A FESTA DE UCHOA E
O REITOR PORTUGUES
Joubert Uchoa e sua esposa Amélia
reuniram os imortais , ou sobreviventes da Academia Sergipana de Letras
e alguns amigos. A festa no Celi Praia Hotel era a confraternização de praxe
depois da eleição. Uchoa é agora reitor e também imortal, uma condição que conquista como reconhecimento principalmente
ao seu incessante trabalho de preservação da memória sergipana. Numa mesa onde
estavam Anselmo Oliveira, José Lima, Amaral Cavalcanti e Jorge carvalho, sentava-se
calado, embora não macambúzio, diante da
alacridade dos imortais, um português
por quase todos homenageado. O presidente da Academia Anderson Nascimento o apresentava como
correspondente em Portugal da ASL Jorge Carvalho o tratava com intimidade, eram
amigos, e amigos também de Luiz Antônio
Barreto, a quem Uchoa substitui na Academia, e que naquela noite era ainda mais lembrado. O
português era o vice-reitor da
Universidade Nova de Lisboa e veio a Aracaju para rever amigos e participar da
festa do outro reitor também seu amigo. O professor Jose Esteves Pereira vencendo a timidez que o mantinha como
espectador atento das conversas, é instigado a falar sobre a crise europeia,
mais diretamente sobre o calvário da
península ibérica. Esteves, cidadão de classe média elevada, mora num dos
melhores lugares para viver nos arredores de Lisboa, em frente as praias
do Estoril, bem próximo ao forte de
onde o provecto ditador Oliveira Salazar ali hospedado, um dia, ao lado da platônica amante, se isso é
possível, olhava à distancia o desmanchar da pudicícia portuguesa nos
primeiros biquines que por ali
circulavam driblando a férrea ação ¨moralizadora ¨da PIDE , onipresente polícia
do regime. Lamentando aquela exibição pecaminosa de carnes o intempestivamente apaixonado ditador, nem
notou que a jornalista francesa a quem até presenteara com diamantes,
precavidamente , enrolava-se numa toalha a esconder o discreto biquine.
O reitor Jose Esteves é um português que mergulha na
História do seu país, passa, com espírito critico, pelos tempos do
corporativismo salazarista, as guerras coloniais, sem contudo maldizer o
passado, e se mostra tanto atônito como
esperançoso diante da crise europeia, do quase colapso português, do qual é uma
das tantas vítimas, vendo reduzir-se em
mais de trinta por cento os seus ganhos como professor e dirigente de uma das
mais conceituadas instituições portuguesas de ensino superior. Formado em
Coimbra, Esteves tem visão abrangente e compreensiva sobre a realidade
europeia, guarda fundamentados receios de um desmembramento da
Espanha, com a crise a açular os
particularismos até agora contidos pela sociedade afluente que gerava
expectativas novas, fortalecia o otimismo e apagava feridas históricas, que hoje ressurgem. Para além da crise, ele não enxerga todavia uma Europa esfacelada, mas, crê numa Federação Europeia, a ressurgir das cinzas do atual modelo. Para ele, entre outros fatores a União
Europeia não se consolidou em virtude da ausência de um Banco Central com capacidade
abrangente para disciplinar os exageros do cassino financeiro, monstro descontrolado que a globalização fez
nascer. Esteves atribuiu a crise
portuguesa ao excesso de otimismo nascido com
a transposição das fronteiras,
gerando uma insustentável sensação de bem estar e progresso continuado,
numa nova Europa, e numa nova economia.
Esse clima de pouco comedimento e ausência de maior reflexão crítica, teria levado
a uma gastança desmedida, que agora acaba com a apresentação da pesada
conta a todos os cidadãos , que terão de tirar da própria mesa para tapar
o rombo causado pela prosperidade
ilusória e de curta duração.
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