terça-feira, 5 de março de 2013

QUAL A TEMPESTADE QUE O PAPA ENFRENTOU?



QUAL  A  TEMPESTADE
 QUE O PAPA ENFRENTOU?

Na sua derradeira audiência pública,  diante de uma multidão, piedosamente contrita, Bento XVI usou uma metáfora que poderá ser interpretada como sibilina, cheia de  sutis insinuações,  ou discreto mistério, como convém ao ocupante de um posto  que sempre enriqueceu as mais diversas profecias, inclusive aquelas escatológicas,  que marcaram a Idade Média, onde os temores sobre o iminente fim dos tempos e a hora do juízo final, dominavam  as pessoas que se refugiavam na oração e nas penitencias.  Bento XVI teria  se valido de um recurso linguístico, para, comedidamente, denunciar  ou advertir ?  O cardeal conservador, preso à ortodoxia da fé e dos seus dogmas,  o pensador que traçou para a Igreja Católica Apostólica Romana rumos de uma inflexibilidade que o levaram a excomungar o brasileiro Frei Boff,  adepto e propagador da ¨teologia  da libertação ¨, deve ter sofrido um choque doloroso ao  constatar  coisas muito mais graves do que os desvios de conduta ideológicos,  aquelas derrapagens de natureza moral que impactam contra os muros do  Vaticano,  simbólica fortaleza, onde se guardaria a pureza da fé.
Não existe  a pureza, entendida como  candura da bondade e da ética, quase uma ascese,  sobrepairando todos os demais interesses e sentimentos humanos, quando se trata com o caixa de um banco, com as transações financeiras  requerendo a participação de especialistas, os alquimistas do dinheiro.
 A alquimia praticada, exige  dos alquimistas que sejam, por natureza e por dever de ofício, ímpios, apátridas, iconoclastas e imorais.
Os muros do Vaticano, onde ressoam  ecos de cantos gregorianos, jamais foram blindagens contra as tentações do mundo. Elas chegam, sempre mais impetuosas,  vencendo as resistências. Dizia Oscar Wilde que  ceder às tentações é a melhor maneira de enfrentá-las.    As seduções  do  ¨pecado ¨   aparecem  com  a intensidade da música de um  Richard Wagner ,  compatriota do Cardeal Ratzinger,    o inverso da    suavidade apascentadora do Oratório de Páscoa,  de outro alemão,  Sebastian Bach . As cantatas, os oratórios, missas e réquiens, de Johann Sebastian,  deveriam ser um permanente e adequado fundo musical pairando sobre o minúsculo, todavia poderoso, Estado clerical. Mas a realidade é outra, e depois de 8 anos, o rígido alemão, ao que parece, sentiu-se impotente. Deve ter ouvido, nesse seu tempo de pontificado difícil,  algo mais parecido com a impetuosidade sinfônica, quase hino  guerreiro, da Cavalgada das Valquírias, do supracitado Richard, que tanto encantava Adolf Hitler.  Nos austeros aposentos do Vaticano,  envelhecidos cardeais, que ali residem há muito tempo, travam um  duelo, um vale tudo pelo poder, disfarçado em formalidades canônicas.
 O  mar revolto e os ventos fortes que o pontífice germânico revelou ter encontrado, simbolizam a tempestade de interesses envolvidos numa interminável disputa. O resto, o que agravou as suas decepções, não passaria de algo que ele, há muito tempo, deve ter constatado, e que permanecerá, como ferida exposta, caso o novo  Papa não a enfrente: A hipocrisia da castidade. A antinatural repressão ao sexo, que é parte indissociável  e enriquecedora da vida. E a vida costuma explodir,  rompendo as cadeias do sacrifício imposto.  Há vezes em que   a explosão acontece sob a forma de uma criminosa perversão: a pedofilia.

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