AQUELE ESTUÁRIO DO REAL-PIAUÍ-PIAUITINGA
AQUELE ESTUÁRIO DO REAL-PIAUÍ-PIAUITINGA
Entre as
praias alvascentas, quase luminosas do lado sergipano e baiano, não existe um
estuário formado por três rios. O que existe mesmo é o oceano a avançar pela
depressão enorme, chegando, bem adiante, terra a dentro, a encontrar-se com as águas
tímidas de três ainda mais tímidos rios. Naquela portentosa massa d `agua há
insuspeitados atrativos. O turismo já os descobriu . Para o ambientalista há um paraíso a percorrer. Resta, para isso, que se saiba compatibilizar
o fluxo dos que ali chegam com as duas
intenções.
Entre os que vivem do turismo ali
praticado por múltiplas mãos diversificando benefícios, e os que
contemplam com olhos de preservação a natureza pródiga, há sentimentos
diversos. Um de entusiasmo com o turismo em ascensão, efeito imediato da nova ponte entre Terra Caída e Porto do Cavalo, encurtando distancias para baianos e
sergipanos. Um outro sentimento, este de
preocupação, com a ecologia, o mangue,
as águas, os ares, os peixes, os pássaros. Do lado baiano, Mangue Seco se
mantem no mesmo areal. Os baianos criam praias especiais para o
turismo de massa e outras mais especiais ainda,
Mangue Seco, Morro de São Paulo, para os que querem colocar os pés na
areia, sentirem a rusticidade de ambientes naturais não totalmente
desfigurados. Do lado sergipano, onde o asfalto vai a todo lugar, não será
impossível empreitada semelhante. O Pontal há tantos anos descoberto como
maravilha a permanecer intocada por gente como o ex-deputado Cleonâncio
Fonseca, ainda faz conviver em harmonia asfalto e natureza não totalmente desvirginada. No caso, isso é
perfeitamente possível. O hímen
ambiental mantem um certo nível de complacência. Na Terra Caída, turismo e meio ambiente vão
convivendo muito bem.
Uma senhora em plena conquista dos 80 anos, dona
Ana Flora Amado, num recanto
aconchegante ao lado da igrejinha sobre
as areias da praça principal de Mangue Seco, comercializa delícias e alimenta
beija-flores em permanente revoadas.
Dona Ana Flora, prima de Jorge Amado, nos idos
dos anos 30 era criança quando ele andou pela Estancia, como deputado comunista
cassado, imaginando-se escondido da repressão do Estado Novo. Getúlio bem sabia
por onde ele andava, mas não o queria prender de novo, apenas, mantê-lo
afastado da corte carioca da ditadura.
Jorge,
passou temporadas no Mangue Seco, onde chegar era uma aventura, e lá deve ter
imaginado tantas coisas, inclusive a Tieta.
Dona Ana Flora bem lembra de tudo, e lembra coisa bem mais
próxima, do Mangue Seco ainda entre dunas e coqueirais com o mar batendo nas
praias onde agora o prefeito do município, Jandaira, providencia às pressas um cais extenso para
amparar das ondas o povoado.
À noite,
do recanto de Dona Ana avista-se um tênue cordão de luzes
acompanhando o horizonte e refulgindo sobre as águas. É a nova ponte Gilberto Amado. Dona Flora, prima também
dele, diz, sem disfarçar certa mágoa,
que não foi chamada para participar da inauguração.
Voltando
no tempo, algo mais do que uns 50 anos, o jovem engenheiro Jorge Leite, então
dirigindo a tecelagem Santa Cruz, tendo
concluído em Aracaju e obtido o primeiro lugar num disputado curso sobre
Localização Industrial, patrocinado pela
nascente fomentadora das esperanças nordestinas, a SUDENE, convidou professores
e colegas para uma ida às suas matas, já
então preservadas do Crasto, e ao Mangue Seco. Viajavam todos num barco. Jorge falava com
entusiasmo sobre a região. Parecendo contemplar o futuro, ele disse: ¨Por estes rios ainda passarão muitas pontes.
¨
Décadas
depois, o filho de Jorge, também engenheiro,
Ivan Leite, andava, com um grupo de
jornalistas a percorrer o largo estuário. Era então Secretário da Indústria
Comércio e Turismo e estava a ¨vender¨
os atrativos da região dos 3 tímidos rios que formam o mais extrovertido dos
estuários sergipanos.
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