COSTA CAVALCANTI E
MARCOS PRADO DIAS
Foram-se, no decorrer da semana
finda, dois sergipanos que deixaram boas e dignificantes marcas na sua passagem
pela vida. Jose Costa Cavalcanti,
Procurador de Justiça aposentado, e o médico Marcos Prado Dias no mesmo horário, baixaram às singelas sepulturas da Colina da
Saudade. Para os companheiros dos tempos acadêmicos, Costa Cavalcanti era o
benquisto e sempre festejado Patá. Distante das querelas que dividiam ideologicamente os
universitários naquela virada dos anos cinquenta entrando pelos tumultuosos sessenta,
Patá sempre recomendava comedimento e distancia do
radicalismo. Mas era participante, de acordo com sua forma pacífica de encarar
a vida. Foi presidente da União dos Estudantes Universitários, entidade
muito presente na luta política daquele
período. Foi sucedido pelo estudante de Economia Juarez Alves Costa, que o
levou para a militância na JUC, a Juventude Universitária Católica, criada pelo
Padre Luciano Duarte, que tinha posições de esquerda, todavia , claramente
distantes do comunismo. Famoso por ser
um bom garfo, certa vez, numa olimpiada
universitária em Niteroi, Patá, integrando a representação dos ¨atletas¨ sergipanos, soube que Eduardo Cabral e Guido Azevedo
haviam encontrando um restaurante
português na praia de Icaraí, que fazia uma belíssima bacalhoada, e para lá foi, acompanhado de um séquito formado por verdadeiros atletas do garfo.
Depois de saciar-se com a bacalhoada, Patá resolveu pedir um ¨¨rosito de camarão ¨. Demorou a explicar ao garçom , até que ele descobriu: o prato
pedido era um risoto de camarão.
Dez, vinte, trinta, quarenta anos depois, os colegas daquela festiva
comilança, quando encontravam
o Delegado de Policia, o Promotor, o Procurador de Justiça, José Costa Cavalcanti, sempre o saudavam
acrescentando a pergunta : E o ¨rosito , ¨ Patá ?¨
Quando delegado, Costa Cavalcanti descobriu
uma fórmula eficiente para amenizar conflitos e evitar reincidências. Fazia os
litigantes assinarem um Termo do Bem
Viver, onde se comprometiam a conviver harmoniosamente, sem ameaças, discussões ou violências. Durante a assinatura precedida de uma certa solenidade, o Delegado
advertia: ¨ Se vocês não cumprirem o que assinaram e voltarem aqui, é cadeia
certa, e por muito tempo. ¨
Poucos retornavam, e casais briguentos sempre se reconciliavam.
Costa Cavalcanti em vida
espalhou em todos os cargos que exerceu
e nos exemplos pessoais, um benigno sentimento de amizade e harmonia.
O médico Marcos Prado Dias bem
mais jovem do que Costa Cavalcanti, talvez tenha tido a vida abreviada pela
torturante sensação de um ato de improbidade administrativa que não cometeu, e
a ele foi imputado. Para um homem que
nunca fez do dinheiro a meta da sua vida, e que sempre se dedicou muito mais ao
coletivo do que ao interesse pessoal, sempre participante e solidário, deve ter
sido uma torturante sensação a espera de
uma ação reparadora, com o esclarecimento definitivo dos fatos, das
circunstancias, e nelas surgissem as digitais dos verdadeiros responsáveis.
Na fala de despedida feita pelo médico e intelectual Eduardo Conde Garcia, a vida cristalina e útil de
Marcos Prado Dias, foi primorosamente
descrita.
A sua memória não será sequer
tisnada, porque, como diz repetidamente
o ex-governador Albano Franco: ¨Sergipe é pequeno e aqui todos se conhecem¨.
E todos sabiam quem era, e como agia o médico e cidadão Marcos Prado Dias.
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