AS PALAVRAS OU AS AÇÕES PERFUNCTÓRIAS
Há palavras que nem deveriam existir na língua
portuguesa. São aquelas insólitas, que soam ríspidas, têm estranha grafia,
parecem doer aos ouvidos. Perfunctório é uma delas, que, quando usadas, nos
remetem rápido ao dicionário, ou melhor,
ao google, isso, quando
existe a curiosidade ou o interesse em
desbastar a ignorância. Se nos dedicarmos a pesquisar, encontraremos coisas
horrorosas na ¨última flor do Lácio¨, que até já abrigou, em priscas eras, este
horrendo nome próprio: Urraca. Houve
rainha lá pelo século XIV, que,
no recém inventado Portugal, carregava esse nome. Talvez fosse bela, mas quem
imaginaria uma possível formosura numa
mulher chamada Urraca ?
Não estaríamos sendo perfunctórios, tratando
de um assunto assim, tão superficialmente, sem
consistência, com despreocupação, quase mesmo entendendo que o comentário é sobretudo
irrelevante ?
Há casos assim, em que se pode, sem maiores consequências, agir de forma perfunctória. A arte da escrita leve, da crônica, consiste,
no trato perfunctório de questões sérias.
Um magistrado porem, jamais
poderia ter feito uma ¨ análise perfunctória dos autos ¨ como declarou , festejando
e querendo homenagear a atitude do Juiz, o advogado Manoel Cacho, que
defendeu os navegantes italianos.
Cometeu um ato falho, talvez, perdendo-se nas complicadas
armadilhas do português, o Dr. Cacho. Mas isso, um episódio meramente perfunctório, não retira do Dr. Emanoel a sua credibilidade, o seu conceito como
vitorioso causídico que agora representa Sergipe numa seleta comissão que
elabora propostas para a reforma dos códigos.
Ninguém está
gramaticalmente blindado contra erros, impropriedades. Aqui mesmo, neste texto, um gramático purista
poderá encontrá-los em profusão, a começar pelo emprego da vírgula. Se quiser
demonstrar que aplicou corretamente o seu perfunctório, bastará o advogado Manoel Cacho dizer que encontrou a
palavra exatamente com o sentido que a ela pretendeu dar ao elogiar o Juiz, em
algum texto de Machado de Assis, de Rui
Barbosa, de Camilo Castelo Branco, de
Almeida Garret, de Fernando Pessoa, e então, ninguém, perfunctoriamente,
ousaria dele duvidar.
Nos
idos da década dos anos 70, um candidato a vereador de Aracaju recebeu , de um jornalista, o texto de um discurso que ele deveria ler no programa
radiofônico dos partidos políticos. O jornalista não estava de muito bom humor,
e começou assim, a fala do
candidato: ¨ Eu, este mentecapto e energúmeno candidato que lhes fala, ¨..... e foi
por aí , lendo, e sem entender o que estava escrito. E o pior de tudo:
ninguém fez qualquer observação sobre a
¨ perfunctória¨ fala do candidato a vereador, que, por sinal, , até mereceria ser eleito.
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