MAS ESTE AQUI É
IMPORTADO.......
Espalitávamos os dentes com palito português, e ficávamos a elogiar as qualidades do produto
elaborado a partir do melhor pinho lusitano. Marinha, Exército e Aeronáutica
recebiam equipamentos usados e obsoletos
dos americanos. Eles tinham o direito de dizer como as armas
deveriam ser usadas e em quais circunstancias. Ou seja, nossas Forças Armadas eram comandadas pelo Pentágono. Era o chamado Acordo Militar, que o general presidente
Geisel anulou, mesmo causando desgosto a tantos oficiais-generais acostumados na tradicional obediência
aos gringos.
Havia uma elite incrustada há séculos no poder que recitava
os versos ufanísticos de Olavo Bilac,
repetia as exaltações naturalistas de Gonçalves Dias, e deslumbrava-se com os teóricos do atraso, cultores de um modelo agroexportador e da aliança
incondicional com os Estados Unidos. A praga do ¨deitado eternamente em berço esplendido¨ parecia
desafiar os insistentes exorcistas, alinhados na esquerda, e entre os liberais desenvolvimentistas.
Eugênio Gudin , que
influenciou gerações de economistas indiferentes às causas determinantes
do nosso subdesenvolvimento, foi cáustico em relação a Juscelino Kubitscheck quando
ele anunciou as metas para a industrialização do país, a
modelagem de um Brasil que precisava acreditar
e explorar suas potencialidades, para, definitivamente, libertar-se do complexo de vira lata. Houve
até uma interessante aposta que
elucidava muito bem o choque entre o
ranço pessimista do passado e a crença
esperançosa no futuro. Gudin, desafiava Juscelino a cumprir
a promessa de instalar a indústria
naval, a automobilística , a siderúrgica, as hidrelétricas, e apostou que Brasília nunca seria concluída.
Com a data marcada para a inauguração da nova
capital e as obras essenciais já prontas, a bolorenta Cassandra que vestia fraque, escreveu um
rabugento artigo publicado em O Globo. Nele, afirmava que a nova capital, se inaugurada, ficaria
isolada porque o sistema telefônico não
entraria em funcionamento. Na véspera da inauguração JK telefonou para Gudin, convidando-o a participar da festa, e
disse-lhe que estava falando ao telefone colocado sobre a
mesa do seu gabinete instalado no Palácio da Alvorada , novinho em
folha, na Brasília que se tornava centro das decisões nacionais, bem distante ,
nas lonjuras do planalto central, mas, tinha comunicação instantânea com o
mundo, isso , em 1960.
Faz muito tempo, já
esquecemos os palitos portugueses, mas ainda não nos livramos totalmente do complexo de cão abandonado. As lojas, desde aquelas de alto luxo até as populares
estão repletas de placas com a inscrição:
Importado. O aviso é, quase sempre, a justificativa para o preço
maior. Mas a atração pelo importado faz com que as pessoas nem se incomodem em
pagar mais. Os vendedores, sempre
solicitamente, levam o cliente a dar
¨uma prova de bom gosto ¨adquirindo o produto importado. Desde
confecções, sapatos, passando por remédios e chegando aos automóveis, sempre se
fica a exaltar a superioridade do que vem
de fora. No caso dos automóveis,
a grande diferença em relação aos que
aqui são produzidos, pelas mesmas montadoras globalizadas, é a
parafernália de tecnologias, todas elas rigorosamente supérfluas. Com a invasão
chinesa, até estátua de Padre Cícero já está sendo vendida no Juazeiro importada
da China. Os chineses, sem duvidas, são engenhosos, criativos, mas, por que nos
submetemos à comprar, sem discutir, todas as quinquilharias que para aqui eles
mandam? Seria ainda aquele antigo complexo de vira latas ?
Recusar importados
desnecessários, e ao preço do produto nacional, não é atitude de xenofobia, é proteção lícita e necessária
ao emprego do trabalhador brasileiro. Quase todos os povos agem assim. Quem visita os Estados Unidos engana-se com
a suposta abertura que eles alardeiam em relação ao livre comércio, à
globalização, uma das bandeiras acenadas pelo capitalismo. Acontece que durante
um largo tempo de expansão econômica as
industrias americanas não conseguiam atender
á fome consumista dos seus
cidadãos, e aí escancararam-se as portas
para tudo o que era importado,
uma boa parte oriunda de multinacionais
americanas espalhadas pelo mundo. Hoje, com a crise, os americanos aderem em massa ao movimento visando priorizar
o produto nacional.
Um engenheiro
sergipano, Paulo Mário, professor doutor
da UFS, fazia, há 10 anos, doutorado em mecânica na Universidade de Lille.
Viajou 300 quilômetros e foi a
Paris participar de um jantar com amigos sergipanos que passavam pela capital
francesa. Entre um copo de vinho e
outro, parecia preocupado, e finalmente
revelou o motivo: Havia adquirido um pequeno automóvel usado de fabricação japonesa, e recebeu de um
dos seus mais respeitados professores, uma admoestação disfarçada como
advertência amiga: ¨Mon chèr,
amí Paolo Marioo, ( foi dizendo o austero mestre) logo você, que faz doutorado numa Universidade francesa, que tem este
privilégio que lhe é oferecido pelo
nosso país, compra um veículo japonês ¨?
A rigor mesmo, nesse nosso consumismo do dia a dia, só teríamos
que nos render ao produto importado
em poucas situações. No caso do Champagne, que, não sendo
importado será apenas Espumante ( e o nosso já é muito bom ) do
scotch, por que de outra forma não seria
escocês, da mostarda, que terá de ser francesa, preferencialmente de
Dijon, do óleo de oliva, ( português, espanhol ou grego) da Vodca, obrigatoriamente russa, sueca ou finlandesa.
De resto, aquelas confecções, ou apenas
quinquilharias asiáticas, de baixíssimo preço e qualidade mais baixa ainda
, diante das quais a nossa indústria não
consegue competir.
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