domingo, 22 de julho de 2012

OS TRAFICANTES AFUDARAM O BARCO E A JUSTIÇA QUASE NAUFRAGA


 OS TRAFICANTES AFUDARAM O BARCO E A JUSTIÇA QUASE NAUFRAGA

Os dois  velejadores,  traficantes e certamente mafiosos,  Davide Migani e Giorgia Pierguidi  saíram   do presídio onde estavam desde o final do ano passado. Estavam felizes, lépidos e fagueiros, riam muito,  e   o riso era zombeteiro , afinal, estavam a comemorar uma liberdade que não conseguiriam em nenhum outro país civilizado do mundo.  Felizmente para  os italianos a prisão aconteceu no Brasil, numa praia sergipana. Na Indonésia,  um brasileiro preso transportando alguns quilinhos de cocaína deverá ser fuzilado nos próximos dias.  O casal  levava no  veleiro  uma volumosa carga de 310 quilos de cocaína.    Receberam a carga em Salvador. Os traficantes não tinham pressa,  o que mais lhes interessava  é que a cocaina    chegasse, sem ser interceptada, até o destino.    Davide é skipper ( comandante) e , segundo declarou,  ganha a vida  conduzindo veleiros de um porto para outro. A mulher Giorgia, se diz namorada de Davide e costuma acompanhá-lo nas suas velejadas pelo mundo, o que fazia há 3 anos, sempre desfrutando dos seus períodos de férias.
Os depoimentos dos dois  é uma sucessão de contradições  e invencionices.
Nenhum skipper  que viva de fato da sua profissão ,tendo, como o italiano, a experiência de várias viagens internacionais já realizadas,  aceitaria conduzir um barco  que levava    uma vistosa carga de  dezenas de pacotes, sem ter a preocupação ou a curiosidade de saber o que neles estava contido. O comandante é o responsável pela carga e pelas pessoas que transporta. Da carga, tem de exigir que ela seja declarada  e conhecida, dos passageiros, os indispensáveis documentos.    O interior de um veleiro monocasco, como era o caso do que tripulavam,  é um espaço apertado. Tudo o  que vai lá dentro tem que ser firmemente preso, porque o barco navega com grande inclinação lateral e sacoleja forte sobre as ondas.

Dentro do casco de um veleiro com dimensão entre  40 e 50  pés,  como  o barco  tripulado pelo casal, não existe espaço  que não seja perfeitamente conhecido, e  o suposto dono do veleiro,  era um misterioso personagem que  Giorgia , a namorada de  Davide , disse em seu depoimento conhecer apenas vagamente, sabendo que ele se chama Enrico, este Enrico, que sumiu, e é apontado pela defesa como o responsável pela cocaína,  teria de possuir poderes mágicos para fazer desaparecer, desmaterializar a carga pesando mais de  300 quilos, só assim, os dois tripulantes não a teriam identificado.  Embarcaram em Salvador,  rumaram ao sul até Morro de São Paulo, ali passaram alguns dias, depois,  iniciaram a longa viagem.     Ao largo de Aracaju o comandante, segundo Giorgia,  descobriu que havia  cocaína  a bordo,   alarmado,  tentou afundar o barco, e ela saltou ao mar nadando até a praia em busca de socorro. Quem esteve no local do quase naufrágio , pôde constatar que não houve nada disso. Um erro de navegação ou as correntes fortes do estuário do Sergipe  fizeram o veleiro embicar pelas águas rasas, chegando a encalhar na praia,  onde a forte arrebentação impediu os dois tripulantes de se desfazerem da carga.
 Quem navega pelo mundo não pode ter a ingenuidade de supor que  um   desconhecido lhes confiaria um barco com uma volumosa carga, valendo 15 milhões de dólares,  para ser transportada de Salvador ao Caribe, num longo e incerto percurso pelo mar, dependendo dos ventos, quando poderia, simplesmente, despachá-la   em empresas  aéreas ou marítimas que fazem o transporte regular. A não ser que a carga fosse algo que teria de ficar bem escondido.
A fantasiosa estória contada pelo casal, os argumentos por mais hábeis que tenham sido alinhados pelo seu advogado, não conseguem ocultar a evidencia  do crime, a quase certeza de que os dois italianos têm ligações com o esquema internacional do tráfico de drogas. Mas eles foram soltos, saíram  muito alegres, e talvez já estivessem  a se preparar para uma nova aventura.
  Iriam encontrar  um   outro ¨Enrico ¨,   dono de outro veleiro que teria de ser levado a algum  outro local, de preferencia onde a vigilância seja feita com menos rigor, como por exemplo, certas ilhas do Caribe, mas, sem  que o Enrico nada lhes informasse,,    para que eles, outra vez,  desavisadamente, transportassem nova carga,  até valendo muito mais do que   aquela  de 15 milhões de reais que foi perdida.   Tentariam  compensar o prejuízo. Este Enrico seria um sujeito fantástico, confiaria  a desconhecidos uma carga de  15 milhões de reais, sem que a eles pedisse sequer cuidados especiais com a fortuna a ser transportada.
Felizmente o barco  encalhou,   e  também  evitou-se, aos olhos da sociedade, o naufrágio da Justiça. Os atentos  procuradores federais Eduardo Pallela  e Rômulo Almeida, inconformados com a soltura dos italianos que levavam 300 quilos de cocaína, enquanto apodrecem nos presídios  reles traficantes de maconha, entraram na Justiça com um pedido de revogação  da sentença que inocentou os  transportadores da droga,  e o Juiz  Paulo Gadelha,  do Tribunal Federal da Quinta  Região, determinou que fossem apreendidos os passaportes de  Davide e Giorgia. Eles agora não podem deixar o país, e certamente serão reconduzidos ao presídio de onde não deveriam ter sido libertados.

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