OS TRAFICANTES AFUDARAM O BARCO E A JUSTIÇA
QUASE NAUFRAGA
Os dois velejadores, traficantes e certamente mafiosos, Davide Migani e Giorgia Pierguidi saíram
do presídio onde estavam desde o final do ano passado. Estavam felizes,
lépidos e fagueiros, riam muito, e o riso era zombeteiro , afinal, estavam a
comemorar uma liberdade que não conseguiriam em nenhum outro país civilizado do
mundo. Felizmente para os italianos a prisão aconteceu no Brasil,
numa praia sergipana. Na Indonésia, um
brasileiro preso transportando alguns quilinhos de cocaína deverá ser fuzilado
nos próximos dias. O casal levava no veleiro
uma volumosa carga de 310 quilos de cocaína. Receberam a carga em Salvador. Os traficantes
não tinham pressa, o que mais lhes
interessava é que a cocaina chegasse, sem ser interceptada, até o
destino. Davide é skipper ( comandante) e , segundo
declarou, ganha a vida conduzindo veleiros de um porto para outro. A
mulher Giorgia, se diz namorada de Davide e costuma acompanhá-lo nas suas
velejadas pelo mundo, o que fazia há 3 anos, sempre desfrutando dos seus
períodos de férias.
Os depoimentos dos dois é uma sucessão de contradições e invencionices.
Nenhum skipper que viva de fato da sua profissão ,tendo, como
o italiano, a experiência de várias viagens internacionais já realizadas, aceitaria conduzir um barco que levava
uma vistosa carga de dezenas de pacotes, sem ter a preocupação ou
a curiosidade de saber o que neles estava contido. O comandante é o responsável
pela carga e pelas pessoas que transporta. Da carga, tem de exigir que ela seja
declarada e conhecida, dos passageiros,
os indispensáveis documentos. O interior de um veleiro monocasco, como era o
caso do que tripulavam, é um espaço
apertado. Tudo o que vai lá dentro tem
que ser firmemente preso, porque o barco navega com grande inclinação lateral e
sacoleja forte sobre as ondas.
Dentro do casco de um veleiro com
dimensão entre 40 e 50 pés, como o
barco tripulado pelo casal, não existe
espaço que não seja perfeitamente conhecido,
e o suposto dono do veleiro, era um misterioso personagem que Giorgia , a namorada de Davide , disse em seu depoimento conhecer
apenas vagamente, sabendo que ele se chama Enrico, este Enrico, que sumiu, e é
apontado pela defesa como o responsável pela cocaína, teria de possuir poderes mágicos para fazer
desaparecer, desmaterializar a carga pesando mais de 300 quilos, só assim, os dois tripulantes não
a teriam identificado. Embarcaram em
Salvador, rumaram ao sul até Morro de
São Paulo, ali passaram alguns dias, depois, iniciaram a longa viagem. Ao largo de Aracaju o comandante, segundo
Giorgia, descobriu que havia cocaína a bordo,
alarmado, tentou afundar o barco, e ela saltou ao mar
nadando até a praia em busca de socorro. Quem esteve no local do quase
naufrágio , pôde constatar que não houve nada disso. Um erro de navegação ou as
correntes fortes do estuário do Sergipe fizeram o veleiro embicar pelas águas rasas,
chegando a encalhar na praia, onde a
forte arrebentação impediu os dois tripulantes de se desfazerem da carga.
Quem navega pelo mundo não pode ter a ingenuidade
de supor que um desconhecido lhes confiaria um barco com uma
volumosa carga, valendo 15 milhões de dólares, para ser transportada de Salvador ao Caribe,
num longo e incerto percurso pelo mar, dependendo dos ventos, quando poderia,
simplesmente, despachá-la em
empresas aéreas ou marítimas que fazem o
transporte regular. A não ser que a carga fosse algo que teria de ficar bem
escondido.
A fantasiosa estória contada pelo
casal, os argumentos por mais hábeis que tenham sido alinhados pelo seu
advogado, não conseguem ocultar a evidencia
do crime, a quase certeza de que os dois italianos têm ligações com o
esquema internacional do tráfico de drogas. Mas eles foram soltos, saíram muito alegres, e talvez já estivessem a se preparar para uma nova aventura.
Iriam encontrar um outro ¨Enrico ¨, dono de
outro veleiro que teria de ser levado a algum
outro local, de preferencia onde a vigilância seja feita com menos
rigor, como por exemplo, certas ilhas do Caribe, mas, sem que o Enrico nada lhes informasse,, para
que eles, outra vez, desavisadamente,
transportassem nova carga, até valendo
muito mais do que aquela de 15 milhões de reais que foi perdida. Tentariam compensar o prejuízo. Este Enrico seria um
sujeito fantástico, confiaria a desconhecidos
uma carga de 15 milhões de reais, sem
que a eles pedisse sequer cuidados especiais com a fortuna a ser transportada.
Felizmente o barco encalhou,
e também evitou-se, aos olhos da sociedade, o naufrágio
da Justiça. Os atentos procuradores
federais Eduardo Pallela e Rômulo
Almeida, inconformados com a soltura dos italianos que levavam 300 quilos de
cocaína, enquanto apodrecem nos presídios
reles traficantes de maconha, entraram na Justiça com um pedido de
revogação da sentença que inocentou
os transportadores da droga, e o Juiz
Paulo Gadelha, do Tribunal
Federal da Quinta Região, determinou que
fossem apreendidos os passaportes de
Davide e Giorgia. Eles agora não podem deixar o país, e certamente serão
reconduzidos ao presídio de onde não deveriam ter sido libertados.
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