sábado, 2 de junho de 2012

FICOU VELHO? JOGA FORA


FICOU VELHO? JOGA FORA
Em tempos áureos,  agora distantes,   quando a Igreja Católica comandada em Sergipe por Dom Vicente Távora  fazia uma revolução educacional, criando o MEB, Movimento de Educação de Base, que colocou milhares de pessoas sendo alfabetizadas  ouvindo rádios sintonizados na Cultura, emissora recém inaugurada  também por Dom Távora, naqueles tempos movimentados e criativos, um jovem  padre circulava pelas ruas de Aracaju montado numa bicicleta indo celebrar missas e dar aulas magistrais nos cursos superiores que ele criara.  Era o padre Luciano Cabral Duarte, hoje Arcebispo Emérito de Aracaju. Naqueles dias frenéticos de esperanças e renovação,  um  outro jovem padre assumiu a direção do Colégio Arquidiocesano de Aracaju.   O Arquidiocesano não passava de um velho e maltratado prédio no meio de uma ampla área onde  havia, também, um campo de futebol um tanto desmazelado, como o restante do  desgracioso conjunto. Os alunos eram poucos, até porque o Colégio não se destacava pela excelência no ensino.
 O jovem padre é o  agora octogenário monsenhor Carvalho  surpreendido com a comunicação de que, estando velho, tendo ultrapassado  um inexistente limite de idade,  deixaria a direção do Arqui.
Um dia, é evidente, todos os que se tornam longevos terão de chegar à aposentadoria, sendo ela compulsória ou voluntária,  quando, sem as regras estabelecidas para o serviço público, o idoso vier a reconhecer que já lhe faltam forças e até discernimento para que possa exercer a contento as suas funções. Na Corte Suprema dos Estados Unidos, os magistrados ultrapassam folgadamente o limite dos setenta anos aqui vigente, e que fará em novembro próximo com que a lúcida inteligência e a força moral de um Carlos Britto, cessem o seu contributo à Justiça brasileira. Nos Estados Unidos os membros da Suprema Corte podem até chegar aos noventa, ou mais, desde que se considerem aptos para o exercício das suas atribuições. O   monsenhor  Carvalho   continuava firme e forte a comandar e a transformar o Arquidiocesano numa   cada vez mais valiosa referencia para a educação em Sergipe.  A formidável obra que realizou o fez admirado e querido, e todos sentiram, com pesar,  alguns com muita indignação, o abrupto afastamento anunciado como irrevogável sentença .   Muitos pais ameaçaram retirar os seus filhos do Arqui, ex-alunos protestaram, e criou-se uma situação em que até os ânimos do sempre cordial,   gentil e cordato Dom Henrique se exacerbaram, tendo ele usado uma expressão dura dirigida ao ex-deputado João Fontes, até bem pouco tempo um dos carolas mais prestigiados pelos hierarcas da Igreja em Sergipe,  que aliás muito o ajudaram a eleger-se.   Ser agora chamado  pelo bispo auxiliar de ¨aquele safado¨,  deve ter sido perturbador para quem aprendeu, desde a infância, a reverenciar  batinas , e, mais ainda, os anéis episcopais.
Mas o episodio  já foi superado. De nada adiantará  agora remoer ressentimentos nem recriminar a atitude do bispo. Apesar das suas vestes talares  Dom Henrique é um ser humano como qualquer outro, sujeito às emoções e até a eventuais  destemperos. ¨Aquele safado ¨ , foi apenas uma  impropriedade  semântica, que em nada deslustra, nem o bispo, nem  ¨aquele safado ¨ ,  ou melhor, o advogado e empresário João Fontes, que, evidentemente, não merece tratamento tão injusto. Deixando-se de lado  ¨aquele safado ¨, a expressão, evidentemente, não o ex-deputado, o essencial é que o diálogo  foi retomado, todos, com animo conciliador, e a conversa com Dom  Lessa e Dom Henrique evoluiu para um possível entendimento.  Então, para o bem de todos e felicidade geral do Arquidiocesano, o operoso e dedicado monsenhor Carvalho  vai permanecer tranquilo a fazer o que ele mais gosta, que é, exatamente, administrar o colégio,   assistir o sucesso dos seus alunos,  comemorar as suas aprovações,  suas boas performances nas competições esportivas nas quais o Arqui sempre se destaca. E quanto  ao ¨aquele safado ¨, João Fontes, claro, entende que foi um momento infeliz do bispo, mas ele, sem  duvidas, estaria a merecer um pedido de desculpas que poderá ser feito  discretamente, apenas para apascentar  uma ovelha do numeroso rebanho eclesial ainda não desgarrada,  apesar do eventual desentendimento.

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