O BOMBEIRO ESPANHOL
E O TIRIRICA ITALIANO
E O TIRIRICA ITALIANO
Na Espanha bombeiros foram
chamados para retirarem de um prédio, uma senhora idosa, refugiando-se,
solitária, nas alturas do seu modesto apartamento. Em ato legítimo
de desobediência civil ela recusava-se a cumprir ordem judicial de
despejo, preferindo saltar e morrer do que ir morar no olho da rua.
A velhinha foi salva graças a um outro ato, igualmente
legítimo, corajosamente desafiador, praticado pelos bombeiros. Eles
chegaram ao local com a sua escada comprida e no topo colocaram uma
faixa: ¨Salvamos vidas não bancos ¨.
Aos
bancos o providencial socorro sempre chega, patrocinado pelos governos,
à custa da miséria do povo. E isso sempre se faz impunemente, com o
falacioso argumento de que a falência de um só banco desencadearia
um risco sistêmico que logo iria contaminar toda a economia.
Enquanto isso, milhões de europeus, como antes milhões de americanos, perderam
seus empregos, mergulharam numa desesperançada pobreza. Por aqui, a torcida
organizada contra o Brasil comemora o ¨pibinho ¨ , para
eles, o ansiosamente esperado sinal do fracasso de um modelo que continua
gerando empregos, retirando da pobreza numero cada vez maior
de secularmente sofridos e deslembrados brasileiros.
Com uma diferença de poucos
dias, na Itália, o comediante Beppo Grillo, liderando um movimento
anárquico de protesto, recebia extraordinária votação. Ele não usou
as mídias tradicionais, não apareceu na TV, utilizou-se, apenas,
das redes sociais, e fez ajuntamentos nas ruas, falando
com auxílio do seu megafone. Preconizava a ressureição da
moralidade pública, amaldiçoava todos os políticos, e apontava, no modelo
econômico da União Europeia, a causa da crise. Grillo
denunciou fortemente o processo de espoliação da alta finança,
com os governos cúmplices jogando nas costas do povo, o
peso da irresponsabilidade que se juntou a uma incontrolável ganancia. O
comediante não acha graça nenhuma quando assiste os governos europeus socorrendo
bancos que foram os principais causadores da crise, ao mesmo tempo,
impondo sacrifícios a uma população que empobrece. Por isso, incluiu na
sua plataforma de candidato um projeto de renda mínima, coisa séria,
experimentada no Brasil a partir do Fome Zero de Lula,
gerou um processo virtuoso de inclusão social, e transformou-se,
também, em eficiente instrumento de ação anti-crise.
Como se vê, o ¨Tiririca ¨
italiano é diferente. Ele não faz somente palhaçadas, e ninguém o
classificaria como analfabeto. Mas o desmoronar do modelo político italiano,
que corre paralelo à derrocada econômica, não é um fenômeno restrito a um
país que sempre se caracterizou pela volatilidade das suas instituições, com as
quais percorreu um tumultuado caminho entre a democracia, a guerra, e o
abismo totalitário.
Os ¨Tiriricas¨ estão
chegando. Eles irão surgindo, e serão cada vez mais frequentes nos países
afundados na crise que uma classe política inepta e caudatária do sistema
financeiro não soube prever, nem muito menos solucionar. Nos Estados
Unidos o movimento ¨Occupy Wall- Street¨, a indignação contra os bancos,
é o resultado da ação de muitos ¨tiriricas¨.
Os ¨tiriricas ¨ , esse tipo
diferente, fora do figurino político que se tornou conservador, desde a direita
até a esquerda, são frutos da frustração e da revolta. Tudo o que parecia
sólido está desmanchando no ar, e se os engravatados não apontam para soluções,
os desgrenhados , em sintonia com as ruas, e com ideias na cabeça,
estão atraindo as atenções dos eleitores putos da vida.
Vamos viver uma nova era. A era
das revoluções dos ¨tiriricas ¨.
Aquilo que virou palhaçada,
está a merecer comediantes, e também dramaturgos.
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