sábado, 13 de abril de 2013

NUNCA ANTES NA HISTÓRIA TANTA SECA NO SERTÃO



NUNCA ANTES NA HISTÓRIA
TANTA SECA NO  SERTÃO
O ex-presidente Lula tornou um quase jargão uma das suas frases prediletas: ¨Nunca antes na História deste país ¨ , e,  desde então, vem somando  repetitivos adeptos.  O ex-presidente sempre de forma triunfante referia-se aos êxitos alcançados pelo seu governo. De fato,    alguns  desses sucessos mereceram  a observação sobre o ineditismo histórico  que os caracterizavam, especialmente   na área social, onde o Brasil avançou expressivamente,  registrando avanços na erradicação da pobreza que surpreenderam o mundo.
Talvez pelo fato de não enxergarmos agora  em nossas ruas  os retirantes  esquálidos e andrajosos a estenderem a mão em súplica por caridade, estejamos a  minimizar os efeitos da alongada catástrofe da seca que nos castiga.  Não há como negar que melhoramos, avançamos em termos sociais ampliando o aceso de uma massa enorme de pessoas ao alimento. Subimos degraus  na escala da dignidade humana, porque a maior das ignomínias é a fome.    Mas, segundo Josué de Castro ninguém se preocupava em erradicar a fome, porque o mundo preferiu refugiar-se na omissão e no desconhecimento,  e , desgraçadamente,   transformaram o problema  numa espécie de   tabu social que deveria ser evitado.  As pessoas tinham vergonha de dizer que não comiam, e  o Estado,  negava-se a admitir a  clamorosa falta de comida..   Também, não se queria admitir que  a  panela vazia   era  a causa principal da baixa média de vida nos países subdesenvolvidos.   No tempo em que Josué de Castro escreveu  a Geografia da Fome, em Aracaju, por exemplo, a mortalidade infantil chegava à alarmante cifra de quase 400 crianças por mil.
  O doutor Francisco Rollemberg,  ex- senador, e sempre citado quando se quer um exemplo de médico humanitário e competente, relata caso por ele vivido ao ingressar, como jovem  cirurgião,  no Hospital Santa Izabel. O hospital  era conhecido  como o Matadouro do bairro 18 do Forte.  O Dr. Canuto, antes psiquiatra,  depois proctologista,   finalmente cirurgião,  perdia quase a metade dos pacientes que operava.  Rollemberg,   analisando detidamente os exames pré-operatórios que solicitara dos pacientes, verificou que todos apresentavam sintomas de desnutrição crônica. Conseguiu então que  eles,  na  maioria vindos do interior, ficassem  15 dias sendo bem alimentados  antes das cirurgias.
 A habilidade e o zelo do novo cirurgião juntaram-se ao fato também novo de barrigas bem atendidas, e então, as  calamitosas cifras de mortalidade caíram vertiginosamente em pouco tempo.
 O  flagelo da fome,  tal como existia no nordeste,   agora quase acabou, mas, nos falta ainda enfrentar e vencer  o  problema das secas ,  diante do qual  temos  sido tão incompetentes como aquele cirurgião que operava pacientes desnutridos. Afora o amenizado  drama da fome, de resto, pouco mudou no semiárido  no que diz respeito à vulnerabilidade diante da falta de chuvas.
Depois de tanto tempo,  de tantas promessas, de tantos projetos irrealizados , continuamos a depender de medidas emergenciais que não vencem a lentidão burocrática e se tornam ineficazes lenitivos.
 Não mais existe o grande plenário da SUDENE,   onde se reuniam  governadores, ministros, técnicos,  para o debate  e o encaminhamento de soluções. Isolaram-se os estados, e em conjunto,  o nordeste fragilizou-se.  O semiárido brasileiro continua sendo um tema restrito a alguns denodados estudiosos.    Carecem ,  as nossas  Universidades,   da vontade e da decisão dos seus dirigentes,  dos governos, para que se transformem em centros de pesquisas  buscando  fórmulas viáveis de convivência produtiva com a seca. Nem sequer nos interessamos em importar modelos de outros países  que possuem áreas  até desérticas,    e nelas  criaram  economias florescentes.
Há agora o programa federal Água Para Todos, mas    o que se tem feito é repetir aquela  decepcionante sequencia de ações emergenciais,  começando pelos carros-pipa, que nada mais são do que o atestado maior da nossa clamorosa incapacidade, onde se acrescentam,   os milhões de cisternas que  são distribuídas, mas  terão de ser enchidas com a água transportada pelos caminhões.    Dentro de pouco tempo  não teremos onde conseguir aquela  água.    Faz  alguns anos, nos esquecemos até mesmo do antigo programa de construção de açudes, iniciado   quando  éramos governados pelo Imperador Pedro II.

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