sábado, 6 de abril de 2013

DO SUPREMO TRIBUNAL AO BUNKER DE FELICIANO




As sessões do STF são transmitidas  pela TV. O último julgamento, o mais famoso deles,  aquele do chamado ¨mensalão ¨, foi acompanhado dia a dia em tempo real pela população brasileira. Num certo momento , serviu até para criar celebridades. O que se faz no STF mostrando ao vivo a tomada de decisões pelos ministros, parece ser, no mundo,  um comportamento exclusivo da  mais alta corte de justiça brasileira. A tendência  porém é que, cada vez mais,  o que se passa no universo do poder  público  em todas as áreas democráticas do planeta, seja  transparentemente  revelado.  No Brasil,  nesse particular,  temos avançado. Se o acompanhamento daquilo que se passa no âmbito das decisões públicas não   afasta  de todo aquelas práticas que, por natureza são irreveláveis, pelo menos, em boa parte,  contribui para que as autoridades que decidem e tocam os negócios  de  Estado não os transformem,  acintosamente, em negócios pessoais.
No mundo em rede quando tudo se torna instantâneo e acessível,  ocultar, tornar secretas sessões que devem ser públicas,  é um atentado grave à cidadania, um ultraje   diante do qual a sociedade não pode ser indiferente.
  Acossado pela opinião pública,   o desastrado parlamentar que,  por desgraça e vergonha  o Partido Social Cristão resolveu  designar para  envolver-se em   assunto para o qual é  desqualificado, enfiou-se numa espécie de bunker, transformando uma dependência  da Câmara  em espaço inacessível, vedado a qualquer um  cuja presença o desagrade ou supostamente o ameace.   Na Câmara, espaço livre de interlocução e convívio, supõe-se que  todos os seus integrantes  sejam capazes de enfrentar situações, até as mais adversas, sem que necessitem da proteção da polícia. Para isso foram eleitos.
Nos últimos dias da  Segunda Grande Guerra ( 1939- 1945) o ditador Adolf  Hitler, símbolo maior da intolerância e do ódio, racista, homofóbico, ( o que disfarçava a sua homossexualidade) com as bombas a caírem sobre sua cabeça sinistra,  e amaldiçoando o seu próprio povo, enfiou-se numa fortaleza subterrânea, o bunker.
A Câmara Federal,  que sempre foi conhecida como Casa do Povo, onde todos, habitualmente,  tiveram livre acesso,  possui agora também a sua área restrita, fortemente protegida pela polícia. É o bunker do Feliciano.
Feliciano, a salvo  de jornalistas e curiosos, ou eventualmente de manifestantes, circulou sexta-feira pelo Supremo Tribunal Federal onde foi depor, acusado de estelionato A acusação aliás não parece ser consistente. O Ministro Levandowski assegurou ao parlamentar o direito de ter a privacidade preservada, ou  seja,  o bunker da Câmara foi transferido para o Supremo Tribunal.  Em ocasiões   anteriores e semelhantes, os depoimentos  sempre foram públicos e acompanhados por jornalistas.
Como presidente da Comissão de Direitos Humanos, Feliciano  não pode refugiar-se num bunker. As ações daquela comissão terão de ser  transparentes, abertas a quem delas quiser participar. Quando manifestantes raivosos  fazem protestos contra o presidente e se forma um clima pesado de rejeição a ele, é sinal nítido de que lhe faltam os requisitos indispensáveis para exercer um cargo  cujo titular deveria ser pessoa ungida pela aceitação pública,  pelo consenso,  sobretudo, pelo seu compromisso com os direitos humanos. Não se coloca numa comissão tão sensível, alguém que não possa transitar entre os movimentos sociais, alguém que não tenha capacidade de dialogar com todas as correntes de opinião.
Direitos humanos não convivem com intolerância e comportamento sectário.
O senador Eduardo Amorim e o deputado federal  André Moura, que pretendem disputar cargos majoritários, o primeiro,  candidato a governador, o segundo, pleiteando uma  senatória,  erram, e erram clamorosamente, quando  embarcam na canoa furada do presidente do PSC.  Entusiasmado com o clima de confronto,  ele quer apenas  ganhar  seguidores      do contundente radicalismo de Feliciano. Esse tipo de raciocínio seria oportunisticamente válido para quem  restringe as  suas ambições aos cargos proporcionais.
Numa eleição majoritária, tanto Amorim como André, correrão o risco de uma forte rejeição pela maioria dos eleitores,   distantes,   por civilidade , visão moderna do mundo, e bom senso, daquele bunker onde se refugia Feliciano,  com os seus preconceitos,  e seu extremismo fora de moda
Sobre o deputado Feliciano disse o ministro Joaquim Barbosa presidente do Supremo Tribunal Federal: ¨O deputado Marco Feliciano foi eleito pelos seus pares. Agora, a sociedade tem também todo o direito de se exprimir, como vem se exprimindo, contrariamente à presença dele nesse cargo. Isso é democracia¨.
O ministro Joaquim Barbosa é negro, e pobre, descendente de escravos africanos procedentes daquele continente,  a África,  que Feliciano disse ser uma terra amaldiçoada.  Se dependesse de Feliciano e de gente  que pensa igual a ele,   Joaquim Barbosa  teria nascido na senzala, e lá ainda estaria vivendo.

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