O REI E O ELEFANTE
Juan Carlos, rei de Espanha, nem precisaria buscar nas selvas de Botswana um troféu de caça, talvez, para idiotamente exibi-lo em seu gabinete de trabalho. Seriam certamente as enormes presas , puro marfim, dos elefantes que ele às escondidas foi abater nos confins africanos. Coisa estranha para um experimentado monarca, Chefe de Estado constitucional, até elogiado pelo seu comportamento sóbrio e distante das pompas e dos vícios arraigados nas monarquias. Juan Carlos poderia ter deixado em paz os elefantes, num dos poucos países que ainda permitem a caça do enorme bicho que anda em vias de extinção. Ele tem a seu crédito uma façanha bem maior, quando matou o leão agressivo do fascismo ao sufocar a rebelião militar contra o regime democrático que se iniciava, após o fim do soturno ditador Francisco Bahamonde Franco, que apodreceu em vida cercado de bajuladores e dos fantasmas daqueles infelizes que ele mandou executar no garrote vil, um instrumento de tortura saído das masmorras da Idade Média. O então jovem rei envergou seu uniforme de general, foi à televisão, e na qualidade de comandante supremo das forças armadas espanholas ordenou aos insurretos que depusessem as armas. Foi obedecido, e só por esse gesto se faria para sempre merecedor do respeito e da gratidão da parcela majoritária dos democratas espanhóis.
Mas o rei, aos 74 anos, uma idade em que não mais se permitem os erros juvenis, resolveu ir atirar em elefantes. Voltaria tranquilo e incógnito da sua infeliz e desastrada expedição cinegética, não fosse o imprevisto de uma queda e o trauma que exigiu uma cirurgia. Assim, desvendou-se o deplorável segredo do rei, que é, por sinal, dirigente de uma ONG ambientalista. Os espanhóis vítimas da associação da imprevidência dos governos com a anarquia financeira global, estão atolados na desesperança do desemprego, deixando o país sem perspectivas para o futuro, e ficam sabendo que o monarca, indiferente à crise, foi caçar elefantes, uma aventura sem dúvidas menos sanguinolenta do que outras que no passado os espanhóis fizeram para a conquista de colônias no Marrocos e em outras terras do norte africano, mas, que em tempos de escassez, representa um baque desnecessário e irresponsável de mais de 100 mil euros nos exauridos cofres da nação. Isso, a depender da quantidade de elefantes abatidos.
O rei agora vai envergonhadamente à televisão pedir desculpas, confessar publicamente que errou. As lamúrias do rei fortalecem a ideia de que as monarquias, sejam elas quais forem, servindo apenas ao merchandising institucional, como é o caso da inglesa, ou até politicamente operacionais, como a espanhola, são um anacronismo inconcebível, sempre a reviver a sepultada ideia de um privilégio concedido por Deus para que a classe especial, os portadores de sangue azul, se coloquem bem acima das gentes comuns, e se façam, para sempre, herdeiros sucessivos do poder. Com o passar das gerações, os casamentos consanguíneos, nas personalidades formadas em círculos fechados dos aristocratas, parece ocorrer uma degradação genética e psicológica que faz da realeza uma classe de protocolares alienados.
Juan Carlos, rei de Espanha, nem precisaria buscar nas selvas de Botswana um troféu de caça, talvez, para idiotamente exibi-lo em seu gabinete de trabalho. Seriam certamente as enormes presas , puro marfim, dos elefantes que ele às escondidas foi abater nos confins africanos. Coisa estranha para um experimentado monarca, Chefe de Estado constitucional, até elogiado pelo seu comportamento sóbrio e distante das pompas e dos vícios arraigados nas monarquias. Juan Carlos poderia ter deixado em paz os elefantes, num dos poucos países que ainda permitem a caça do enorme bicho que anda em vias de extinção. Ele tem a seu crédito uma façanha bem maior, quando matou o leão agressivo do fascismo ao sufocar a rebelião militar contra o regime democrático que se iniciava, após o fim do soturno ditador Francisco Bahamonde Franco, que apodreceu em vida cercado de bajuladores e dos fantasmas daqueles infelizes que ele mandou executar no garrote vil, um instrumento de tortura saído das masmorras da Idade Média. O então jovem rei envergou seu uniforme de general, foi à televisão, e na qualidade de comandante supremo das forças armadas espanholas ordenou aos insurretos que depusessem as armas. Foi obedecido, e só por esse gesto se faria para sempre merecedor do respeito e da gratidão da parcela majoritária dos democratas espanhóis.
Mas o rei, aos 74 anos, uma idade em que não mais se permitem os erros juvenis, resolveu ir atirar em elefantes. Voltaria tranquilo e incógnito da sua infeliz e desastrada expedição cinegética, não fosse o imprevisto de uma queda e o trauma que exigiu uma cirurgia. Assim, desvendou-se o deplorável segredo do rei, que é, por sinal, dirigente de uma ONG ambientalista. Os espanhóis vítimas da associação da imprevidência dos governos com a anarquia financeira global, estão atolados na desesperança do desemprego, deixando o país sem perspectivas para o futuro, e ficam sabendo que o monarca, indiferente à crise, foi caçar elefantes, uma aventura sem dúvidas menos sanguinolenta do que outras que no passado os espanhóis fizeram para a conquista de colônias no Marrocos e em outras terras do norte africano, mas, que em tempos de escassez, representa um baque desnecessário e irresponsável de mais de 100 mil euros nos exauridos cofres da nação. Isso, a depender da quantidade de elefantes abatidos.
O rei agora vai envergonhadamente à televisão pedir desculpas, confessar publicamente que errou. As lamúrias do rei fortalecem a ideia de que as monarquias, sejam elas quais forem, servindo apenas ao merchandising institucional, como é o caso da inglesa, ou até politicamente operacionais, como a espanhola, são um anacronismo inconcebível, sempre a reviver a sepultada ideia de um privilégio concedido por Deus para que a classe especial, os portadores de sangue azul, se coloquem bem acima das gentes comuns, e se façam, para sempre, herdeiros sucessivos do poder. Com o passar das gerações, os casamentos consanguíneos, nas personalidades formadas em círculos fechados dos aristocratas, parece ocorrer uma degradação genética e psicológica que faz da realeza uma classe de protocolares alienados.
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