NUNCA ANTES NA HISTÓRIA
TANTA SECA NO SERTÃO
O ex-presidente Lula tornou um
quase jargão uma das suas frases prediletas: ¨Nunca antes na História deste
país ¨ , e, desde então, vem somando repetitivos adeptos. O ex-presidente sempre de forma triunfante
referia-se aos êxitos alcançados pelo seu governo. De fato, alguns
desses sucessos mereceram a
observação sobre o ineditismo histórico
que os caracterizavam, especialmente
na área social, onde o Brasil avançou expressivamente, registrando avanços na erradicação da pobreza
que surpreenderam o mundo.
Talvez pelo fato de não
enxergarmos agora em nossas ruas os retirantes
esquálidos e andrajosos a estenderem a mão em súplica por caridade,
estejamos a minimizar os efeitos da
alongada catástrofe da seca que nos castiga. Não há como negar que melhoramos, avançamos em
termos sociais ampliando o aceso de uma massa enorme de pessoas ao alimento.
Subimos degraus na escala da dignidade
humana, porque a maior das ignomínias é a fome.
Mas, segundo Josué de Castro ninguém se
preocupava em erradicar a fome, porque o mundo preferiu refugiar-se na omissão
e no desconhecimento, e ,
desgraçadamente, transformaram o
problema numa espécie de tabu social que deveria ser evitado. As pessoas tinham vergonha de dizer que não
comiam, e o Estado, negava-se a admitir a clamorosa falta de comida.. Também, não se queria admitir que a
panela vazia era a
causa principal da baixa média de vida nos países subdesenvolvidos. No tempo em que Josué de Castro
escreveu a Geografia da Fome, em
Aracaju, por exemplo, a mortalidade infantil chegava à alarmante cifra de quase
400 crianças por mil.
O doutor Francisco Rollemberg,
ex- senador, e sempre citado quando se quer um exemplo de médico
humanitário e competente, relata caso por ele vivido ao ingressar, como jovem cirurgião, no Hospital Santa Izabel. O hospital era conhecido
como o Matadouro do bairro 18 do Forte.
O Dr. Canuto, antes psiquiatra, depois proctologista, finalmente cirurgião, perdia quase a metade dos pacientes que operava.
Rollemberg, analisando detidamente os exames
pré-operatórios que solicitara dos pacientes, verificou que todos apresentavam
sintomas de desnutrição crônica. Conseguiu então que eles,
na maioria vindos do interior,
ficassem 15 dias sendo bem
alimentados antes das cirurgias.
A habilidade e o zelo do novo cirurgião
juntaram-se ao fato também novo de barrigas bem atendidas, e então, as calamitosas cifras de mortalidade caíram
vertiginosamente em pouco tempo.
O flagelo da fome, tal como existia no nordeste, agora quase acabou, mas, nos falta ainda
enfrentar e vencer o problema das secas , diante do qual temos
sido tão incompetentes como aquele cirurgião que operava pacientes
desnutridos. Afora o amenizado drama da
fome, de resto, pouco mudou no semiárido no que diz respeito à vulnerabilidade diante
da falta de chuvas.
Depois de tanto tempo, de tantas promessas, de tantos projetos
irrealizados , continuamos a depender de medidas emergenciais que não vencem a
lentidão burocrática e se tornam ineficazes lenitivos.
Não mais existe o grande plenário da SUDENE, onde se
reuniam governadores, ministros,
técnicos, para o debate e o encaminhamento de soluções. Isolaram-se
os estados, e em conjunto, o nordeste fragilizou-se.
O semiárido brasileiro continua sendo um
tema restrito a alguns denodados estudiosos.
Carecem , as nossas Universidades, da
vontade e da decisão dos seus dirigentes, dos governos, para que se transformem em
centros de pesquisas buscando fórmulas viáveis de convivência produtiva com
a seca. Nem sequer nos interessamos em importar modelos de outros países que possuem áreas até desérticas, e
nelas criaram economias florescentes.
Há agora o programa federal Água
Para Todos, mas o que se tem feito é repetir aquela decepcionante sequencia de ações emergenciais,
começando pelos carros-pipa, que nada
mais são do que o atestado maior da nossa clamorosa incapacidade, onde se acrescentam,
os milhões de cisternas que são distribuídas, mas terão de ser enchidas com a água transportada
pelos caminhões. Dentro de pouco tempo não teremos onde conseguir aquela água. Faz alguns anos, nos esquecemos até mesmo do
antigo programa de construção de açudes, iniciado quando
éramos governados pelo Imperador Pedro
II.
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