terça-feira, 5 de março de 2013

O BOMBEIRO ESPANHOL E O TIRIRICA ITALIANO



O BOMBEIRO ESPANHOL
 E O  TIRIRICA ITALIANO

Na Espanha bombeiros foram chamados para retirarem de um prédio, uma senhora idosa,  refugiando-se, solitária, nas alturas do seu modesto apartamento.   Em ato legítimo de desobediência civil ela  recusava-se a cumprir  ordem judicial de despejo,  preferindo saltar e morrer do que ir morar no olho da rua.   A velhinha foi salva graças a um   outro ato, igualmente legítimo, corajosamente desafiador, praticado pelos bombeiros.   Eles chegaram ao local   com a sua escada comprida e no topo colocaram uma faixa: ¨Salvamos vidas não bancos ¨.
 Aos bancos o providencial socorro sempre chega,  patrocinado pelos governos,  à custa da miséria do povo. E isso sempre se faz impunemente,  com o falacioso argumento de  que a falência de um só banco  desencadearia um  risco sistêmico  que logo iria contaminar toda a economia. Enquanto isso, milhões de europeus, como antes milhões de americanos, perderam seus empregos, mergulharam numa desesperançada pobreza. Por aqui, a torcida organizada contra o Brasil  comemora o    ¨pibinho ¨ , para eles,  o ansiosamente esperado sinal do fracasso de um modelo que continua gerando empregos,  retirando da pobreza  numero cada vez maior de  secularmente sofridos e deslembrados brasileiros.
 Com uma diferença de poucos dias, na Itália,  o comediante Beppo Grillo,  liderando um movimento anárquico de protesto,  recebia  extraordinária votação. Ele não usou as mídias tradicionais, não apareceu na TV,  utilizou-se, apenas,  das redes sociais,  e fez  ajuntamentos nas ruas, falando  com auxílio do seu  megafone.   Preconizava a ressureição da moralidade pública, amaldiçoava todos os políticos, e apontava, no modelo econômico da  União Europeia, a causa da crise.   Grillo denunciou fortemente  o processo de espoliação  da alta finança,   com os governos cúmplices  jogando nas costas do povo,  o peso da irresponsabilidade que se juntou a uma incontrolável ganancia.  O comediante não acha graça nenhuma quando assiste os governos europeus socorrendo bancos que foram os principais causadores da crise,   ao mesmo tempo, impondo sacrifícios a uma população que empobrece. Por isso,  incluiu na sua plataforma de candidato um projeto de renda mínima,  coisa séria,    experimentada no Brasil a partir do Fome Zero de Lula,   gerou um processo virtuoso de inclusão social, e transformou-se, também, em eficiente instrumento de ação anti-crise. 
Como se vê, o  ¨Tiririca ¨ italiano é diferente. Ele não faz somente palhaçadas,  e ninguém o classificaria como analfabeto. Mas o desmoronar do modelo político italiano,  que corre paralelo à derrocada econômica, não é um fenômeno restrito a um país que sempre se caracterizou pela volatilidade das suas instituições, com as quais percorreu um tumultuado caminho entre a democracia, a guerra,  e o abismo totalitário.
 Os ¨Tiriricas¨  estão chegando. Eles irão surgindo, e serão cada vez mais frequentes nos países afundados na crise que  uma classe política inepta e caudatária do sistema financeiro não soube prever, nem muito menos  solucionar. Nos Estados Unidos o movimento  ¨Occupy Wall- Street¨, a indignação contra os bancos, é o resultado da ação de muitos ¨tiriricas¨.
Os ¨tiriricas ¨ , esse tipo diferente, fora do figurino político que se tornou conservador, desde a direita até a esquerda,  são frutos da frustração e da revolta. Tudo o que parecia sólido está desmanchando no ar, e se os engravatados não apontam para soluções, os desgrenhados  , em sintonia com as ruas, e com ideias na cabeça,  estão  atraindo as atenções dos eleitores putos da vida.
Vamos viver uma nova era. A era das revoluções dos  ¨tiriricas ¨.
 Aquilo que virou palhaçada,  está a merecer comediantes, e também dramaturgos.

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