quinta-feira, 31 de maio de 2012

O SAPATO DE ZÉ PEIXE

O SAPATO DE ZÉ PEIXE

 Zé  Peixe,  o homem do mar que faleceu ha um mês, era  um personagem com vida repleta de atos de heroísmo, e também um perfeito asceta. Não tinha vícios, nunca fumou, nunca bebeu, alimentava-se frugalmente, não tomava banho com água doce, e vestia noite e dia um calção raramente usando camisa, mesmo quando fazia a praticagem  de navios na arriscada barra de Aracaju.  Zé Peixe teve um casamento longo, de muita afinidade e amor, que durou até a morte da esposa, mas  o casal, há quem garanta  dele ter ouvido, nunca fez sexo.  As energias ele guardava para suas ousadas  aventuras pelo mar, onde por vezes permanecia  dez a vinte horas nadando, ou boiando para descansar ao sabor das ondas.  A única vez em que o nosso homem do mar calçou sapatos  e vestiu um terno foi para ir a uma solenidade na Marinha do Brasil  quando recebeu uma destacada condecoração.
 Zezinho Guimarães, hoje deputado estadual,  de quem a esposa de Zé Peixe era sobrinha, sabendo que ele se recusava a vestir terno e gravata e calçar sapatos, foi convencê-lo a usar a roupa protocolar, pelo menos durante a cerimônia. Zé Peixe terminou aquiescendo, sem disfarçar o constrangimento,  e com dificuldade  vestiu o terno e colocou nos pés  um sapato preto de cromo alemão que Zezinho lhe deu de presente. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário