sábado, 16 de fevereiro de 2013

AQUELE ESTUÁRIO DO REAL-PIAUÍ-PIAUITINGA



AQUELE ESTUÁRIO DO REAL-PIAUÍ-PIAUITINGA


 Entre as praias alvascentas, quase luminosas do lado sergipano e baiano, não existe um estuário formado por três rios. O que existe mesmo é o oceano a avançar pela depressão enorme, chegando, bem adiante,  terra a dentro, a encontrar-se com as águas tímidas de três ainda mais tímidos rios. Naquela portentosa massa d `agua há insuspeitados  atrativos. O  turismo já os descobriu .  Para o ambientalista há um  paraíso a percorrer.  Resta, para isso, que se saiba compatibilizar o fluxo dos que ali  chegam com as duas intenções.

Entre os que vivem do turismo  ali  praticado por múltiplas mãos diversificando benefícios, e os que contemplam com olhos de preservação a natureza pródiga, há sentimentos diversos. Um de entusiasmo com o turismo em ascensão,  efeito imediato da nova ponte entre  Terra Caída e Porto do Cavalo,   encurtando distancias para baianos e sergipanos. Um  outro sentimento, este de preocupação, com a ecologia,  o mangue, as águas, os ares, os peixes, os pássaros. Do lado baiano, Mangue Seco se mantem  no mesmo areal.  Os baianos criam praias especiais para o turismo de massa e outras mais especiais ainda,  Mangue Seco, Morro de São Paulo, para os que querem colocar os pés na areia, sentirem a rusticidade de ambientes naturais não totalmente desfigurados. Do lado sergipano, onde o asfalto vai a todo lugar, não será impossível empreitada semelhante. O Pontal há tantos anos descoberto como maravilha a permanecer intocada por gente como o ex-deputado Cleonâncio Fonseca, ainda faz conviver em harmonia asfalto e natureza  não totalmente desvirginada. No caso, isso é perfeitamente possível. O hímen  ambiental mantem um certo nível de complacência.   Na Terra Caída, turismo e meio ambiente vão convivendo muito bem.

Uma senhora em plena conquista dos 80 anos, dona Ana Flora Amado,  num recanto aconchegante ao lado da  igrejinha sobre as areias da praça principal de Mangue Seco, comercializa delícias e alimenta beija-flores em permanente revoadas.

Dona Ana Flora, prima de Jorge Amado, nos idos dos anos 30 era criança quando ele andou pela Estancia, como deputado comunista cassado, imaginando-se escondido da repressão do Estado Novo. Getúlio bem sabia por onde ele andava, mas não o queria prender de novo, apenas, mantê-lo afastado da corte carioca da ditadura.

 Jorge, passou temporadas no Mangue Seco, onde  chegar era uma aventura, e lá deve ter imaginado tantas coisas, inclusive a Tieta.

Dona Ana Flora bem  lembra de tudo, e lembra coisa bem mais próxima, do Mangue Seco ainda entre dunas e coqueirais com o mar batendo nas praias onde agora o prefeito do município, Jandaira,  providencia às pressas um cais extenso para amparar das ondas o povoado.

  À noite, do recanto   de Dona Ana  avista-se um tênue cordão de luzes acompanhando o horizonte e refulgindo sobre as águas. É a nova ponte  Gilberto Amado. Dona Flora, prima também dele, diz,  sem disfarçar certa mágoa, que não foi chamada para participar da inauguração.

 Voltando no tempo, algo mais do que uns 50 anos, o jovem engenheiro Jorge Leite, então dirigindo a  tecelagem Santa Cruz, tendo concluído em Aracaju e obtido o primeiro lugar num disputado curso sobre Localização Industrial,  patrocinado pela nascente fomentadora das esperanças nordestinas, a SUDENE, convidou professores e colegas para uma ida às suas matas,  já então preservadas do Crasto, e ao Mangue Seco.  Viajavam todos num barco. Jorge falava com entusiasmo sobre a região.   Parecendo contemplar o futuro,  ele disse:  ¨Por estes rios ainda passarão muitas pontes. ¨

  Décadas depois,  o filho de Jorge, também engenheiro, Ivan Leite,  andava, com um grupo de jornalistas a percorrer o largo estuário. Era então Secretário da Indústria Comércio e Turismo e estava a  ¨vender¨ os atrativos da região dos 3 tímidos rios que formam o mais extrovertido dos estuários sergipanos.

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