguém
menos do que o seu amigo Ivan Valença.
Em Aracaju, tão pequena, não se viam há mais de dois anos.
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