sábado, 13 de abril de 2013

AS HABILIDADES DE LOURIVAL BAPTISTA



 AS HABILIDADES DE LOURIVAL BAPTISTA
Lourival Baptista era visto pelos adversários como um político extremamente esperto, capaz de manobras desconcertantes , mas quase sempre marcadas por gestos de solidariedade ou demonstrações de carinho, que fortaleciam parcerias e acabavam arestas.
 Começando o seu governo, Lourival enfrentava uma oposição forte do jornalista Orlando Dantas, através da Gazeta de Sergipe.  Quando ainda deputado federal o jornal frewquentemente o chamava de deputado ¨Caça e pesca ¨, uma alusão a uma entidade denominada Acordo da Caça e Pesca que Lourival, sem ter conseguido a reeleição criara. Consistia numa  espécie de lancha – ambulância que ele como médico usava para dar assistência as comunidades de pescadores ,  visitando-as periodicamente como médico e também distribuindo remédios. Orlando    vez por outra lembrava-se do ¨deputado caça e pesca ¨quando Lourival já era governador. Nas questões políticas regionais a censura quase sempre não se fazia sentir nos veículos de comunicação embora fosse rígida em relação a qualquer critica ao governo federal, mas essa rigidez somente se tornou absoluta a partir do Ato Institucional n 5 em dezembro de 1968. Estávamos então nos primeiros meses de 1967, estava próxima a Semana  Santa.  Um amigo de Lourival que possuía um viveiro em São Cristovão fez a habitual retirada dos peixes naquele período e levou quilos e mais quilos de curimãs gordas ao amigo governador. Lourival colocou algumas curimãs num automóvel e foi ele mesmo dirigindo até a casa de Orlando Dantas. Bateu a porta e veio abri-la a esposa do jornalista. Deparou-se com o governador à porta com os peixes  na mão pendurados numa correia e a outra a abraça-la dizendo: ¨Dona Dulce, só vim trazer essas curimãs  para a senhora fazer uma ceia amanhã com Orlando¨. Dona Dulce insistiu para Lourival sentar-se, tomar um cafezinho, enquanto chamava o marido que estava no andar de cima. Orlando mal acreditou na visita que recebia.  Desceu cumprimentou educadamente Lourival, insistiu para que ele demorasse mais um pouco, mas o governador alegando pressa saiu, prometendo voltar para o cafezinho noutra ocasião. O que daquele dia em diante passou a ser frequente. Orlando  Dantas  esqueceu definitivamente o ¨caça e pesca¨ diante das curimãs de Lourival.
  Senador em 1973, nos duríssimos tempos de Garrastazu Médici, Lourival se sentia de certa forma acuado politicamente, porque, desde a sucessão estadual o general presidente dele guardava uma distancia cheia de mal entendidos.  Medici teria  abreviado o prazo de desincompatibilização dos governadores que desejavam ser candidatos, ao que se dizia à boca miúda, principalmente para prejudicar Lourival, que já anunciara o afastamento para ser candidato ao Senado. Com o prazo passando de 3  para 6 meses,  e com menos de  um mês para decidir-se, Lourival teve de correr muito, mas não conseguiu emplacar o governador tampão que  desejava, o médico Moacir Sobral.  Já afastado  do governo, quase não passa na convenção da ARENA, vencendo por apenas um voto o outro candidato, Jose Leite.  Lourival seria o mais votado na eleição popular, sendo eleito ele e Augusto Franco. No Senado, teria tentado várias vezes, sem êxito, uma audiência com Médici, querendo  explicar o que sucedera na sucessão sergipana, quando Paulo Barreto fora o escolhido. Dizia-se que Médici considerou-se enganado por Lourival, mas então já seria tarde. Paulo Barreto, um engenheiro de vida limpíssima, já fora anunciado. Ainda pouco se falava  na sucessão de Médici.  Todos os veículos de comunicação eram pesadamente vítimas da implacável censura, mas, vez por outra era cogitado o nome fortíssimo do general Ernesto Geisel, presidente da Petrobras.  Lourival o conhecera antes, como Chefe da Casa Militar de Castelo Branco,  com ele  fizera amizade, e passou a tratar de assuntos ligados aos minérios sergipanos, tema sobre o qual Geisel demonstrava muito interesse.  O  dirigente militar da Petrobras era irmão de outro general,  o linha duríssima Orlando Geisel, Ministro do Exército,  ao que relata a História, responsável direto pela violência da repressão e pela ignomínia da tortura.
 Um dia Lourival  vai ate a casa do engenheiro Jose Francisco Sobral,
  qualificado  funcionário da Petrobras de quem era muito amigo,  e lhe pede que reúna  dados sobre as ações da estatal, mais detidamente  em Sergipe, e,  se possível,  informações sobre o estilo de administrar do general Geisel.  Recebeu  o que pedira  e, uns dez dias   depois, num cuidadoso e repensado discurso escrito,  defendeu a  candidatura de Geisel à sucessão de Garrastazú. Geisel, como se sabe,   foi o escolhido pelos quarteis, com a mera  formalidade posterior da chancela pelo Congresso Nacional.  O senador Lourival, desde  então, não teve mais proteladas as audiências que pedia à Presidência da República.

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