AS HABILIDADES DE LOURIVAL BAPTISTA
Lourival Baptista era visto pelos
adversários como um político extremamente esperto, capaz de manobras
desconcertantes , mas quase sempre marcadas por gestos de solidariedade ou demonstrações
de carinho, que fortaleciam parcerias e acabavam arestas.
Começando o seu governo, Lourival enfrentava
uma oposição forte do jornalista Orlando Dantas, através da Gazeta de
Sergipe. Quando ainda deputado federal o
jornal frewquentemente o chamava de deputado ¨Caça e pesca ¨, uma alusão a uma
entidade denominada Acordo da Caça e Pesca que Lourival, sem ter conseguido a
reeleição criara. Consistia numa espécie
de lancha – ambulância que ele como médico usava para dar assistência as
comunidades de pescadores , visitando-as
periodicamente como médico e também distribuindo remédios. Orlando vez por outra lembrava-se do ¨deputado caça
e pesca ¨quando Lourival já era governador. Nas questões políticas regionais a
censura quase sempre não se fazia sentir nos veículos de comunicação embora
fosse rígida em relação a qualquer critica ao governo federal, mas essa rigidez
somente se tornou absoluta a partir do Ato Institucional n 5 em dezembro de
1968. Estávamos então nos primeiros meses de 1967, estava próxima a Semana Santa.
Um amigo de Lourival que possuía um viveiro em São Cristovão fez a
habitual retirada dos peixes naquele período e levou quilos e mais quilos de
curimãs gordas ao amigo governador. Lourival colocou algumas curimãs num
automóvel e foi ele mesmo dirigindo até a casa de Orlando Dantas. Bateu a porta
e veio abri-la a esposa do jornalista. Deparou-se com o governador à porta com
os peixes na mão pendurados numa correia
e a outra a abraça-la dizendo: ¨Dona Dulce, só vim trazer essas curimãs para a senhora fazer uma ceia amanhã com
Orlando¨. Dona Dulce insistiu para Lourival sentar-se, tomar um cafezinho,
enquanto chamava o marido que estava no andar de cima. Orlando mal acreditou na
visita que recebia. Desceu cumprimentou
educadamente Lourival, insistiu para que ele demorasse mais um pouco, mas o
governador alegando pressa saiu, prometendo voltar para o cafezinho noutra
ocasião. O que daquele dia em diante passou a ser frequente. Orlando Dantas
esqueceu definitivamente o ¨caça e pesca¨ diante das curimãs de
Lourival.
Já Senador em 1973, nos duríssimos tempos de
Garrastazu Médici, Lourival se sentia de certa forma acuado politicamente,
porque, desde a sucessão estadual o general presidente dele guardava uma
distancia cheia de mal entendidos.
Medici teria abreviado o prazo de
desincompatibilização dos governadores que desejavam ser candidatos, ao que se
dizia à boca miúda, principalmente para prejudicar Lourival, que já anunciara o
afastamento para ser candidato ao Senado. Com o prazo passando de 3 para 6 meses,
e com menos de um mês para
decidir-se, Lourival teve de correr muito, mas não conseguiu emplacar o
governador tampão que desejava, o médico
Moacir Sobral. Já afastado do governo, quase não passa na convenção da
ARENA, vencendo por apenas um voto o outro candidato, Jose Leite. Lourival seria o mais votado na eleição
popular, sendo eleito ele e Augusto Franco. No Senado, teria tentado várias
vezes, sem êxito, uma audiência com Médici, querendo explicar o que sucedera na sucessão sergipana,
quando Paulo Barreto fora o escolhido. Dizia-se que Médici considerou-se
enganado por Lourival, mas então já seria tarde. Paulo Barreto, um engenheiro
de vida limpíssima, já fora anunciado. Ainda pouco se falava na sucessão de Médici. Todos os veículos de comunicação eram
pesadamente vítimas da implacável censura, mas, vez por outra era cogitado o
nome fortíssimo do general Ernesto Geisel, presidente da Petrobras. Lourival o conhecera antes, como Chefe da Casa
Militar de Castelo Branco, com ele fizera amizade, e passou a tratar de assuntos
ligados aos minérios sergipanos, tema sobre o qual Geisel demonstrava muito
interesse. O dirigente militar da Petrobras era irmão de
outro general, o linha duríssima Orlando
Geisel, Ministro do Exército, ao que
relata a História, responsável direto pela violência da repressão e pela
ignomínia da tortura.
Um dia Lourival vai ate a casa do engenheiro Jose Francisco
Sobral,
qualificado funcionário da
Petrobras de quem era muito amigo, e lhe
pede que reúna dados sobre as ações da
estatal, mais detidamente em Sergipe, e,
se possível, informações sobre o estilo de administrar do
general Geisel. Recebeu o que pedira e, uns dez dias depois, num cuidadoso e repensado discurso escrito,
defendeu a candidatura de Geisel à sucessão de
Garrastazú. Geisel, como se sabe, foi o
escolhido pelos quarteis, com a mera
formalidade posterior da chancela pelo Congresso Nacional. O senador Lourival, desde então, não teve mais proteladas as audiências que
pedia à Presidência da República.
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