domingo, 21 de outubro de 2012

A FESTA DE UCHOA E O REITOR PORTUGUES



 A FESTA DE UCHOA E
O REITOR PORTUGUES

Joubert Uchoa e sua esposa Amélia reuniram os imortais ,  ou  sobreviventes da Academia Sergipana de Letras e alguns amigos. A festa no Celi Praia Hotel era a confraternização de praxe depois da eleição. Uchoa é agora reitor e também imortal, uma condição que  conquista como reconhecimento principalmente ao seu incessante trabalho de preservação da memória sergipana. Numa mesa onde estavam  Anselmo Oliveira, José Lima,  Amaral Cavalcanti e Jorge carvalho, sentava-se calado, embora não macambúzio,  diante da alacridade  dos imortais, um português por quase todos homenageado. O presidente da Academia  Anderson Nascimento o apresentava como correspondente em Portugal da ASL Jorge Carvalho o tratava com intimidade, eram amigos,  e amigos também de Luiz Antônio Barreto, a quem Uchoa substitui na Academia,  e que naquela noite era ainda mais lembrado. O português era o  vice-reitor da Universidade Nova de Lisboa e veio a Aracaju para rever amigos e participar da festa do outro reitor também seu amigo. O professor Jose Esteves Pereira  vencendo a timidez que o mantinha como espectador atento das conversas, é instigado a falar sobre a crise europeia, mais diretamente sobre o calvário  da península ibérica. Esteves, cidadão de classe média elevada, mora num dos melhores lugares para viver nos arredores de Lisboa, em frente as praias do   Estoril, bem próximo ao forte de onde o provecto ditador Oliveira Salazar ali hospedado, um dia,   ao lado da platônica amante, se isso é possível, olhava à distancia   o desmanchar da pudicícia portuguesa nos primeiros biquines  que por ali circulavam driblando a férrea ação ¨moralizadora ¨da PIDE , onipresente polícia do regime. Lamentando aquela exibição pecaminosa de carnes o  intempestivamente apaixonado ditador, nem notou que a jornalista francesa a quem até presenteara com diamantes, precavidamente , enrolava-se numa toalha a esconder o discreto biquine.
O reitor Jose  Esteves é um português que mergulha na História do seu país, passa, com espírito critico, pelos tempos do corporativismo salazarista, as guerras coloniais, sem contudo maldizer o passado,  e se mostra tanto atônito como esperançoso diante da crise europeia, do quase colapso português, do qual é uma das tantas vítimas,  vendo reduzir-se em mais de trinta por cento os seus ganhos como professor e dirigente de uma das mais conceituadas instituições portuguesas de ensino superior. Formado em Coimbra, Esteves tem visão abrangente e compreensiva sobre a realidade europeia,  guarda  fundamentados receios de um desmembramento da Espanha,  com a crise a açular os particularismos até agora contidos pela sociedade afluente que gerava expectativas novas, fortalecia o otimismo e apagava feridas históricas, que  hoje ressurgem. Para além da crise,  ele não enxerga todavia  uma Europa esfacelada, mas,  crê numa Federação Europeia,  a ressurgir das cinzas do atual modelo.  Para ele, entre outros fatores a União Europeia não se consolidou em virtude da  ausência de um Banco Central com capacidade abrangente para disciplinar os exageros do cassino financeiro,    monstro descontrolado que a globalização fez nascer.  Esteves atribuiu a crise portuguesa ao excesso de otimismo nascido com  a transposição das fronteiras,   gerando uma insustentável sensação de bem estar e progresso continuado, numa nova Europa,  e numa nova economia. Esse clima de pouco comedimento e ausência de maior reflexão crítica,  teria levado   a uma gastança desmedida,  que agora acaba com a apresentação da pesada conta a todos os cidadãos , que terão de tirar da própria mesa para tapar o  rombo causado pela prosperidade ilusória e de curta duração.

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