O MODELO ¨CARROCÊNTRICO ¨
E
A PROPOSTA DO
VLT
Quando Juscelino Kubitscheck naquele ano de 1957 fez o que ninguém
imaginava fosse possível , e implantou a indústria automobilística no Brasil,
as ferrovias iniciadas ainda no Império
precisavam ser modernizadas. Mas, o asfaltamento e ampliação da rede
viária, a marcha para o oeste que Brasilia desencadearia, logo tornaram preponderante o modelo rodoviarista. As ferrovias foram perdendo importância e a
navegação de cabotagem entrou em crise. Começou a era do Fênêmê, o caminhão enorme, fabricado
no Brasil pela estatal Fábrica Nacional
de Motores. Ronceiro, o fênêmê exigia duas pedaladas na embreagem
sincronizando-se o movimento com o acelerador para engatar a marcha, o chamado ¨queixo – duro ¨ . Apesar disso, era resistente, vencia sobranceiro as enormes distancias brasileiras que as
rodovias começavam a interligar, e tornou-se o preferido, até que o
Mercedes o desbancou, e a fábrica,
dependente de subsídios, depois acabou
fechando. Foi o tempo da estrada Belém-
Brasília, o ¨ caminho das onças ¨, como a denominou, desdenhoso, o ébrio e
desmazelado demagogo Jânio Quadros, que
se tornou presidente sucedendo a
Juscelino, acenando novas esperanças, para logo desfazê-las com a renuncia, mal
iniciado o mandato. Foram chegando
outras fábricas de caminhões bem mais modernos,
e em pouco tempo o transporte
rodoviário tornava-se preponderante, superando trens e navios. Esse modal quase
único de transporte, é hoje um dos fatores que mais pesam no chamado ¨custo Brasil¨, o conjunto de fatores que
encarece os nossos produtos.
O caminhão dominou as estradas , por sua vez, as
cidades se entopem irremediavelmente com
o automóvel , tornado cada vez
mais acessível pela estabilização da moeda em 1994, depois, pela era Lula, de expansão do crédito e melhor distribuição de renda. O caos das
cidades, se já não existe , pode ser diariamente prenunciado na rotina
exaustiva dos enormes engarrafamentos.
O ar pestilento deixou de ser
característica das grandes metrópoles ,
e aquelas de médio porte, como é
o caso de Aracaju, também já
enfrentam os problemas decorrentes da poluição
da atmosfera. Os veículos usando derivados do petróleo são agora os grandes vilões, responsáveis, em
boa parte, pelo aquecimento global, que
nos leva rapidamente ao colapso da vida no planeta, embora haja muitas e bem
fundamentadas controvérsias.
Estamos, embora tardiamente, investindo em ferrovias, refazendo o
desprezado trem, e retornando também ao
transporte marítimo e hidroviário. Um modelo bem mais eficiente, que
infelizmente desprezamos.
Nesta campanha eleitoral , discute-se em Aracaju qual o melhor modelo de
transporte para nos livrar da completa imobilidade urbana, que é uma ameaça concreta e bem próxima.
Valadares Filho avançou, foi além do chamado modelo ¨carrocêntrico , ¨ que
os urbanistas atualizados consideram o
grande cancro que está a contaminar as cidades.
A ideia do jovem candidato é modelo consagrado em várias cidades de
porte médio e também algumas grandes.
Estamos até chegando tarde na adoção de uma ideia pela qual tantas cidades
nordestinas já fizeram bem antes, uma bem sucedida opção. O Veículo Leve sobre
Trilhos é, além de tudo, ecologicamente
adequado, não contribui para aumentar a emissão de gases, ou seja, não faz
fumaça.
O superado modelo carrocêntrico entrou em crise, vai chegando
ao ponto de colapso, e há ainda quem insista em revivê-lo, acenando com mais
avenidas, mais estacionamentos, quando, o essencial é retirar carros das ruas, substituindo-o por um transporte de massa eficiente.
A Finlândia, país aqui recorrentemente citado como modelo de tantas
coisas exemplares, não tem indústria automobilística. Os veículos
importados são pesadamente taxados, mas
os finlandeses não abandonaram o automóvel. Eles estão em quase todas as
garagens, desde a tranquila capital Helsinki, até o norte do país, dentro do Círculo Polar Ártico, região de
renas e florestas de taiga. Todavia, o
veículo individual é usado
racionalmente. Nas cidades, ninguém os utiliza para ir ao trabalho. Em
Helsinki, há o metrô, ônibus elétricos, e o VLT, intensamente utilizados.
Viajando em um trem urbano, o VLT, um jornalista sergipano, conheceu em Helsinki, um alto executivo da Nokia, que
se mostrava muito interessado em relação
ao Brasil, e respondeu à curiosidade do
brasileiro surpreso por vê-lo
usando um transporte coletivo, esclarecendo que
o trenzinho urbano era
diariamente utilizado para ir e
retornar do trabalho.
O argumento contrário, é que o
VLT seria dispendioso. Não há alternativa que venha a ser milagrosamente barata
e eficiente. Valadares Filho tem , além de tudo, condições políticas que o
ajudariam, decisivamente, na negociação dos recursos necessários para a
implantação de um sistema de transporte moderno , atualizado, a melhor solução
para o caos urbano de Aracaju.
Certamente agora, dirão que o governo do Distrito Federal
cancelou o VLT, por ser inviável. O VLT
de Brasilia fora projetado dentro do PAC,
para ficar pronto antes da
Copa do Mundo. Como houve problemas na licitação, acabou sendo temporariamente cancelado, para ser refeito
depois, sem a pressa de atender ao
evento desportivo.
Brasília, uma cidade inteligente, não
renunciou ao VLT.
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