OS FELICIANOS FRANCESES
E O
¨MARRIAGE GAY ¨
O Le Canard Enchainé ,
semanário satírico francês que já anda no nonagésimo oitavo ano de
existência, e que inspirou aqui o nosso Pasquim, de vida lamentavelmente bem
mais curta, sapecou, na sua edição de quarta- feira, 22 de maio, a manchete de
primeira página : ¨Hollande passe deux jours avec Merkel: La couple franco-allemand
n`est pas un marriage gay¨ .
Hollande, o tão desgastado
presidente, dizem línguas debochadas é
tão priápico quanto fora o presidente Kennedy, ou seja, a qualquer hora, ou de
noite ou do dia, passando uma saia ao lado ele está disposto a introduzir-se no que ela recobre, sucessivas
vezes, sem depor as armas. Já a Merkel,
alemã que nem usa saias, é também
Ángela, mas, nada angélica, até
porque, no rascante idioma teutônico o Angela pronuncia-se Ánkela, e ela pisa
tão duro quanto o prenome, que é suave
nas línguas latinas. O Le Canard Enchainé, ( O
Pato Acorrentado ) conhecendo a renitente ojeriza dos franceses ao país com o
qual já travaram tantas guerras, e a
antipatia que desperta a líder alemã, aproveitou a oportunidade da cúpula ( sem
trocadilhos ) franco- alemã, e, fazendo rir para melhor castigar os costumes, penetrou na guerra idiota que os ¨ felicianos¨
de lá fazem contra a união gay.
Os franceses, parisienses
principalmente, fizeram uma concessão ao riso, nesses tempos tão sem graça, mas
a coisa não está mesmo para brincadeira.
Neste domingo, dia 26, a direita
francesa que agrupa gente de todas as classes sociais, e tem tradicionais raízes fincadas na aristocracia, no catolicismo, e no complexo
financeiro-industrial militar, promete botar na rua muito mais gente do que na
manifestação que levou 300 mil pessoas
aos Champs- Elisèes antes que a Corte Constitucional houvesse decidido a
favor da legalidade do casamento gay, e
François Hollande , sem perder tempo,
transformou o reconhecimento da legalidade em lei da República.
Recorrendo-se a um jocoso ditado popular se poderia indagar ¨Mas, afinal,
o que tem o .... com as calças? ¨
Para a droite francesa, a
direitona, como diria Rosalvo Alexandre, a Tradição Familia e Propriedade a
nossa TFP, que felizmente a pátina do
tempo já fez desaparecer, seria um ramo disfarçado da esquerda insidiosa e
especialista em artimanhas.
A direita francesa, ainda chorosa e traumatizada com a degola de
Luiz XVI e da sua mulher Maria Antonieta há mais de 200 anos, revela, em
algumas ocasiões, um comportamento suicida,
preferindo assistir o desaparecimento da França a ter de fazer uma
reciclagem das suas ensebadas concepções. Foi assim em junho de 1941, quando o
comando militar formado por conservadores empedernidos, cruzou os braços diante da invasão, preferindo capitular desonrosamente a
combater ao lado do Front Populaire
contra as tropas nazistas, às quais se
juntaria depois, sem sentir a humilhante condição de um país ocupado, para ir
formar a Divisão Azul, e ajudar
Adolf Hitler na invasão da União
Soviética.
Quando houve a independência da Argélia, a direita francesa virou terrorista, somente contra o presidente De Gaulle cometeu
mais de dez atentados .
A França até hoje trata com
recato, vergonha ou má vontade, essas feridas que doem na consciência nacional
de um país que homenageia os combatentes
da resistência com flores
permanentemente renovadas, nos locais onde morreram lutando ou sendo executados,
e prefere baixar uma cortina de silencio sobre os colaboracionistas, sobre os
facinorosos traidores, o Marechal Phillipe Petain, o almirante Darlan, e o irresponsável proxeneta Pierre
Laval.
Com esse prontuário de traições e
crimes, o fascismo francês volta a bater
às portas dos quarteis, onde generais começam a se manifestar contra o
casamento gay, contestando a lei da
República, e proclamando que sob o
comando deles, coronel não dormirá com
sargento, nem capitã com soldada. O impedimento seria apenas
hierárquico ? Se general quiser frequentar a cama com general,
seria diferente ?
Mas, afinal, o que terá mesmo essa gente toda, bispos, arcebispos,
deputados pastores, generais, com o que fazem na cama homem com homem e
mulher com mulher? A prática homossexual nas cavernas já era corriqueira,
revelam pinturas rupestres, e continuará existindo pelos tempos a fora, tendo como praticantes,
também, e sem duvidas, generais,
almirantes, brigadeiros, arcebispos,
bispos, pastores, etecetera e tal.
Com o mundo cada vez mais livre
de preconceitos, a direita perde terreno e discurso, e os oportunistas que invadem a cena política também, assim, nada melhor do que ir imiscuir-se na
cama dos outros, como fazem por aqui o infeliz
raivoso Feliciano e seus patrocinadores do PSC e toda aquela gente que se acredita dona da
verdade e agita a Bíblia na mão, sem nunca ter prestado a devida atenção ao que
falou o Homem de Nazaré.
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