domingo, 22 de julho de 2012

AS PALAVRAS OU AS AÇÕES PERFUNCTÓRIAS


 AS PALAVRAS OU AS AÇÕES PERFUNCTÓRIAS

 Há palavras que nem deveriam existir na língua portuguesa. São aquelas insólitas, que soam ríspidas, têm estranha grafia, parecem doer aos ouvidos. Perfunctório é uma delas, que, quando usadas, nos remetem rápido ao dicionário, ou melhor,  ao google,  isso, quando existe  a curiosidade ou o interesse em desbastar a ignorância. Se nos dedicarmos a pesquisar, encontraremos coisas horrorosas na ¨última flor do Lácio¨,  que até já abrigou, em priscas eras, este horrendo nome próprio: Urraca. Houve  rainha lá pelo século  XIV, que, no recém inventado Portugal, carregava esse nome. Talvez fosse bela, mas quem imaginaria  uma possível formosura numa mulher chamada Urraca ? 
 Não estaríamos sendo perfunctórios, tratando de um assunto assim, tão superficialmente, sem  consistência, com despreocupação, quase mesmo  entendendo que o comentário é sobretudo irrelevante ? 
Há casos assim,  em que se pode, sem maiores consequências,  agir de forma perfunctória.  A arte da escrita leve, da crônica, consiste,   no trato perfunctório de  questões sérias.
Um magistrado porem, jamais poderia ter feito uma  ¨ análise  perfunctória dos autos ¨ como declarou ,  festejando  e querendo homenagear a atitude do Juiz, o advogado Manoel Cacho, que defendeu os  navegantes italianos.
 Cometeu um ato falho,  talvez,  perdendo-se nas  complicadas  armadilhas do português,   o Dr. Cacho. Mas isso,  um episódio meramente perfunctório,  não retira do Dr.  Emanoel  a sua credibilidade, o seu conceito como vitorioso causídico que agora representa Sergipe numa seleta comissão que elabora propostas para a reforma dos códigos.  Ninguém    está gramaticalmente blindado contra erros, impropriedades.  Aqui mesmo, neste texto, um gramático purista poderá encontrá-los em profusão, a começar pelo emprego da vírgula.  Se quiser  demonstrar que aplicou corretamente o seu perfunctório, bastará  o advogado Manoel Cacho dizer que encontrou a palavra exatamente com o sentido que a ela pretendeu dar ao elogiar o Juiz, em algum texto de  Machado de Assis, de Rui Barbosa, de Camilo Castelo  Branco, de Almeida Garret, de Fernando Pessoa, e então, ninguém, perfunctoriamente, ousaria dele duvidar.
  Nos idos da década dos anos 70, um candidato a vereador  de Aracaju recebeu , de um jornalista,  o texto de um  discurso que ele deveria ler no programa radiofônico dos partidos políticos. O jornalista não estava de muito bom humor,  e começou  assim,  a fala do  candidato: ¨ Eu, este mentecapto e energúmeno  candidato que lhes fala, ¨.....  e foi  por aí , lendo, e sem entender o que estava escrito. E o pior de tudo: ninguém  fez qualquer observação sobre a ¨ perfunctória¨ fala do candidato a vereador, que, por sinal, ,  até mereceria ser  eleito.

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