FICOU VELHO? JOGA FORA
Em tempos áureos, agora distantes, quando a Igreja Católica comandada em
Sergipe por Dom Vicente Távora fazia uma
revolução educacional, criando o MEB, Movimento de Educação de Base, que
colocou milhares de pessoas sendo alfabetizadas
ouvindo rádios sintonizados na Cultura, emissora recém inaugurada também por Dom Távora, naqueles tempos
movimentados e criativos, um jovem padre
circulava pelas ruas de Aracaju montado numa bicicleta indo celebrar missas e
dar aulas magistrais nos cursos superiores que ele criara. Era o padre Luciano Cabral Duarte, hoje Arcebispo
Emérito de Aracaju. Naqueles dias frenéticos de esperanças e renovação, um
outro jovem padre assumiu a direção do Colégio Arquidiocesano de
Aracaju. O Arquidiocesano não passava
de um velho e maltratado prédio no meio de uma ampla área onde havia, também, um campo de futebol um tanto
desmazelado, como o restante do
desgracioso conjunto. Os alunos eram poucos, até porque o Colégio não se
destacava pela excelência no ensino.
O jovem padre é o agora octogenário monsenhor Carvalho surpreendido com a comunicação de que,
estando velho, tendo ultrapassado um
inexistente limite de idade, deixaria a
direção do Arqui.
Um dia, é evidente, todos os que se
tornam longevos terão de chegar à aposentadoria, sendo ela compulsória ou
voluntária, quando, sem as regras
estabelecidas para o serviço público, o idoso vier a reconhecer que já lhe
faltam forças e até discernimento para que possa exercer a contento as suas
funções. Na Corte Suprema dos Estados Unidos, os magistrados ultrapassam
folgadamente o limite dos setenta anos aqui vigente, e que fará em novembro
próximo com que a lúcida inteligência e a força moral de um Carlos Britto,
cessem o seu contributo à Justiça brasileira. Nos Estados Unidos os membros da
Suprema Corte podem até chegar aos noventa, ou mais, desde que se considerem
aptos para o exercício das suas atribuições. O monsenhor
Carvalho continuava firme e forte a comandar e a
transformar o Arquidiocesano numa cada vez mais valiosa referencia para a
educação em Sergipe. A formidável obra
que realizou o fez admirado e querido, e todos sentiram, com pesar, alguns com muita indignação, o abrupto
afastamento anunciado como irrevogável sentença . Muitos
pais ameaçaram retirar os seus filhos do Arqui, ex-alunos protestaram, e
criou-se uma situação em que até os ânimos do sempre cordial, gentil e cordato Dom Henrique se
exacerbaram, tendo ele usado uma expressão dura dirigida ao ex-deputado João
Fontes, até bem pouco tempo um dos carolas mais prestigiados pelos hierarcas da
Igreja em Sergipe, que aliás muito o
ajudaram a eleger-se. Ser agora chamado pelo bispo auxiliar de ¨aquele safado¨, deve ter sido perturbador para quem aprendeu,
desde a infância, a reverenciar batinas ,
e, mais ainda, os anéis episcopais.
Mas o episodio já foi superado. De nada adiantará agora remoer ressentimentos nem recriminar a
atitude do bispo. Apesar das suas vestes talares Dom Henrique é um ser humano como qualquer
outro, sujeito às emoções e até a eventuais
destemperos. ¨Aquele safado ¨ , foi apenas uma impropriedade
semântica, que em nada deslustra, nem o bispo, nem ¨aquele safado ¨ , ou melhor, o advogado e empresário João
Fontes, que, evidentemente, não merece tratamento tão injusto. Deixando-se de
lado ¨aquele safado ¨, a expressão,
evidentemente, não o ex-deputado, o essencial é que o diálogo foi retomado, todos, com animo conciliador, e
a conversa com Dom Lessa e Dom Henrique
evoluiu para um possível entendimento.
Então, para o bem de todos e felicidade geral do Arquidiocesano, o
operoso e dedicado monsenhor Carvalho
vai permanecer tranquilo a fazer o que ele mais gosta, que é,
exatamente, administrar o colégio,
assistir o sucesso dos seus alunos,
comemorar as suas aprovações,
suas boas performances nas competições esportivas nas quais o Arqui
sempre se destaca. E quanto ao ¨aquele
safado ¨, João Fontes, claro, entende que foi um momento infeliz do bispo, mas
ele, sem duvidas, estaria a merecer um
pedido de desculpas que poderá ser feito
discretamente, apenas para apascentar
uma ovelha do numeroso rebanho eclesial ainda não desgarrada, apesar do eventual desentendimento.
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