O
DESPREZADO CAMINHO DOS RIOS
Aqui temos insistido: É preciso redescobrir o
caminho dos rios. Aracaju, uma mesopotâmia perde a oportunidade de usar os
caminhos fluviais que a natureza lhe prodigalizou. A cidade que nasceu nas
praias, avançando sobre mangues e dunas margeando o rio Sergipe até
encontrar-se com o oceano, permanece, agora, depois de tanto estender-se,
apertada entre outros dois rios que a limitam, ao sul, o Vaza Barris, ao norte
o Rio do Sal. Esses rios foram caminhos naturais que durante tanto tempo
interligaram a capital com o seu entorno. Saveiros desciam e subiam o Sergipe
transportando gente, coisas e bichos, enfrentavam os ventos cruzados no ¨doido¨
onde as águas se espalham no encontro com o rio do Sal de um lado, e do outro,
na bifurcação do Pomonga. Assim, Aracaju ligava-se a Santo Amaro, Socorro,
Laranjeiras, Maruim, até a Riachuelo. Com a Barra dos Coqueiros, do outro lado,
a ligação era mais intensa, também com a Atalaia Nova, para onde não havia
estradas. Os saveiros foram desaparecendo, sumiram do cais ao lado do Mercado
de Aracaju que eles abasteciam. Era o tempo dos caminhões, dos ônibus.
Resistentes, as canoas a motor, as tó-tó–tós, mesmo depois da ponte ainda
atravessam o rio, entre Aracaju e Barra. Transportam mais de três mil pessoas
diariamente, e a preços bem menores. Mas as tó-tó-tós estão abandonadas,
sobrevivem de teimosas. Do lado da Barra os passageiros precisam entrar na água
ou pisar na lama, dependendo da maré, do lado de Aracaju, o precário terminal
está caindo aos pedaços. À noite as tó-tó-tós param, a região do terminal é
insegura e a iluminação precária. São prejudicados principalmente os
estudantes.
Na coluna de Jozailto Lima no Cinform o ex-
secretário dos Transportes Bosco Mendonça compara Aracaju, cercada por rios não
utilizados, com cidades europeias que aliviam suas ruas aproveitando canais,
rios, lagos, mares; as hidrovias intensamente usadas para o transporte de
passageiros e cargas. A observação feita por Bosco Mendonça surge no momento em
que se agrava a crise do transporte urbano, e as ruas atulhadas da cidade
mostram que, nas atuais condições, a frota de veículos já teria atingido o
limite suportável. O prefeito João Alves estaria enxergando nos nossos
rios a alternativa para desentupir as ruas congestionadas. Se assim for, o
primeiro passo seria melhorar as condições do transporte fluvial entre Aracaju
e Barra dos Coqueiros. Depois, a criação de linhas operadas por barcas entre
Aracaju, Socorro, San to Amaro, Atalaia Nova. O governador Marcelo Déda já
anunciou que o antigo Terminal Hidroviário Jackson Figueiredo há tantos anos
desativado, será transformado em um memorial que levaria o nome de Zé Peixe. Se
ainda for viável, o local poderia servir a duas finalidades. Seria um Memorial,
e voltaria, também, às suas funções originais, como base para o retorno
organizado, e com algum conforto, do nosso transporte fluvial recuperado.
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