AS GALINHAS DE BRESSE AS GALINHAS DE ITABAIANA
AS GALINHAS DE BRESSE AS
GALINHAS
DE ITABAIANA
Entrar
num desses modernos aviários onde se concentram espremidas e martirizadas dezenas de milhares de galinhas,
é experiência, que, no mínimo,
causa repugnância ou asco, e até nos leva a meditar sobre o bom senso ou a bondade que seriam inerentes
ao gênero humano.
Naqueles galpões imensos onde se aprimoraram ao
máximo as tecnologias que fazem galináceos engordar em curto espeço de tempo,
ou a colocar para fora um ovo todos os
dias, sem pausa para descanso, se fez
uma espécie de mutação genética. Nada há, naqueles galinheiros industriais, que lembre algumas das características das penosas cacarejantes, ciscando nos quintais, catando coisas para
comer, enquanto o galo, senhor do
terreiro, cumpria sua prazerosa missão, subindo e descendo
rapidamente das galinhas, que,
certamente insatisfeitas com a pressa, galinhavam sedutoras por perto, esperando nova e fugaz oportunidade. E ficavam chocas, tinham de deitar sobre os ovos, ficar a aquecê-los durante bom tempo, até que
eclodissem e deles saíssem os pintainhos.
Agora, os
pintos são produtos de laboratório,
de
matrizes resultantes da tecnologia aplicada, guardadas como know- how intransferível por
algumas empresas multinacionais. Anos atrás, dizia-se
que se o Brasil resolvesse bater de frente com os interesses dos Estados
Unidos, bastaria o governo americano determinar o embargo da venda de matrizes , e logo a nossa avicultura, uma das maiores do mundo, se extinguiria.
É do
poderoso Chanceler alemão Bismarck, a frase: ¨ As pessoas ficariam indignadas
se soubessem como são feitas as
leis e
as
salsichas ¨.
No caso
das galinhas que chegam à nossa mesa, sabemos como elas são produzidas, e ninguém
por isso se torna indignado, mas, quem
resolver por duas ou três horas acompanhar a rotina de um desses aviários
gigantes, não terá motivos para
continuar comendo galinha.
Todo aviário,
por mais moderno que seja, horrorosamente fede. Estressadas, espremidas numa gaiolinha, as
aves não se mexem, apenas comem,
descomem, e nem cacarejam, soltam sons que parecem gemidos. Aquele mau cheiro,
parece ficar incrustado na carne. Tudo isso parece argumento forte para vegetarianos
que preferem legumes e verduras, quase todos
infestados por pesticidas, e pensam
que substituíram a carne por um
alimento menos pernicioso.
Os franceses, sempre eles, conseguiram salvar
o galináceo da degradação gastronômica causada pelos aviários, e elegeram a galinha de Bresse para torna-la uma
espécie quase venerada de ave portadora
das qualidades para figurar, com destaque, nos mais elaborados cardápios. A
galinha da região de Bresse é, nada mais
nada menos do que a nossa , de capoeira,
que , antes da nefasta produção em escala nos chegava de Itabaiana. Ali ao pé da serra ela , a galinha, vivia solta e feliz, comendo
de tudo, embora não recebesse como a francesa da região de Bresse o acréscimo de tantos outros cuidados, e das
ervas, transmitindo sabor especial à carne, sempre consistente e macia.
Os
portugueses gostam de exaltar o sabor do porco preto, aquele que aqui também era o único existente antes de pocilgas virarem indústria. Os regretos , o nosso sarapatel , tornam-se requintes anunciados com destaque nos restaurantes
populares lusitanos quando feitos com as
vísceras do porco preto Cria-se aquele bicho comendo ervas finas, o que valoriza ainda mais o pernil e o
presunto.
Os
grande aviários tornaram a galinha prato acessível, a preços bem menores do que a
carne bovina ou o peixe. A galinha já foi prato especial, para raras ocasiões,
e não frequentava mesas empobrecidas.
Dizia-se que o pobre quando comia galinha, um dos dois
estaria doente.
Não se
deve perder de vista a experiência itabaianense de criar a galinha de capoeira,
uma atividade que poderia ser intensamente levada aos assentamentos do MST e à
agricultura familiar.
Seria a
nossa galinha de Bresse.
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